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DE ÚLTIMA!

Redução de danos
28/06/2011 - Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, comparece hoje ao Senado para falar sobre as acusações de que teria sido o mentor do chamado "dossiê dos aloprados" meio que por sua conta e risco.

Não há uma estratégia montada a partir do Palácio do Planalto nem, em princípio, disposição da bancada do PT de se comportar como tropa de choque. Os senadores estão prontos a defendê-lo, mas avisam que não será suficiente Mercadante recorrer a evasivas nem alegar que o ônus da prova é de quem acusa ou que a história é requentada.

"Estamos plenamente solidários, mas ele vai precisar ser consistente, contundente e, sobretudo, convincente na demonstração cabal das razões que o fizeram passar incólume por uma CPI e pelo crivo do Supremo", diz o senador Walter Pinheiro, um dos defensores da tese originalmente levantada por Lindberg Farias, de que a melhor maneira de enfrentar o problema é falar o quanto antes sobre ele.


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De preferência na Casa da qual Mercadante fez parte nos últimos oito anos e em ambiente menos acirrado que a Câmara, de onde surgiu o movimento para a reabertura das investigações na Procuradoria-Geral da República e no próprio Congresso.

A ideia de aproveitar um convite feito pela Comissão de Assuntos Econômicos para expor seus planos à frente da pasta e enfrentar logo os questionamentos a respeito da existência de gravações que comprovariam a participação de Mercadante na montagem de um dossiê contra seu então adversário na eleição ao governo de São Paulo (2006), José Serra, é uma óbvia tentativa do PT de esvaziar o movimento dos deputados da oposição.

Antes que o caso ressurja reforçado por fatos novos, ganhe pernas próprias, repita o desastre da estratégia de esconde-esconde recentemente adotada com Antônio Palocci e evolua para caminhos não desejados.

Por exemplo, para a convocação da ex-senadora Serys Slhessarenko e de outros personagens como o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, o dono das gravações, ou mesmo de integrantes do grupo preso num hotel em São Paulo com R$ 1,7 milhão para a compra do dossiê.

A preocupação maior, na realidade, é com Serys que, no dizer de um senador petista, está "com a faca nos dentes".

Não sem razão. O mesmo Expedito Veloso, cujas conversas gravadas apontam a responsabilidade de Mercadante no dossiê contra Serra, contou a ela que o ex-deputado Carlos Abicalil, também do PT, engendrou a montagem de um dossiê envolvendo a então senadora em fraudes do Ministério da Saúde e acabou com as pretensões dela de se eleger a governadora de Mato Grosso.

Além disso, Serys foi alvo de um processo de expulsão que acabou lhe rendendo suspensão de um ano do PT, por ter feito propaganda partidária na eleição de 2010 sem incluir o nome de Abicalil como candidato ao Senado.

O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, senador Delcídio Amaral, não recebeu recado algum do Palácio do Planalto sobre a audiência de hoje e do ministro Mercadante ouviu apenas o desejo de comparecer para se explicar e encerrar o episódio.

O líder do PSDB no senado, Ãlvaro Dias, no entanto, já avisa que a oposição detectou a manobra, não se satisfaz com o depoimento de Mercadante e vai insistir na Câmara em chamar Serys Slhessarenko, Expedito Veloso e a ministra Ideli Salvatti, agora incluída na história como a pessoa que à época, no Senado, ficaria encarregada de dar publicidade ao dossiê dos ditos "aloprados".

Agenda positiva. O PT informa: não há a menor possibilidade de a presidente Dilma Rousseff mudar de posição em relação ao sigilo eterno aos documentos oficiais classificados como ultrassecretos.

Ela continua apoiando a restrição do sigilo ao prazo máximo de 50 anos. E para deixar isso patente, o governo começou a trabalhar com a possibilidade de antecipar a votação da Lei de Acesso à Informação para do recesso parlamentar de julho.

A decisão é parte do esforço do governo de sair da defensiva e se pôr ao lado das, assim vistas, boas causas.




