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"Legado do governo Lula é triste e comprometedor"
14/12/2010 - Bruno Pontes e Rodolfo Oliveira - O Estado de S.Paulo

“Sob o aspecto moral, o legado do governo Lula é muito triste e comprometedor. Nunca se viu tanto escândalo na área administrativaâ€, lamenta o jornalista e advogado cearense Themístocles de Castro e Silva, 81, veterano comentarista da política nacional.

Nesta entrevista ao jornal O Estado, realizada na Associação dos Ex-Deputados Estaduais do Ceará, da qual ele é vice-presidente, Themístocles faz críticas à atuação de Lula na presidência da República e afirma que a gestão da petista Dilma Rousseff será “a segunda via, em papel carbono, do governo de seu patrono, apenas para trazê-lo de volta ao poderâ€.

O jornalista classifica a atuação parlamentar dos dias correntes como “a pior fase do Congresso Nacional, com parlamentares comprometendo-se com o governo em troca de dinheiroâ€. Quanto à oposição ao governo federal, Themístocles ressalta que “ela nunca existiu, a não ser em nível muito fraco no Senado†e que “com uma oposição firme, muitos escândalos poderiam ter sido evitadosâ€. Para ele, o AI-5 “ainda hoje faz falta na vida política brasileiraâ€.


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Como analisa a vitória de Dilma Rousseff?

- Distribuindo dinheiro, com a máquina do governo na mão e um adversário antipático, qualquer um seria eleito. O que se estranha é que o presidente Lula tenha escolhido uma pessoa sem qualquer experiência política, a não ser na atividade clandestina, que lhe rendeu alguns anos de cadeia.

Como julga que será o novo governo?

- Será a segunda via, em papel carbono, do governo de seu patrono, sem planejamento para o desenvolvimento do País, mas apenas com objetivos eleitorais, para trazê-lo de volta ao poder. As escolhas para o Ministério de Dilma Rousseff mostram isso claramente. A coisa, porém, não será tão fácil, pois o vice Michel Temer não será nunca um José Alencar. Desta vez, o PMDB não aderiu e nem se vendeu. Ele ajudou a eleger a presidente, tendo, portanto, força de poder. E ninguém acredita que ele concorde em ser instrumento para a volta de Lula ao governo.

Qual o legado que o presidente Lula deixa ao País depois de oito anos no poder?

- Sob o aspecto moral, o legado é muito triste e comprometedor. Nunca se viu tanto escândalo na área administrativa, a começar pelo nefasto Mensalão, com altas figuras do governo respondendo a processo inclusive por formação de quadrilha. Os graves problemas nacionais, como saúde, educação, saneamento, segurança, agravaram-se no governo Lula. Os escândalos na Casa Civil são inéditos na vida pública brasileira, pois se trata de um órgão diretamente ligado ao presidente da República. Até agora, pelo menos, não se conhece nenhuma punição aos responsáveis pelos escândalos. E uma reedição do governo Lula o Brasil não suporta.

Qual a avaliação que faz da atuação parlamentar nos dias de hoje?

- Foi a pior fase do Congresso Nacional, com parlamentares comprometendo-se com o governo em troca de dinheiro ou coisa semelhante. Em certos momentos, teria sido melhor que o Congresso não existisse. Pela Constituição, ele é o fiscal dos atos do Executivo, tarefa que nunca exerceu na Era Lula, quando se tornou conivente com os desmandos do Executivo, com quase um terço de seus membros envolvidos em processos de corrupção.

O que pensa da oposição ao governo federal? Ela tem conseguido cumprir sua função a contento?

- No governo Lula, ela praticamente não existiu, a não ser em nível muito fraco no Senado Federal. Uma oposição bem coordenada serve mais ao governo do que muitos amigos que o apoiam em troca de favores e de verbas. Com uma oposição firma, muitos escândalos no governo Lula teriam sido evitados.

Por falar em oposição, a eleição deste ano para o Senado terminou com a derrota de Tasso Jereissati (PSDB) e a vitória de dois governistas, José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB).

- Houve um equívoco do Tasso. A eleição para o Senado é casada, como foi a do José Pimentel com o Eunício Oliveira. A eleição para governador é casada com a dos senadores. E o Tasso era sozinho. Uma semana antes da eleição foi que ele colocou um companheiro de chapa, Alexandre [Pereira, do PPS], que ninguém sabia quem era. Foi por isso que perdeu.

