Tuma Júnior é afastado por 30 dias 12/05/2010
- Vera Rosa, Rafael Moraes Moura e Carol Pires - O Estado de S.Paulo
O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, decidiu na madrugada de ontem afastar por 30 dias o delegado Romeu Tuma Júnior do comando da Secretaria Nacional de Justiça. Informalmente, em conversas mantidas na tarde de ontem, o secretário disse que decidiu só "tirar férias" para se defender.
O secretário deixa o cargo uma semana após o Estado revelar suas ligações com Li Kwok Kwen, o Paulo Li, um dos líderes da máfia chinesa que está preso. A PF tem indícios que tornam Tuma Jr. suspeito de "tráfico de influência" e de "crimes contra administração pública".
Tuma Jr. disse ontem que está "babando" de vontade de depor ao Comissão de Ética Pública, mas ainda não marcou a data. Ele poderia fazer a defesa por escrito, mas adiantou que pretende conversar com o colegiado pessoalmente para, segundo ele, esclarecer todas as dúvidas.
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Depois de relato minucioso da PF sobre os indícios acumulados contra Tuma Jr. e os assessores Paulo Mello e Luciano Barbosa, coletados ao longo de quatro operações -- Persona (2007), Trovão (2008), Wei Jin (2009) e Linha Cruzada (2009) --, o Planalto abandonou politicamente o delegado.
Mais dois. Braço-direito do secretario, Mello foi exonerado do cargo de assessor especial e devolvido à PF. Chefe do Departamento de Estrangeiros, Luciano Pestana Barbosa também foi afastado por 30 dias.
Em uma série de reuniões na noite de segunda e madrugada de terça-feria, véspera do anúncio do seu afastamento, o governo combinou o script das "férias" com Tuma Jr. Apesar do discurso de que não pode condenar ninguém a priori, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esperava que Tuma Jr. tomasse a iniciativa de deixar o cargo, o que não ocorreu. Pior: o secretário resistiu a sair, sob alegação de que não cometeu nenhum crime.
A solução encontrada pelo Palácio do Planalto foi a da licença. O ministro Barreto convenceu Tuma Jr. de que, se nada ficar provado no inquérito da PF, a retomada de suas funções está assegurada. Na prática, a expectativa do governo é que ele não volte ao cargo.
No diagnóstico do Planalto, a manutenção de Tuma Jr. -- depois que a PF admitiu em nota "diversos indícios" sobre o envolvimento do secretário com a máfia chinesa e até a tentativa de relaxar a apreensão de US$ 160 mil, no aeroporto de Cumbica --, poderia não apenas atingir o governo como respingar na campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT).
O cuidado para negociar a saída foi político. Motivo: Tuma Jr. é filho de Romeu Tuma (SP), ex-diretor-geral da PF e senador do PTB, partido dividido no apoio a Dilma e ao candidato do PSDB, José Serra. O governo fez de tudo para não melindrar o aliado.
Na TV. Até a entrevista de Tuma Jr. ao programa Brasil Urgente, de José Luiz Datena, ontem à tarde, foi combinada com auxiliares de Lula. O chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, passou o dia de ontem e a segunda-feira em reuniões. O ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi consultado. A entrevista a Datena foi acertada previamente porque Tuma Jr. pediu ao governo um espaço para se defender. E achou que isso só seria possível num programa popular, sem questionamentos.
Para evitar a crise, Barreto tentou que a PF atestasse a inocência de Tuma Jr., sem conseguir. A PF divulgou nota afirmando que só depende de autorização judicial para apurar a prática, "em tese, de crime contra a administração pública". O teor da nota foi discutido desde a semana passada com Barreto, em reuniões tensas.
A saída de Tuma Jr. começou a ser negociada anteontem, num encontro que durou três horas, das 20h50 às 23h50, com Barreto. Depois, das 23h50 à 1h45, na madrugada de terça, Tuma Jr. reuniu-se com assessores. Ao sair, perto das 2 horas, o secretário já não garantiu que continuaria no cargo. "Vamos trabalhar, tem muito ladrão para a gente prender", disse, caminhando pelos corredores do ministério. "Estou trabalhando, crime organizado não tem hora. Eles não descansam, a gente também não pode descansar. Estamos trabalhando."