Bendine vai descartar cálculo rejeitado por Dilma nas contas da Petrobras 11/02/2015
- Folha de S.Paulo
O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, afirmou, em entrevista ao Jornal Nacional, que vai descartar a cifra de R$ 88,6 bilhões, apontada como sobrevalorização nos ativos da empresa, na tentativa de eliminar, do balanço da companhia, os efeitos da corrupção desvendada pela operação Lava Jato.
O número não chegou a ser lançado no balanço da Petrobras no terceiro trimestre, divulgado há duas semanas, mas sua apresentação ao mercado irritou a presidente Dilma Rousseff.
Os R$ 88,6 bilhões foram encontrados pela Deloitte e pelo BNP Paribas, contratados pela Petrobras em janeiro para chegar a uma cifra sobre corrupção a se dar baixa.
Esta condição foi imposta pela auditoria da Petrobras, a PwC, para assinar o balanço do terceiro trimestre, atrasado desde novembro.
O uso do número, no entanto, foi descartado na reunião do conselho de administração que analisou o balanço do terceiro trimestre, em 27 de janeiro, justamente porque a conta foi feita considerando o "valor justo dos ativos" -- o valor investido frente ao retorno potencial no longo prazo.
Bendine disse que a metodologia a ser usada para se chegar ao novo número ainda está em análise, mas que, "com certeza", o cálculo será aprovado pela PwC.
Bendine assumiu na semana passada a convite da presidente Dilma Rousseff, com quem conversou antes de aceitar assumir o cargo.
Questionado sobre se teria autonomia suficiente, como pedia o mercado, apesar da escolha ter sido feita pela presidente, Bendine disse ter assumido o cargo com "autonomia" dada pelo conselho de administração da empresa "ao fazer o convite".
Os três conselheiros independentes da companhia, representantes de acionistas minoritários e de trabalhadores, reprovaram a escolha e criticaram duramente a forma como tomaram conhecimento do nome, por meio da imprensa.
Sobre a reação negativa do mercado a sua nomeação, o executivo afirmou que os seis anos à frente do Banco do Brasil o credenciam ao novo cargo.
"Nesses seis anos, nós tivemos a oportunidade de fazer uma gestão que triplicou os ativos do banco e dobrou o seu resultado. Então eu acho que eu sou muito testado em relação a mercado".
COMBUSTÃVEIS
Bendine disse, ainda, não ter "dúvida nenhuma" de que a Petrobras teria mais independência ao definir a polÃtica de preços dos combustÃveis.
Com esse discurso, que vem desde a gestão anterior, a Petrobras vem se recusando a ajustar os preços dos combustÃveis à s cotações internacionais, o que levou a um prejuÃzo acumulado de R$ 60 bilhões entre 2011 e o terceiro trimestre de 2014, enquanto perdurou a defasagem.
A medida atendia desejo do governo, representante da União como controladora da empresa, que queria evitar pressão inflacionária.
Na última entrevista antes de sair da Petrobras, há duas semanas, Graça e seus diretores afirmaram que se valeriam dessa condição, agora positiva à empresa, para permitir que seu caixa se recompusesse, ao optarem por não baixar o preço dos combustÃveis no Brasil.