DE ÚLTIMA!
Para ganhar cargo, Vieira alegava que Anac era muito tucana
30/11/2012
- Ana Clara Costa - Veja Online
O contato do ex-diretor da AgĂȘncia Nacional de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira com Rosemary NĂłvoa de Noronha, a Rose, ex-chefe de gabinete da PresidĂȘncia da RepĂșblica em SĂŁo Paulo, ganhou mais força no inĂcio de 2009.
AtĂ© entĂŁo, a âprotegidaâ de Lula tinha um contato mais constante com o irmĂŁo de Rubens, Paulo â tido como chefe da quadrilha de venda de pareceres de ĂłrgĂŁos pĂșblicos, e que tambĂ©m estĂĄ preso.
Rubens estreitou laços com Rose para que ela o ajudasse a conseguir o cargo de diretor da Anac. Para isso, passou quase um ano prestando-lhe favores, como o custeio e a reforma do restaurante que ela estava abrindo, o Yatai, em São Paulo, e o divórcio de seu atual marido, João Vasconcelos.
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Em sua estratĂ©gia para pressionar a ex-chefe de gabinete, Rubens argumentava que na Anac havia âmuitosâ tucanos. Assim, ele, que se dizia petista, seria uma escolha melhor para alinhar o andamento da agĂȘncia aos interesses do governo.
Rubens Vieira era corregedor da agĂȘncia desde 2006, mas estava cobiçando a vaga de Ronaldo Seroa â diretor indicado pelo entĂŁo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e que, na Ă©poca, estava prestes a deixar o posto.
Segundo trechos do inquĂ©rito da Operação Porto Seguro, deflagrada pela PolĂcia Federal na Ășltima sexta-feira, ao qual VEJA teve acesso, Vieira encaminhou e-mail a Rose em janeiro de 2009, sete meses antes da saĂda de Seroa, descrevendo a si mesmo como o candidato ideal para a vaga de diretor.
Rose pediu seu currĂculo e alguns artigos publicados e ordenou que ele fosse a um evento onde o PR (sigla usada para se referir a Lula, o entĂŁo presidente da RepĂșblica) estaria.
âVou te (sic) colocar na lista VIP, aĂ vocĂȘ vai cumprimentĂĄ-lo, para que ele se lembre de vocĂȘâ, escreveu ela.
Em fevereiro, Rubens escreveu a Paulo dizendo que a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff havia afirmado ao ministro Jobim sua intenção de indicar alguém para o lugar de Seroa.
âTudo indica que Ă© desdobramento da nossa questĂŁoâ, respondeu Paulo, lançando a hipĂłtese de que a vontade de Dilma era resultado do pedido feito a Rose.
No e-mail, Paulo indicou vårios cenårios que ilustrariam a atitude da atual presidente. E, pensando mais além, disse que precisavam preparar a defesa de Rubens para a hipótese de ele ser associado ao infeliz parecer que deu ao diretor Josef Barat, permitindo que viajasse às custas da TAM para os Estados Unidos.
âPrecisamos estudar uma defesa, associar vocĂȘ ao PT (...), pois vocĂȘ nem filiado Ă©â, escreveu.
Nos meses seguintes, a cada novidade sobre uma possĂvel vaga na diretoria da Anac, Rubens escrevia ao irmĂŁo e a Rose â muitas vezes anexando reportagens que saĂam na imprensa sobre assuntos envolvendo os diretores.
Sempre que podia, Rubens os apelidava de âtucanosâ. Em abril, sem nenhuma resposta afirmativa de Rose sobre a indicação, escreveu a Paulo dizendo que Solange Vieira e o entĂŁo diretor da Anac â e atual presidente â Marcelo Guaranys iriam para Chile e AustrĂĄlia para visitar aeroportos. Depois, esticariam algumas semanas de fĂ©rias na Oceania, com suas respectivas famĂlias.
âQuem segura a Anac nesse perĂodo, acredite, Ă© o Waldin Rosa de Lima, um tucano. Ele foi o consultor financeiro da campanha do Geraldo Alckmin, atuando dentro da Nossa Caixa, onde tinha cargo de diretorâ, escreveu. Em resposta, Paulo disse: âMande isso para a Rose no e-mail do Hotmailâ.
Vestir a carapuça de petista para conquistar a confiança de Rose foi uma estratĂ©gia temporĂĄria. Depois de ser nomeado diretor da Anac, as atitudes de Rubens na agĂȘncia tinham muito pouca, ou nenhuma, influĂȘncia petista â a nĂŁo ser o carĂĄter de âtoma lĂĄ dĂĄ cĂĄâ de suas interlocuçÔes com Rose.
Quando se tratava de convicçÔes econĂŽmicas, Rubens mostrava-se tĂŁo liberal quanto os que ele criticava. âEle era atĂ© muito liberal e nĂŁo apreciava o intervencionismoâ, conta uma fonte ligada ao diretor que nĂŁo quis ter seu nome citado.
âNĂŁo havia qualquer vestĂgio da ideologia petista nele, a nĂŁo ser a prĂłpria indicação do governoâ, diz a fonte que trabalhou com Rubens na agĂȘncia.
Sem legado
Apesar dos amplos esforços para chegar Ă diretoria, Vieira nĂŁo deixou legado que mereça lembranças. NĂŁo colecionou amigos, nem pilotou grandes projetos. âEle sĂł participou da sessĂŁo do leilĂŁo do Aeroporto de SĂŁo Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, por mera burocracia e como executor. Nada naquele projeto de privatização teve as mĂŁos deleâ, afirma um tĂ©cnico que participou do projeto.
Em um movimento inteligente, Vieira manteve grande parte dos tĂ©cnicos da diretoria de Infraestrutura da Anac oriundos da gestĂŁo anterior (do diretor Alexandre Barros) justamente por desconhecer a complexidade do ofĂcio. AlĂ©m disso, Vieira nĂŁo podia fazer contrataçÔes para cargos tĂ©cnicos sem que houvesse a assinatura do diretor-presidente da agĂȘncia. âNĂŁo Ă© que ele seja ignorante. Ele, em alguns momentos, se esforçava para contribuir da melhor forma. Mas estava longe de ter o preparo necessĂĄrio para assumir aquele cargo. NĂŁo tinha mĂ©rito tĂ©cnicoâ, lembra um alto funcionĂĄrio da Anac.
No gabinete, o diretor tinha função de revisor: ou seja, levava para a votação da diretoria colegiada os pareceres sobre o que estava sendo executado em sua ĂĄrea. Por vezes, quando conversava com tĂ©cnicos sobre trabalho, se mostrava aĂ©reo e desinteressado â como se nĂŁo tivesse tempo (e vontade) de ouvir sobre o que se passava na agĂȘncia. Dava a impressĂŁo, segundo pessoas prĂłximas, de estar voltado para outros temas. E, nĂŁo raramente, passava horas a fio em conversas no bate-papo MSN quando entravam em sua sala para conversar sobre assuntos tĂ©cnicos.
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