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Na nova equipe de Dilma, o velho loteamento
03/11/2014 - Gabriel Castro - Veja.com

Em 5 de setembro, quando Marina Silva ainda ameaçava seriamente a reeleição de Dilma Rousseff e a Bolsa de Valores tornava evidente a desconfiança do mercado com o programa do PT, a presidente e então candidata deu o primeiro sinal de que faria mudanças significativas em sua equipe no segundo mandato:

"Eleição nova, governo novo, equipe nova", disse ela em entrevista.

Na ocasião, o que estava em pauta era a possibilidade de demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega.


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Hoje, com a saída anunciada, Mantega é um raro caso de ministro demitido que segue no cargo.

Resta escolher o sucessor -- e decidir em quantas das outras 38 pastas haverá trocas.

Dilma está de folga na Base de Aratu, na Bahia. Quando retornar de viagem, a presidente deve se reunir com aliados para fazer um balanço das eleições.

O vice-presidente, Michel Temer, também aguarda um posicionamento da chefe do Executivo para conversar com os aliados sobre a divisão dos cargos.

Esta semana deve ser a hora de avaliar quem se empenhou pela reeleição e quem, na avaliação do governo, não se comprometeu com a aliança.

Como é comum em casos de reeleição, não haverá uma equipe de transição. As trocas na equipe devem ser anunciadas ainda neste ano.

A crise econômica e a ameça de crise política não permitem que Dilma espere o início do segundo mandato para anunciar os novos nomes.

Hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está com os dias contados para deixar o cargo.

E boa parte dos ministérios é comandada por interinos, já que os titulares deixaram o cargo para disputar as eleições.

Muitos nomes citados como eventuais ministros da presidente são tentativas, do PT e de outros partidos, de emplacar um nome na equipe de Dilma; além disso, a própria presidente costuma surpreender ao escolher seus ministros.

Dito isso, é inevitável que as especulações ganhem corpo.

Durante a campanha de 2010, Dilma apelidou de "três porquinhos" o grupo de auxiliares mais próximos a ela: José Eduardo Cardozo, hoje ministro da Justiça, Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais e seu ex-ministro, e José Eduardo Dutra, então presidente do PT.

Agora, o trio é outro: Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento Agrário, Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, e Aloízio Mercadante, ministro da Casa Civil.

Os três devem estar em postos-chave da administração no próximo mandato: ou na área econômica, ou na "cozinha" da presidente.

O mesmo vale para Giles Azevedo, o discreto chefe de gabinete da petista.

Nelson Barbosa, ex-secretário executivo da Fazenda, está ao lado de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e de Luiz Carlos Trabucco, presidente do Bradesco, na lista de cotados para o Ministério da Fazenda. Mas Aloizio Mercadante é uma alternativa.

Esta escolha é a mais sensível para Dilma, porque dela depende o sucesso do governo no esforço para escapar da crise e tirar a economia da estagnação.

Os três primeiros nomes foram sugeridos pelo ex-presidente Lula. Mercadante seria uma escolha pessoal da presidente.

Aliados

Feita a avaliação sobre o papel dos aliados na campanha, o PMDB tem mais a perder: em estados importantes como o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o partido caminhou com a oposição.

Por outro lado, Dilma depende dos peemedebistas para governar. O partido tem hoje cinco ministérios: Agricultura, Previdência, Minas e Energia, Turismo e Aviação Civil.

Para a Agricultura, a candidata mais forte é Kátia Abreu. O atual ocupante do cargo, Neri Geller, é da conta dos peemedebistas da Câmara. Se ele perder o posto para a senadora, os deputados devem cobrar a nomeação de um representante para outra pasta.

Henrique Eduardo Alves chegou a ser cotado para assumir para a Previdência Social, hoje comandada pelo senador peemedebista Garibaldi Alves. Mas ele não deve aceitar a nomeação.

Na pasta das Minas e Energia, o desgastado ministro Edison Lobão não deve sobreviver à reforma.

O titular do Turismo é Vinícius Lage, um técnico apadrinhado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). A permanência dele também é incerta.

Ainda insatisfeitos pela forma como o PT agiu em alguns estados durante as eleições, os peemedebistas dizem que cabe ao governo dar o primeiro passo nas conversas:

"Não estamos tratando disso agora, até porque não cabe. A origem (da negociação) está do outro lado", diz o líder do PMDB, Eduardo Cunha, nome da sigla para presidir a Câmara no ano que vem.

A cúpula do PMDB deve se reunir nesta semana para traçar uma estratégia comum daqui por diante, o que passa por uma maneira mais "organizada" de decidir quais nomes estarão no governo.

No segundo mandato, a aliança de Dilma tem algumas diferenças em relação a 2011, quando tomou posse pela primeira vez. O PSB está fora do governo.

Quase todos os partidos aliados tiveram algum tipo de cisão: parte do PMDB, PP, PR e PDT apoiaram Aécio Neves na disputa. Por outro lado, dois novos partidos entraram na briga pela divisão do bolo: PSD e Pros.

O PSD já tem a pasta da Micro e Pequena Empresa, de peso simbólico e orçamento quase inexistente. Agora que o partido fez parte da coligação presidencial de Dilma, deve ser contemplado com um ministério.

O candidato natural é o presidente da sigla, Gilberto Kassab, um sem-mandato que se esforçou para colocar o partido na aliança petista apesar das defecções em alguns estados. Ele é cotado para o Ministério das Cidades.

O líder do PSD na Câmara, Moreira Mendes (RO), diz que o cargo está à altura do partido, que, entre os partidos aliados, tem a maior bancada depois de PT e PMDB.

Mas pede mais: "É um ministério importante, relevante, e está à altura do PSD. Mas acho pouco. É preciso ter um espaço proporcional ao tamanho do partido", diz ele.

No Pros, o único nome em jogo é o de Cid Gomes, ex-governador do Ceará. Ele deixou o PSB justamente para manter seu apoio à reeleição de Dilma, e agora pode ser premiado com o Ministério das Cidades.

O PCdoB, que tradicionalmente comanda o Ministério do Esporte, deve continuar tendo seu espaço com Aldo Rebelo -- a sigla tem interesse na pasta pelas Olimpíadas de 2006 no Rio de Janeiro. O mesmo vale para o PDT, que comanda o Ministério do Trabalho.

O PR tem nas mãos o Ministério dos Transportes e é outra sigla que tem sido beneficiada com o direito de nomear ministros de forma quase autônoma.

Governo novo, equipe nova, mas métodos velhos.


  

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