Congresso não vota as contas do governo há 14 anos 15/01/2015
- Laryssa Borges e Gabriel Castro - Veja.com
Constituição atribui ao Parlamento tarefa de apreciar anualmente as contas da administração pública, mas desde 2002 deputados e senadores ignoram esse dever e deixam a porta escancarada para o uso da "contabilidade criativa"
No Brasil, a Constituição prevê que cabe ao governo “prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercÃcio anteriorâ€.
O texto estabelece que os parlamentares devem julgar se aprovam ou rejeitam a prestação de contas.
Para essa tarefa, deputados e senadores deveriam se basear no parecer emitido pelo Tribunal de Contas da União (TCU), um órgão auxiliar do Legislativo.
Mas a última vez em que isso ocorreu foi em 2002, quando o Congresso aprovou as contas do ano anterior.
Desde 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, deputados e senadores não concluem a votação de nenhum relatório sobre crÃticas do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre deficiências na execução do Orçamento, em demonstrações contábeis e ou inconformidade da receita pública.
Em parte, a análise das contas não ocorre por falta de interesse dos presidentes da Câmara e do Senado de colocarem os temas em efetiva votação; em parte porque os congressistas consideram que a aprovação ou reprovação de contas de um governo que já terminou seria apenas “simbólico†-- mesmo que os últimos três presidentes da República tenham sido reeleitos.
Em entrevista a TVEJA, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, criticou a omissão do Congresso e apontou como um dos seus efeitos o fato de que rombos, como os 2,3 trilhões de reais do passivo atuarial, permanecerem ocultos do público.
Apesar de terem entre suas funções a fiscalização do Poder Executivo, o Congresso minimiza a importância de apreciar as contas do governo.
E o desprezo persiste ainda que o TCU tenha detectado situações de possÃvel maquiagem de dados, um recurso amplamente utilizado pelo Tesouro Nacional na chamada “contabilidade criativaâ€.
Mais grave ainda: o TCU afirmou que naquele ano não foi possÃvel acompanhar e mensurar os efeitos das recorrentes renúncias fiscais do governo -- 80,3 bilhões de reais apenas em 2013.
Levantamento feito pelo site de VEJA no Congresso aponta que a falta de aprovação de contas de governo não se limita ao governo Dilma.
Estão pendentes de votação contas desde 2002, último ano de FHC.
Em casos extremos, como o próprio ano de 2002, o projeto só ficou pronto para apreciação em Plenário em fevereiro de 2011.
E nunca foi a votação.
No governo Lula, nenhuma das contas dos oito anos de sua gestão foi votada.
A partir de 2009, os dados sequer saÃram da Comissão Mista de Orçamento (CMO), colegiado que analisa previamente o parecer do Tribunal de Contas da União (TCU).