Ex-diretor da Petrobras comprou 13 imóveis nos últimos cinco anos 21/04/2014
- Daniel Haidar - Veja.com
Acusado pela PolÃcia Federal de ser um dos lÃderes de um esquema de lavagem de cerca de 10 bilhões de reais, o engenheiro mecânico Paulo Roberto Costa teve, na Petrobras, uma carreira invejável.
Funcionário de carreira, conseguiu, desde que entrou na estatal, em 1977, chegar ao posto de diretor de Abastecimento, em 2004.
A carreira bem-sucedida teve, no entanto, uma fase meteórica de acúmulo de capital nos últimos cinco anos.
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Nesse perÃodo, de acordo com um levantamento feito pelo site de VEJA, Costa, a mulher, duas filhas e dois genros adquiriram nada menos que 13 imóveis no Rio de Janeiro -- num perÃodo de preços nas alturas.
Os valores das transações registrados em cartório chegam a 5,8 milhões de reais.
Não estão na soma duas salas comerciais nas quais a famÃlia investiu uma parte de seu capital.
Costa está preso por suspeita de ter cometido crimes como lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e participação em organização criminosa -- delitos pelos quais foi indiciado na última quarta-feira pela PolÃcia Federal com a conclusão da primeira etapa da operação Lava-Jato.
Os investigadores suspeitam que o ex-diretor tenha se associado ao doleiro Alberto Youssef para articular negócios e que tenha recebido propina de fornecedores da estatal.
Há indÃcios de que Costa recorria ao doleiro para ocultar recursos de origem ilÃcita.
Já se sabe que Youssef comprou para o ex-diretor um Land Rover Evoque blindado, avaliado em 300.000 reais.
Os registros em cartório mostram que o ex-diretor e a famÃlia fizeram uma rodada de compras de imóveis da PenÃnsula, reduto de luxo na Barra da Tijuca monitorado por seguranças privados.
A transferência de propriedade, no entanto, não foi concluÃda, porque a prefeitura do Rio considera o loteamento ilegal desde agosto de 2012.
Em diversas transações, os valores registrados em cartório ficaram abaixo da avaliação de mercado e da avaliação da Prefeitura do Rio de Janeiro na cobrança do Imposto de Transmissão de Bens Imobiliários (ITBI).
Apesar de a compra de onze dos imóveis ter sido registrada por um gasto total de 5,8 milhões de reais, essas aquisições valiam 6,5 milhões de reais no momento em que foram feitas, de acordo com dados da Prefeitura do Rio.
Uma avaliação feita pelo presidente da imobiliária Patrimóvel, Rubem Vasconcelos, a pedido do site de VEJA, estima valor atual de 14,4 milhões de reais aos imóveis adquiridos pela famÃlia de Costa desde 2009, sem considerar o terreno irregular em Vargem Pequena.
De acordo com investigadores ouvidos pelo site de VEJA, transações imobiliárias costumam ser subavaliadas em cartório para que o comprador efetue parte do pagamento com dinheiro de caixa dois, fora do sistema bancário, ou para que economize no gasto com impostos.
Em abril de 2005, Costa vendeu um apartamento de 214 metros quadrados que tinha no condomÃnio Villa di Genova pelo valor declarado de 400.000 reais.
Mas foi em 1º abril de 2009 que começou a acumulação de imóveis como investimentos. Nessa data, a mulher de Paulo Roberto Costa, Marici, oficializou a compra de um apartamento do ex-senador Ney Suassuna (PMDB).
O partido de Suassuna foi um dos padrinhos da manutenção de Costa como diretor da Petrobras, junto com o PP e o PT.
Conforme o registro em cartório, Marici pagou 220.000 reais por um quarto e sala de 50 metros quadrados no flat Barra Royal Plaza, na Avenida Lúcio Costa, de frente para o mar.
Foi, por assim dizer, um excelente negócio.
Outros compradores tiveram de efetuar desembolso maior por uma unidade no mesmo local nesse perÃodo.
Em 4 de maio daquele ano, outra unidade, com a mesma área habitável, foi negociada por 350.000 reais.
Entre março de 2012 e setembro de 2013, a famÃlia de Costa comprou quatro salas no condomÃnio comercial PenÃnsula Office, na Barra da Tijuca.
Paulo Roberto adquiriu uma das unidades com a mulher; a filha Shanni comprou outra; e Arianna, outra filha, com o marido Márcio levaram outras duas.
A sala 913 do condomÃnio era considerada a sede da consultoria Costa Global, mantida pelo ex-diretor desde que deixou a Petrobras, e foi alvo de mandado de apreensão.
No local, foram apreendidos documentos e um HD pela PolÃcia Federal.
Duas dessas salas foram vendidas pelas mesmas pessoas.
Curiosamente, foi registrada na escritura a venda exatamente pelo mesmo valor pago por eles à construtora Cyrela, que lançou o empreendimento.
Outra transação suspeita foi a aquisição de um apartamento de 107 metros quadrados, com dois quartos e uma vaga de garagem, no condomÃnio PenÃnsula Saint Martin.
A compra foi registrada em 27 de fevereiro de 2013 com o valor de 680.000 reais, exatamente o mesmo montante desembolsado um ano antes pelos vendedores.
Arianna já revendeu o imóvel para a Troika Empreendimentos Imobiliários em 30 de setembro do ano passado, por 1,2 milhão de reais.
Vasconcelos, presidente da Patrimóvel, estranhou a expressiva variação de preços em pouco mais de sete meses: “Um imóvel no condomÃnio Saint Martin não dobrou de preço no ano passadoâ€.
Nesse mesmo condomÃnio, Arianna e o marido Márcio compraram outros dois apartamentos, um com quatro quartos e outro com dois quartos.
A menor unidade saiu por 497.205 reais em março de 2010 e a maior por 1,2 milhão de reais em outubro de 2013.
Sem considerar a compra de uma sala comercial, o casal registrou gastos de pelo menos 3,9 milhões em imóveis nos últimos cinco anos.
No mesmo perÃodo, Shanni, a outra filha de Paulo, e o marido Humberto fizeram aquisições com o valor declarado de 1,18 milhão de reais, sem considerar uma sala comercial no PenÃnsula Office.
Paulo e a esposa Marici aparecem nos documentos de cartórios como responsáveis pelo gasto de 639 mil reais desde 2009, a menor fatia das despesas imobiliárias da famÃlia.
Ocultar a propriedade de um Land Rover rendeu um indiciamento por falsidade ideológica a Paulo Roberto Costa.