O prefeito terá meses torrenciais pela frente para evitar ser sepultado pela cidade.
Em meio às tradicionais enchentes de verão, trânsito caótico e à chegada do carnê do IPTU mais alto na casa dos paulistanos, Haddad precisará fazer vingar o projeto do PT de transformar sua gestão numa vitrine do partido para as eleições de 2014 – quando pretende reeleger a presidente Dilma Rousseff e desalojar o PSDB do Palácio dos Bandeirantes com a candidatura do ministro Alexandre Padilha (Saúde).
O PT voltará a disputar o Estado governando a prefeitura depois de doze anos -- a última vez foi com Marta Suplicy, em 2002.
É justamente na capital paulista e nas cidades do entorno, sobretudo no ABC, que o partido costuma se sair melhor nas urnas.
Padilha tem 5% das intenções de voto na capital e só 3% no interior, mostra o Datafolha.
Sem conseguir a renegociação da dÃvida paulistana de 54 bilhões de reais com o governo federal, Haddad conta com auxÃlio financeiro de Dilma para alavancar projetos anunciados em campanha -- como os corredores de ônibus e as 55.000 casas populares.
O estopim das marchas foi o aumento das tarifas de transporte, de 3 reais para 3,20 reais, que havia sido adiado do inÃcio do ano em uma manobra combinada com Dilma para segurar a inflação.
Haddad argumentou que a revogação do aumento de 20 centavos comprometeria investimentos na cidade e passou a intensificar a agenda pela revisão da dÃvida com o governo federal -- que ainda não foi aprovada pelo Senado.
O prefeito reclama do comprometimento da receita, porque o subsÃdio passou de 600 milhões de reais para 1,6 bilhão de reais.
O projeto reforçou a impopularidade do petista, na avaliação de integrantes do primeiro escalão.
A base de vereadores de Haddad na Câmara Municipal começou a balançar justamente na votação do reajuste do IPTU, aprovado com pouca margem e já sem apoio do PSD de Kassab -- embora os articuladores do prefeito tenham conseguido aprovar os projetos mais importantes para o Executivo no ano.
Foi depois da votação que Haddad enfrentou o principal protesto desde que assumiu o cargo.
Ele subiu no palanque no Vale do Anhangabaú para discursar no Dia da Consciência Negra -- tema em que o PT tem militância histórica --, mas foi vaiado e enfrentou uma chuva de garrafas d’água e latas de cerveja.
Base
A indisposição de vereadores não contemplados com cargos em subprefeituras e verbas para obras de sua indicação se espalhou no PT paulistano e partidos aliados.
“Os vereadores do PMDB já não têm relacionamento com os secretários, que não conseguem dar vazão à s demandas, não comandam as pastasâ€, relata um parlamentar do partido.
O PSD prepara o desembarque da gestão Haddad -- o partido do ex-prefeito Gilberto Kassab abandonará a São Paulo Turismo (SPTuris) -- e flerta com a oposição.
A legenda acha que a empresa controlada pela prefeitura não tem o mesmo “tamanho†da bancada de vereadores.
Auditores nomeados para cargos de confiança na gestão Kassab davam descontos no pagamento do Imposto Sobre Serviços (ISS) a construtoras em troca de propina.
A apuração foi incentivada pessoalmente por Haddad, mas acabou respingando em sua própria gestão: o secretário de Governo, Antonio Donato (PT), caiu após um fiscal afirmar em depoimento que ele recebeu mesada de 20.000 reais para campanha a vereador em 2012.
Donato pediu demissão em um almoço com Haddad, EmÃdio e outros dois presidentes do PT: Rui Falcão (nacional) e Paulo Fiorilo (municipal).
Depois da reunião, um deles admitiu: “É crise atrás de criseâ€.
Para o deputado estadual Edinho Silva (PT), as crÃticas internas a Haddad de correntes como a PT de Lutas e de Massa são inerentes ao jogo democrático do partido:
“No primeiro ano do governo Lula, ele fez ajustes na economia e setores do PT e movimentos sociais teceram crÃticas durÃssimas. É algo muito semelhante ao que o Haddad está vivendoâ€.
Trânsito
Mesmo medidas administrativas consideradas corretas por especialistas e bem avaliadas pela população foram pouco exploradas positivamente pela gestão Haddad, na avaliação de lÃderes do PT.
Haddad não “solucionou o trânsito com uma lata de tinta e um pincelâ€, como o padrinho Lula se apressou em dizer, já que a cidade chegou ao recorde histórico de 309 quilômetros de congestionamento.
Mas as faixas tiveram aprovação de 88% dos paulistanos, aceleraram o deslocamento dos coletivos e viraram tema de propaganda na TV. E mesmo assim não impactaram a avaliação sobre o prefeito.
Petistas como o deputado Cândido Vaccarezza afirmam que Haddad está “acertando e fazendo os ajustes apara governar bem†e virar um cabo eleitoral de Dilma e de Padilha no ano que vem.
- Janeiro: Quinze dias depois de assumir, congela 12% do orçamento, R$ 5,2 bilhões e logo determina a revisão de contratos;
- Abril: Enfrenta protesto de movimentos organizados de moradia popular;
- Junho: Aumenta a tarifa de ônibus para R$ 3,20 e vê a cidade ser tomada por onda de protestos e vandalismo. Revoga, a contragosto, o reajuste; e adia licitação de ônibus;