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Em depoimentos ao MPF, corretor denuncia que PT usou fundos de estatais na arrecadação do mensalão
16/03/2010 - Fábio Fabrini e Carolina Brígido - G1

Numa série de depoimentos que vinham sendo mantidos em sigilo pelo Ministério Público Federal, o corretor do mercado financeiro Lúcio Funaro denunciou suposto esquema de arrecadação de recursos para o PT, em transações suspeitas com fundos de previdência de empresas estatais. Entre os principais acusados por Funaro estão o ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu, o ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno, o atual tesoureiro do partido, João Vaccari, e até o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT).

Funaro, que passou a ser considerado testemunha-chave do mensalão do PT, recebeu o benefício da delação premiada. A Procuradoria Geral da República concordou em suspender as acusações contra ele em troca da colaboração nas investigações.

Os primeiros depoimentos foram prestados por Funaro entre novembro de 2005 e março de 2006. Neles, ele detalhou como funcionavam o pagamento do mensalão do PT ao Partido Liberal (PL), comandado na época pelo então deputado federal Valdemar Costa Neto. Funaro também levantou suspeitas contra o deputado do DEM Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), que investigava empresas do economista na época da CPI dos Correios.


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Pagamento de meio milhão "por fora" iria para Dirceu ou para o PT

Os depoimentos foram incluídos no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o mensalão. Segundo Funaro, havia desvios contínuos de dinheiro nos fundos de estatais. Um dos beneficiados seria Dirceu, que nega. Funaro cita negociações feitas pela Fundação Portus, dos trabalhadores portuários, que, segundo ele, podem ter rendido R$ 5,5 milhões em propina.

Num dos depoimentos, prestado em 16 de novembro de 2005, Funaro diz que a fundação vendeu participação num shopping em Blumenau (SC). Na transação, teria sido feito um "pagamento por fora" de R$ 500 mil. Funaro diz que não sabia, ao certo, se o dinheiro iria para as mãos de Dirceu ou para os cofres do PT. Segundo ele, a venda não seria vantajosa para a Portus, pois as finanças do shopping estariam em curva ascendente. Foi paga apenas uma entrada; as demais parcelas seriam custeadas pelos dividendos das cotas do shopping, repassadas ao comprador.

O próprio Funaro disse ter se interessado pela transação inicialmente, mas desistiu quando soube da necessidade do pagamento de propina. Ele acrescentou no depoimento que a ligação de Dirceu com a Portus era estreita: o próprio ministro teria nomeado a direção da entidade.

No decorrer de 2004, ano de eleições municipais, um imóvel da Portus em Joinville foi vendido e teria rendido outros R$ 5 milhões. Funaro disse no depoimento que a operação teria rendido pagamento de propina, mas não menciona o nome do beneficiado. Ele apenas dá a entender que o dinheiro "por fora" também seria para abastecer o PT. O GLOBO entrou em contato com a Fundação Portus nesta segunda-feira, mas um funcionário informou que o expediente da empresa tinha terminado às 17h.

Desvios teriam abastecido campanha de Lindberg em Nova Iguaçu

Outro beneficiado por supostos desvios seria Lindberg Farias. Segundo Funaro, na campanha de 2004, o então secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno, teria operado desvios da Fundação Núcleos, da Eletronuclear, para abastecer a campanha de Lindberg. "Tem conhecimento que todas as operações da Fundação Núcleos eram comandadas pelo Sr. Marcelo Sereno, com o objetivo de lesar o fundo e financiar a campanha do deputado Lindberg Farias à eleição da prefeitura de Nova Iguaçu", relatou Funaro. Mas ele não citou valores ou detalhes da suposta irregularidade.

Funaro sugeriu que o Ministério Público investigue a empresa ASM Asset, que teria feito negócios com fundações ligadas ao PT e chefiadas por João Vaccari que, segundo o depoente, era "preposto de José Dirceu e Delúbio Soares" (ex-tesoureiro do PT).

O corretor também levantou suspeita sobre a atuação de José Mentor (PT-SP) na relatoria da CPI do Banestado, em 2004. Segundo Funaro, o deputado teria recebido dinheiro para excluir do relatório final da comissão nomes ligados ao Banco Rural e ao PT, para quem Marcos Valério de Souza, apontado como operador do mensalão, atuaria como lobista na comissão.

Nos depoimentos, Funaro também afirmou que foi pressionado por ACM Neto, na época subrelator do esquema de fundos de pensão na CPI dos Correios, para entregar documentos que incriminavam o banqueiro Daniel Dantas. Por meio de interlocutores, o parlamentar teria prometido a Funaro que, em troca dos documentos, ele e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) não vazariam à imprensa informações que o prejudicassem nas investigações.

Os papéis na mira da CPI mostrariam a movimentação financeira do Opportunity Fund nas Ilhas Cayman. Funaro entregou esses documentos ao MPF no dia do depoimento.

  

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