Relembre o escândalo*

No dia 15 de setembro de 2006, a apenas duas semanas do primeiro turno das eleições, integrantes do PT foram presos pela Polícia Federal em um hotel de São Paulo ao tentar comprar um dossiê contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tentando diminuir a importância do episódio, afirmou que aquilo era obra de "um bando de aloprados", expressão pela qual o caso é lembrado até hoje.

Foram presos em flagrante Valdebran Padilha que tinha US$ 109.800 mil e mais R$ 758 mil em dinheiro e Gedimar Passos, com US$ 139 mil e mais de R$ 400 mil em dinheiro. Ao todo, os dois tinham R$ 1,7 milhão. Valdebran era empresário e havia sido tesoureiro do PT em Mato Grosso em 2004. Gedimar, havia sido agente da PF e se apresentava como advogado do PT. O dinheiro seria usado para comprar um dossiê envolvendo Serra, ex-ministro da Saúde, no escândalo da Máfia dos Sanguessugas. O dossiê, que se revelou ser falso, seria vendido pelos empresários Darci Vedoin e seu filho, Luiz Antônio Vedoin, donos da empresa Planam, pivô do escândalo das sanguessugas.

Entre os petistas presos em flagrante, estavam integrantes da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, adversário direto de Serra na disputa, e pessoas próximas ao presidente Lula. Segundo apurou a Polícia Federal, os contatos entre os Vedoin e os integrantes do PT envolvidos no caso se iniciaram no dia 15 de agosto de 2006. No dia 14 de setembro, o "Correio Braziliense" denunciava o envolvimento de Serra com a Máfia das Sanguessugas. Serra negou participação no esquema e acusou o PT de fazer "baixaria". Entre a noite do dia 14 e madrugada do dia 15, foram presos Luiz Antônio Verdoin e seu primo, Paulo Roberto Trevisan - o primeiro em Cuiabá e o segundo em São Paulo. Ambos foram acusados de chantagem e ocultação de documentos. Em São Paulo, foram presos Vadebran e Gedimar.

Ainda no dia 15, circulou a revista IstoÉ com data de 20 de setembro, trazendo na capa a denúncia: "Os Vedoin acusam Serra". Em entrevista, eles diziam que 2002 foi o melhor ano para a Planam. Acusavam Barjas Negri, ex-secretário executivo e ministro sucessor de Serra no Ministério da Saúde, de agir para favorecer a empresa e afirmavam que o então candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, também estava envolvido. Apenas algumas horas depois da denúncia da Isto É, a propaganda política de Orestes Quércia (PMDB), que também disputava o governo de São Paulo, acusou Serra de envolvimento com o escândalo das sanguessugas. No dia 16, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, rebateu as acusações contra a sigla e dizia que o partido sempre rejeitou a produção ilegal de dossiês.

Os "aloprados"

Em seu depoimento à PF, no dia 17, Gedimar disse que foi contratado pelo PT para negociar com a família Vedoin a compra de um dossiê contra os tucanos, e que do pacote fazia parte entrevista acusando Serra de envolvimento na máfia. Ele disse ainda que seu contato no PT era alguém de nome "Froud ou Freud". Tratava-se de Freud Godoy, assessor especial de Lula. Ao Jornal Nacional no dia 18 de setembro, Godoy negou participação no episódio. Admitiu encontros com Gedimar, mas disse que eram apenas para tratar de assunto relacionados à segurança do comitê de Lula - a empresa de sua esposa tinha fazia a segurança do Diretório Nacional do PT em São Paulo. No mesmo dia, Lula exonerou Godoy.

Freud Godoy falou à PF no dia 18 e apontou mais um envolvido: Jorge Lorenzetti, "churrasqueiro" de Lula e um dos chefes do comitê de reeleição. Seria o mentor da operação. Atuava com Gedimar analista de risco e mídia. Segundo o site Contas Abertas revelou, a ONG Unitrabalho, ligada a Lorenzetti, recebeu R$ 18,5 milhões no governo Lula, 21 vezes mais do que durante os dois governos de FHC. No dia 20, Lorenzetti anunciou seu afastamento da campanha eleitoral e voltou a trabalhar no Banco do Estado de Santa Catarina (BESC), de onde foi exonerado no dia 28.

...

*Jair Stangler - estadão.com.br

  

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