Nas 27 unidades da federação, estão em andamento 1.480 investigações do MPF sobre o crime de condição análoga à de escravidão, que prevê punição de dois a oito anos de prisão e multa.
Juntos, os quatro estados têm 729 apurações em andamento, que representam 49,2% do total do paÃs. O maior número de casos está no Pará (295 investigações), seguido de Minas Gerais (174), Mato Grosso (135) e São Paulo (125).
Segundo a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, que coordena a 2ª Câmara de Coordenação e Revisão – responsável por questões criminais e controle da atividade policial –, a "morosidade do Judiciário" favorece a impunidade nos casos de trabalho escravo.
Raquel Dodge enfatizou que não há execução das penas porque os condenados recorrem e os processos não chegam ao fim.
"Precisamos encurtar prazos processuais. É uma conduta inaceitável. Precisamos enfrentar punindo quem ainda pratica [o crime de trabalho escravo]. Tenho certeza que o Judiciário será sensÃvel sobre a necessidade do encerramento dessas ações", afirmou a subprocuradora.
Ela destacou que uma das questões que barrava a resolução de casos era o impasse sobre se a competência para julgar o tema era da Justiça estadual ou da Justiça Federal. O tema foi decidido em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal, que entendeu que era competência federal. Desde então, apesar de resolvido o impasse, as ações não transitam em julgado, ou seja, não chegam à fase em que não cabem mais recursos.
A subprocuradora lembrou o caso da Chacina de UnaÃ, na qual os acusados ainda não foram julgados. "Esperamos que esse julgamento ocorra e estamos confiantes na condenação porque as provas são fortes", enfatizou.
Segundo Raquel Dogde, os tipos de trabalho escravo são diferentes em cada unidade da federação.
A diferença está em São Paulo, destacou a procuradora, onde os casos de trabalho escravo estão na área de confecção e da construção civil. "Estamos nos deparando com novas práticas de trabalho forçado, mesmo em atividades bem regulamentadas."