Petrobrás ignorou lucros indevidos e dados fraudulentos antes de litÃgio 29/03/2014
- Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo
Documentos relacionados ao processo de compra pela Petrobrás da refinaria de Pasadena, nos EUA, revelam que a estatal manteve dois tipos de relação com a sócia Astra Oil.
Uma antes de 19 de junho de 2008. Outra depois disso.
Foi nessa data que a Petrobrás iniciou o litÃgio com a sócia.
No processo de arbitragem nos EUA, a estatal brasileira chegou a afirmar que a Astra recebeu lucros indevidos na venda de petróleo para a trading que fornecia o produto à refinaria, o que representaria uma quebra de confiança na parceria.
As duas alegações acabaram, no fim, descartadas porque os juÃzes entenderam que a Petrobrás estava ciente dos problemas quando eles teriam ocorrido.
Conforme revelou o Estadão na semana passada, o negócio foi aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobrás, então comandado por Dilma Rousseff, que chefiava a Casa Civil do governo Lula.
Desembolsou, no fim, mais de US$ 1 bilhão pela refinaria que havia sido adquirida pelos belgas em 2005 por US$ 42,5 milhões.
Representantes. As negociações de petróleo questionadas pela Petrobrás foram realizadas entre setembro de 2006 e julho de 2008 e eram supervisionadas por um representante de cada empresa.
O responsável do lado da Petrobrás era Sergio Baron.
A estatal brasileira acusou a Astra de ter obtido lucro indevido na venda de petróleo para a trading que abastecia a refinaria.
A Petrobrás sustentou que negociadores da Astra costumavam comprar o produto de terceiros e o revender a preço mais elevado para a empresa na qual ambas eram sócias.
Mas a brasileira só solicitou livros contábeis da Astra sobre as negociações em janeiro de 2009, sete meses depois de iniciado o processo de arbitragem.
"Antes dessa arbitragem, eu nunca havia escutado uma palavra de discordância ou queixa no âmbito das operações comerciais da companhia de trading envolvendo qualquer um dos negociadores da Astra", depôs Irek Kotula, vice-presidente da Astra que era responsável pela gestão da empresa de trading.
As declarações foram contestadas por funcionários da Petrobrás, mas a posição da belga foi vencedora.
"As evidências indicam, no entanto, que as partes estavam cientes de que negociadores da Astra, de tempos em tempos, negociavam diretamente com a companhia de trading e que Sergio Baron, da Petrobrás, recebia os comprovantes dessas operações", concluiu o painel de árbitros em 27 de abril de 2009.
A assessoria de imprensa da Petrobrás disse ontem que não comentaria as acusações que fez na arbitragem.
"De modo a preservar o desenvolvimento dos trabalhos internos e externos de apuração, a Petrobrás não comentará o assunto", diz a nota, depois de lembrar que há diversas investigações em curso.