Corinthians contesta punição e aposta em Pacaembu cheio 22/02/2013
- Veja.com
Apesar da tragédia, a preocupação dos integrantes das organizadas corintianas parece ser outra: depois que a Conmebol anunciou a punição, teve início pelas redes sociais uma mobilização para reunir a torcida no Pacaembu no dia do jogo.
O Corinthians deixou claro mais uma vez que não acredita ter qualquer responsabilidade no episódio da morte do garoto Kevin Beltrán Espada, atingido por um sinalizador durante o empate com o San José, na quarta-feira, em Oruro, na Bolívia.
Na manhã desta sexta, o clube anunciou que vai recorrer da decisão da Conmebol de barrar a torcida corintiana dos jogos da Copa Libertadores enquanto a tragédia não for esclarecida. Em nota divulgada por seu site oficial, o Corinthians diz que "lançará mão de todos os recursos legais para reformar a decisão imposta pela Conmebol".
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A direção afirma que "a punição imposta é injusta, na medida em que prejudica diretamente o direito de inocentes", citando os torcedores que compraram mais de 80.000 ingressos de forma antecipada para os jogos do time no Pacaembu.
O clube está tão confiante na chance de escapar sem punições do caso que já avisou aos torcedores que têm os bilhetes para as três partidas que evitem pedir o dinheiro de volta por enquanto.
"A diretoria acredita na reforma da pena e pede que todos esperem até a próxima quarta", diz a nota.
A punição, anunciada pela Conmebol na noite de quinta, de fato surpreendeu - não por ser injustificada, como reclamam os corintianos, mas sim por causa do histórico da entidade, sempre criticada pela omissão em casos de violência nos estádios sul-americanos.
O castigo parece ser proporcional à gravidade do caso. As imagens mostram claramente o disparo do sinalizador feito a partir da torcida corintiana - nem mesmo os integrantes das organizadas do clube desmentem essa informação -, e o código disciplinar da Conmebol afirma claramente que os problemas provocados por eles devem provocar punições ao clube, ainda que a agremiação não tenha envolvimento direto na infração.
No caso do Corinthians, fica claro que a direção, os jogadores e a comissão técnica não têm nenhuma culpa pela morte de Kevin, de 14 anos.
Mas chama atenção o fato de o clube, que tanto se esforçou na quinta para retratar o caso como um triste acidente, não ter manifestado nenhuma objeção ao comportamento de seus torcedores.
Famoso por ter uma relação muito próxima com as torcidas organizadas, em especial a Gaviões da Fiel, que goza de enorme prestígio e influência no clube, o Corinthians negou ter financiado as viagens dos integrantes dessas facções à Bolívia ou cedido ingressos para esses torcedores.
Esses são privilégios, porém, são extremamente comuns no cotidiano dos membros das organizadas, que costumam receber apoio financeiro - não declarado, é claro - dos cartolas.
Temendo o poder de mobilização dos integrantes das facções, os dirigentes raramente entram em atrito com esses grupos, mesmo com o envolvimento comprovado das facções - de todos os clubes - com alguns dos casos mais brutais de violência no esporte brasileiro nos últimos anos.
Apesar da tragédia, a preocupação dos integrantes das organizadas corintianas parece ser outra: depois que a Conmebol anunciou a punição, teve início pelas redes sociais uma mobilização para reunir a torcida no Pacaembu no dia do jogo.
Os fanáticos prometiam protestar contra a decisão e apoiar o time mesmo do lado de fora do estádio, desafiando a punição.
"Fatalidade"
O Corinthians, que já vendeu cerca de 82.500 ingressos para os três jogos em casa na primeira fase da Libertadores, informou que só deve se posicionar oficialmente na manhã desta sexta.
O departamento jurídico do clube, no entanto, já preparava uma estratégia de defesa. Na quinta, o presidente do clube, Mario Gobbi, dizia que considerava o caso "um acidente, uma fatalidade".
O cartola afirmou que não consegue pensar que um torcedor vá deliberadamente ao estádio para matar outra pessoa.
"Ou você tem uma prova de que o torcedor usou os fogos de artifício com a intenção de atingir uma pessoa ou é uma fatalidade. Estou acompanhando pela internet, por jornais e por vídeos e me parece ter sido um acidente, algo involuntário. Não posso crer que alguém vá a um jogo de futebol para matar outra pessoa. Se eu acreditasse 1% nisso, teria de sair do esporte", disse Gobbi.
Uma rede de TV boliviana mostrou imagens do disparo. Na interpretação da emissora, não é possível descartar que o torcedor que disparou o sinalizador tinha a intenção de acertar a torcida adversária.
O comunicado oficial da Conmebol afirma que a decisão foi tomada com base na súmula do árbitro Carlos Vera, que apitou a partida na Bolívia. Vera confirma que o sinalizador foi lançado de onde estava localizada a torcida corintiana no estádio.
Além de determinar a suspensão da torcida alvinegra nos jogos em casa, que serão disputados com portões fechados, a confederação proibiiu aos rivais do Corinthians de vender ingressos ao visitante ou seus seguidores.
A punição vale enquanto o processo durar ou por um prazo de 60 dias. O Corinthians tem três dias para apresentar sua defesa caso queira pedir uma revisão da decisão, o que já é dado como certo.
O clube terá de amargar um grande prejuízo financeiro com a devolução do dinheiro pago pelos ingressos vendidos antecipadamente.
Os três jogos do Corinthians em casa na fase de grupos da Libertadores estão marcados para 27 de fevereiro (contra o Millionarios, da Colômbia), 13 de março (Tijuana, do México) e 10 de abril (San José, da Bolívia).