O que acha da dupla vencedora ao Senado pelo Ceará?

- Não é uma dupla de senadores pelo Ceará, é uma dupla de senadores do Lula. Ele mesmo dizia isso na propaganda. O Ceará não tem mais nenhum senador. Agora os três são do Lula. O Inácio Arruda (PC do B) sabotou a comissão de inquérito sobre as ONGs, uma das mais escandalosas da República. A CPI foi arquivada. Quem roubou, roubou, acabou. [Inácio foi relator da comissão, encerrada no fim de outubro passado, depois de três anos de funcionamento. O relatório final da CPI contém 1.478 páginas e não sugere nem aponta culpados por repasses ilegais do governo às chamadas Organizações Não Governamentais].

Como vê o triunfo político de figuras do tipo de Dilma Rousseff, José Dirceu, Franklin Martins e outros, que atuaram na luta armada durante o regime militar?

- Tudo isso decorreu da benevolência dos governos militares, através de uma anistia apressada, inclusive a terroristas, que queriam para o Brasil um regime como o de Cuba, mas agora se vestem de democratas, de torturados, para efeito de indenização. Nada menos de quatro bilhões do contribuinte já foram distribuídos.

Acredita que o Brasil corre o risco de entrar em um regime semelhante ao de Hugo Chávez?

- Não acredito, mesmo porque as Forças Armadas estão, como é de seu dever, vigilantes em defesa do regime democrático. Os militares agiram em 64 porque o povo foi para a rua pedindo-lhes providências contra a ação comunista que ganhava corpo no governo Jango. Se a baderna voltar, eles voltarão novamente. Disso não tenham dúvidas. Não se constrói nem se mantém a democracia com badernas sindicais, MST e equivalentes.

O que pensa das investidas do presidente Lula contra o Tribunal de Contas da União e contra a imprensa?

- É a primeira vez que isso ocorre, pois a missão do Tribunal de Contas é defender a moral administrativa. O que sempre se viu no Brasil, até então, foi o apoio amplo do Executivo às medidas do Tribunal. A Nação ainda hoje não entende por que o Executivo nega aplausos e medidas preservando o dinheiro público. Depois da campanha, porém, toma-se conhecimento de que as construtoras foram o principal instrumento de financiamento da campanha do PT, atingindo dezenas de milhões de reais. Não entra na cabeça de ninguém que uma empresa faça doações tão vultosas a candidatos sem uma compensação futura. A reforma eleitoral é medida que se impõe em nome da seriedade dos pleitos eleitorais. Não é democrático empresas financiarem campanha em troca de vantagens, principalmente ao arrepio das normas legais e morais. Quanto à imprensa, o presidente tem sido simplesmente um ingrato, pois até hoje nenhum presidente teve tanta cobertura, inclusive para os seus improvisos eleitorais quase diários.

O senhor é uma voz destoante na imprensa política, sobretudo quando defende o regime militar. Acha que a esquerda domina as redações dos jornais?

- Não acho que ela domine. É um problema de geração. Quem deu o nome de Revolução ao Movimento de 64 foi “O Globoâ€, que hoje só o chama de ditadura. Todos os jornais, inclusive a Igreja, aplaudiram o 31 de março. A Nação não podia admitir a injúria jogada contra as Forças Armadas pelo deputado Márcio Moreira Alves, que, do alto de sua irresponsabilidade, disse que os quartéis eram “valhacoutos de gangstersâ€. A Câmara dos Deputados, endossando a infâmia, negou o pedido do governo para processar o parlamentar, nos termos da Constituição. Daí o revigoramento de dezembro de 68, com a decretação do AI-5, que ainda hoje faz falta na vida política brasileira. Com ele, passaram a chamar o Movimento de março de 64 de ditadura, esquecendo-se de que a de Getúlio foi uma das melhores fases do País, principalmente para os trabalhadores, como o regime militar, que os amparou e protegeu com o Funrural [Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, criado em 1971], a obra social mais importante do Brasil até hoje, sem qualquer objetivo eleitoral, na insuspeitíssima opinião do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, responsável pelos programas dos quais nasceu o famoso Bolsa Família, que elegeu Dilma.

  

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