Demóstenes pediu ajuda de Cachoeira para que amigo vencesse, no MT, licitação ligada à Copa 31/03/2012
- Josias de Souza - Folha de S.Paulo
Dia: 11 de abril de 2011. Hora: 16h33. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) toca o telefone para o contraventor Carlinhos Cachoeira. Plugado no aparelho do mercador de jogos ilegais, o aparelho de escuta da PolÃcia Federal foi acionado. O grampo captou um diálogo revelador.
Trazida à luz pelos repórteres Marcelo Rocha, Murilo Ramos e Andrei Meirelles, a conversa revelou que Demóstenes não se limitou a colocar seu mandato a serviço de Cachoeira. O tráfico de influência transitava por uma via de mão dupla. Dessa vez, era o senador quem pedia socorro ao contraventor.
Demóstenes disse a Cachoeira que uma “agência de publicidade†pertencente a “amigo nosso†estava interessada no “negócio bacanaâ€. Perguntou: “Cê acha que consegue?†E Cachoeira: “Uai, pode ser… Vou olhar isso agora. Se for interesse seu…†Mais adiante: “Não, eu acho que eu consigo.â€
Decorridos quatro minutos, a dupla trava novo diálogo telefônico. Demóstenes informa que vai à casa de Cachoeira. Queria conversar pessoalmente sobre a transação. Investigação da PF descobriria o porquê de tanto interesse. Estava em jogo uma licitação dividida em dois lotes –R$ 13 milhões cada um.
Mais tarde, noutro telefonema, Cachoeira tratou do mesmo assunto com Cláudio Abreu. Vem a ser o representante da empresa Delta Construções na região Centro-Oeste. “Pega uma [um dos lotes da licitação matogrossense] pra nósâ€, diz o bicheiro ao interlocutor.
Essa nova troca de ligações adiciona sujeira ao monturo que soterrou a reputação de Demóstenes. Conforme já noticiado, o senador servia-se do prestÃgio que amealhara para prestar serviços a Cachoeira no Judiciário, no Congresso e em escaninhos públicos como a Infraero, estatal que gere os aeroportos.
Sob holofotes, Demóstenes cobrava no Senado rigor da Anvisa na concessão de licenças de medicamentos. À sombra, revelam documentos internos da agência, pressionava a repartição para apressar a liberação de medicamentos da Vitapan de Cachoeira.
Diante de resistências da Anvisa, o senador envolveu-se pessoalmente no caso. Pediu audiência ao presidente da Anvisa, Dirceu Barbano. O encontro foi marcado para 22 de fevereiro de 2011. Barbano cuidou de explicitar em sua agenda, exposta no site da Anvisa, o propósito da conversa: “Processos da empresa Vitapanâ€.
Demóstenes não gostou da exposição. Absteve-se de comparecer ao encontro que solicitara. Dali a sete meses, em setembro de 2011, o senador pediu nova audiência ao mandachuva da Anvisa. Dessa vez, alegou que desejava tratar de outro assunto: um “protocolo de câncer da próstataâ€. Foi esse o tema explicitado na agenda.
Documento interno da Anvisa revelaria o que de fato interessava a Demóstenes: “3 processos da empresa Vitapan Indústria Farmacêutica Ltda. 1º 23351.004/99/2009-11 – 2º 25352. 75493/2011/98 – 3º 25351.004199/20009-11â€.