Os sete pecados que podem derrubar Eike Batista 26/06/2013
- Veja.com
Há, exatamente, um ano, as ações da petroleira OGX, de Eike Batista, despencavam na bolsa.
A queda repentina se justificava pelo fato de o mercado ter se dado conta que a companhia jamais conseguiria entregar os 40 mil barris de petróleo por dia que haviam sido prometidos pelo empresário na época de sua fundação.
A expectativa, naquele dia, havia caído brutalmente para 5 mil barris. Desde então, teve início o inferno astral do empresário que fez sua fortuna recuar de 30 para 4 bilhões de dólares em pouco mais de um ano.
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Desde então, o império do empresário não para de ruir. As ações da OGX perderam mais de 90% de seu valor de mercado desde que a empresa estreou na bolsa de valores, em 2008.
Já a MMX e a LLX, de mineração e logística, enfrentam os percalços dos atrasos de cronograma, multas milionárias e uma desconfiança sem precedentes de que os projetos, talvez, não sejam financeiramente sustentáveis.
O empresário já admitiu, por meio de fato relevante, que não descarta negociar os ativos de suas empresas - MMX e LLX, especificamente.
Além disso, a IMX, de entretenimento, também está na berlinda para ser vendida, assim como o hotel Glória, no Rio de Janeiro.
Confira algumas atitudes que levaram o empresário a frustrar investidores no último ano:
Pressa
Entre 2004 e 2013, Eike Batista criou nada menos que 17 empresas para compor seu grupo EBX. Mesmo em um ambiente econômico favorável, nem o mais habilidoso dos gestores conseguiria comandar, simultaneamente, sem percalços, tantos negócios - em tantos setores - num período tão curto.
Dispersão
Quando criou a MMX, Eike tinha alguma experiência no setor de mineração, não só por já ter empreendido no setor, mas também porque seu pai, Eliezer Batista, foi presidente da Vale por 10 anos. No entanto, o empresário diversificou seus negócios de maneira rápida e dispersa, entrando em setores com os quais jamais havia se familiarizado, como o de energia (MPX), entretenimento (IMX) e até mesmo o de restaurantes, com o Mister Lam, no Rio de Janeiro.
Presunção
A humildade não é uma das principais virtudes do empresário, que ostentou uma frota de jatinhos e carros milionários, como uma Mercedes McLaren, além de projetos extravagantes como o que anunciou em 2010: a construção da "Cidade X", uma cidade supermoderna para cerca de 250 mil pessoas a alguns quilômetros da capital fluminense. Eike, que naquele ano tinha uma fortuna da ordem de 30 bilhões de dólares, dizia que chegaria a ser o homem mais rico do mundo, com um patrimônio avaliado em 100 bilhões de dólares. Ele era assunto constante na imprensa internacional, que, não raro, associava sua ascenção ao boom da economia brasileira. Depois dos recentes problemas financeiros que ocorrem em suas empresas, o bilionário vem se desfazendo de seus ativos para reduzir seu endividamento. As vendas vão desde participação acionária até jatinhos, carros e o hotel Glória, no Rio de Janeiro.
Despotismo
Além de investir em setores completamente distintos, Eike sempre manteve uma gestão centralizadora que não poupava seus diretores de piadinhas e discussões. O problema mais notório ocorreu com o ex-presidente da OGX, Rodolfo Landim, que chegou a escrever um livro para contar a experiência de trabalhar com o empresário. Landim moveu uma ação indenizatória milionária na Justiça contra Eike. "Quando o cara não dava o resultado que ele esperava, ele humilhava, colocava apelido, e tudo mais", afirmou ao site de VEJA o geólogo JC Cavalcanti, ex-sócio de Eike.
Dependência
O grupo EBX é altamente dependente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tanto de linhas de crédito como de participação acionária por meio do BNDESPar, que é o braço de investimento do banco de fomento. Um investimento de 600 milhões de reais feito pelo banco em títulos de dívida da MPX Energia chegou a bater 880 milhões de reais em maio do ano passado, mas equivale hoje a 521 milhões de reais. Segundo o BNDES, o grupo EBX tem 9,1 bilhões de reais contratados junto ao banco.
Imconsistência
Mesmo com a habilidade de criar empresas e conseguir recursos junto a investidores estrangeiros e bancos nacionais, o grande erro do empresário foi não cumprir suas promessas. Quando foi ao Canadá captar recursos para criar a OGX, o empresário vendeu a ideia partindo da estimativa de que produziria 40 mil barris de petróleo por dia. Atualmente, as estimativas revisadas da OGX apontam para menos que 5 mil barris por dia. No caso da MMX, o empresário é visto com incredulidade por investidores quando perceberam que o porto Sudeste, o principal ativo da empresa, não ficaria pronto na data prevista, prejudicando empresas que já tinham contratos fechados para exportar minério por meio do porto. No caso do hotel Glória, no Rio de Janeiro, tampouco há avanços nas obras de restauração e o empreendimento não deverá ficar pronto antes da Copa.
Silêncio
Diante dos últimos acontecimentos (as empresas de Eike perderam mais de 17 bilhões de reais em valor de mercado na bolsa de valores apenas em 2013), o empresário parou de dar entrevistas e só se pronuncia por meio de fatos relevantes enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O Twitter do empresário, que antes era usado como forma de comunicação rotineira, atualmente está parado. Eike silencia também sobre a possível venda de participação de suas empresas, algo que cria ainda mais incertezas sobre o futuro do grupo. As entrevistas aos veículos do Brasil e do exterior, antes dadas com certa frequência, já não fazem mais parte do dia a dia do empresário.