Após acusações, Rosell renuncia à presidência do Barcelona 23/01/2014
- Agência Estado
O presidente do Barcelona, Sandro Rosell, renunciou nesta quinta-feira ao cargo. Acusado de ter sonegado o valor real da contração de Neymar, muito mais cara do que o revelado, o dirigente se reuniu nesta noite na Espanha com a junta diretiva do clube e entregou o cargo de forma irrevogável, conforme anunciou em entrevista coletiva.
Depois de enumerar suas conquistas à frente do Barcelona, clube que ele presidia desde julho de 2010, o dirigente, em discurso lido todo em catalão diante de centenas de jornalistas, afirmou que renunciava ao cargo para preservar o clube e também a sua própria família.
"Esta época de êxito teve também momentos sofridos. Ser presidente significa colocar em risco a minha própria família. Nos últimos tempos, abriram um processo contra mim por apropriação indevida e acusam que a contratação de Neymar foi irregular. Tenho que ser compatível com a defesa do clube. A confidencialidade é essencial no mundo do futebol, caso contrário pode prejudicar o clube", explicou ele.
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"A junta diretiva é quem lidera o clube. Não quero que ataques injustos contra mim prejudiquem a imagem do clube. Acabo de apresentar minha demissão à junta diretiva. De acordo com os estatutos, José Maria Bartolomeu, vice-presidente, assume a presidência imediatamente e ficar até 2016, quando serão convocadas novas eleições. Foi uma hora, um privilégio ter sido presidente do Barcelona. Desejo o melhor ao novo presidente", disse ele, completando o discurso.
DENÚNCIA
A justiça espanhola confirmou na quarta-feira que vê evidência de um crime na contratação de Neymar pelo Barcelona e solicitou que o próprio jogador, a Fifa, o Santos e o Barcelona apresentem as documentações sobre a negociação.
Rosell garantia que a operação para o Barcelona se reforçar com Neymar teve um custo de 57,1 milhões de euros (aproximadamente R$ 184,7 milhões). Mas segundo uma denúncia apresentada por um sócio do Barcelona, o preço real seria de 95 milhões de euros (R$ 307 milhões), em razão de comissões pagas para as partes envolvidas na transação.
De acordo com informações do jornal espanhol El Mundo, publicadas na última segunda-feira, o Barcelona pagou comissões secretas à família de Neymar para que o jogador optasse pelo clube catalão ao deixar o Santos.
Nos supostos contratos secretos estariam 8,5 milhões de euros que iriam para o pai de Neymar. O Barcelona ainda teria pago 7,9 milhões para reservar eventuais promessas que surgissem no Santos e mais 9 milhões de euros para jogar um amistoso contra o clube. A essa conta ainda deveriam ser somadas comissões para a realização de projetos sociais nas favelas, num valor de 2,5 milhões de euros. Outros 2 milhões seriam usados para buscar novos craques no Brasil, além de 4 milhões de euros para atrair investidores brasileiros. Desse valor, outros 5% de comissão ao pai de Neymar.
NA FIFA
Antes de todo o imbróglio com relação à compra de Neymar, Rosell já estava no centro de outros escândalos, todos com pelo menos uma perna no Brasil. Sócios dele teriam sido intermediários no maior escândalo de corrupção na Fifa, com o pagamento de propinas a Ricardo Teixeira e João Havelange pela empresa de marketing ISL.
Rosell foi até mesmo um dos diretores da ISL Espanha, subsidiária da empresa acusada na Suíça de ter sido usada como um banco paralelo dos cartolas brasileiros na Fifa. Foi ainda uma empresa ligada a um sócio de Rosell que pagou a indenização que Teixeira e Havelange tiveram de acertar para encerrar o caso.
No ano passado, o Estadão revelou com exclusividade que parte do dinheiro de amistosos do Brasil ia justamente para contas de empresas de Rosell. Outros documentos revelaram que a relação entre Teixeira e Rosell data de muitos anos e que associados ao cartola catalão estiveram implicado em vários outros negócios envolvendo o brasileiro.
O principal caso envolve a criação de um verdadeiro esquema de corrupção dentro da Fifa que acabou gerando as renúncias de Teixeira e mesmo de João Havelange. Segundo a Justiça suíça, ambos fraudaram a entidade máxima do futebol em R$ 40 milhões entre 1992 e 2000.
O caso foi mantido em sigilo por dois anos e os cartolas brasileiros pagaram uma multa de US$ 2,45 milhões como devolução dos recursos e como forma de encerrar o caso de forma amistosa com a Fifa. O acordo mantinha seus nomes em sigilo em troca do dinheiro.