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Jefferson acusa bispo Rodrigues de criar mensalão
21/06/2005 - AAE

O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) acusou ontem o deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ) de ter importado o esquema do mensalão da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro para a Câmara dos Deputados. ¨Vou discutir o que sei. Que o Valdemar (Costa Neto, presidente do PL) desde o início, junto com o Bispo Rodrigues, implantaram o `mensalão´ no PL. Essa prática do `mensalão´ vem do Bispo Rodrigues desde a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro¨, disse.

¨Ele levou essa prática ao PL e acabou impregnando o Delúbio (Soares, tesoureiro do PT) com isso. E o Delúbio trazia o recurso para eles fazerem a divisão. Nisso eu vou bater porque eu sei que isso acontecia¨, completou Jefferson, ao chegar a São Paulo às 13h13 - duas vezes o número do PT.

Bem-humorado, Jefferson também mirou sua artilharia para o presidente do PT, José Genoino, e o desafiou a apresentar o recibo da suposta doação de R$ 4 milhões ao PTB. ¨Ele não pode fugir disso¨, disse, destacando que, enquanto o petista não apresentar o recibo de R$ 4 milhões, ele não vai revelar o que fez com o dinheiro. Jefferson se comprometeu, assim que tiver em mãos o recibo, a retificar sua declaração de bens na Receita e na Justiça Eleitoral.


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O deputado, que desembarcou em São Paulo acompanhado do advogado e da assessora de imprensa - ele veio à capital paulista participar do programa Roda Viva, da TV Cultura -, disse que todos os acordos que fez com a cúpula petista tiveram a anuência do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. ¨Nada fechava no PT. A última palavra era sempre do Zé Dirceu. Eu sempre conversava com o Genoino e com o Delúbio, mas tinha de bater o martelo com o Zé Dirceu, sempre foi assim.¨

Segundo ele, Dirceu ¨era uma espécie de presidente do PT¨ e Genoino, o vice. ¨Tudo que era fechado no PT tinha de ser homologado lá na Casa Civil.¨ O petebista defendeu a saída de Genoino, de Delúbio e do secretário-geral, Silvio Pereira, do partido. ¨É melhor que eles saiam para salvar a imagem do PT e melhorar a imagem do governo¨, disse. ¨Minha luta não é com o PT. A minha luta é contra essa cúpula.¨

Aliança

Sobre o aceno do PT de continuar aliado ao PTB, foi taxativo: ¨A aliança já está rompida.¨ ¨Vamos dar apoio à governabilidade do presidente Lula. O PT mente, mente, mente. Mente na prática, no discurso. Conseguiu rasgar a bandeira da ética e da moralidade que durante 25 anos empalmou. Não tem palavra. Não cumpre acordo.¨

Ainda no Aeroporto de Congonhas, onde ao desembarcar distribuiu autógrafos, e antes do confirmação do nome de Dilma Rousseff (Minas e Energia) para assumir a Casa Civil, Jefferson declarou que Lula começaria já a acertar. ¨Aí, ele faz um gol de rasgar a rede¨, comentou, acrescentando que o presidente tem outros ¨nomes especiais¨, como Antônio Palocci (Fazenda), Walfrido Mares Guia (Turismo), que, assim como Jefferson, é do PTB, além de Luiz Fernando Furlan (Indústria e Comércio) e Roberto Rodrigues (Agricultura). ¨São homens que podem levar o Brasil para a frente.¨ Para ele, Lula ¨fez uma limpeza¨ tirando Dirceu. ¨A Dilma é muito melhor, sabe por quê? Ela tem qualidade moral.¨

Mais tarde, no hotel, continuou os elogios a Dilma: disse que ela é uma pessoa ¨honrada, honesta e limpa¨. ¨Se o presidente Lula optar por ela, na ante-sala dele não vai ter alguém que trate de negócios, de caixa 2¨, afirmou, sem citar neste momento o nome de Dirceu.

Lula

A exemplo do que fez em seu depoimento na Comissão de Ética da Câmara, semana passada, Jefferson voltou a eximir de culpa o presidente Lula. ¨Ele é um homem de bem¨, ressaltou, acrescentando ¨não ter dúvidas¨ de que Lula terminará ¨bem o governo¨. Disse, porém, não saber se o presidente conseguirá a reeleição. ¨Mas tenho uma torcida por ele¨, confidenciou, após almoçar em um hotel da Zona Norte da cidade.

Música

Após almoçar, Jefferson - que bebeu água e comeu fettuccine - brincou com os jornalistas e cantou trechos da música Ti Voglio Tanto Bene (te quero tanto bem), dos italianos Furnò e Di Curtis. Ao ser questionado se sabia que suas acusações teriam tanta repercussão junto à opinião pública - em suas poucas saídas tem sido festejado e cumprimentado por pessoas que elogiam sua coragem -, Jefferson respondeu: ¨Não sou herói, não. Não sou melhor do que ninguém. Só não sou pior.¨ O petebista também confidenciou que 13 é para ele um número cabalístico. ¨Já assisti ao Fantasma da Ópera 13 vezes¨, disse, falando sobre seu musical favorito.

ESTATAIS E FUNDOS DE PENSÃO NO ESQUEMA

O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirma que as estatais também são utilizadas como uma forma de atrair os partidos aliados e de financiá-los durante o governo Lula. Em entrevista ao programa Roda Viva, da ¨TV Cultura¨, Jefferson disse que as estatais mais visadas pelo esquema seriam Petrobras, Furnas, Eletrobras, e também os fundos de pensão. ¨A hora em que o Brasil parar para ver o que está acontecendo em fundo de pensão, isso será uma outra grande explosão¨, salientou ¨Eu pensei que com o PT seria diferente. Ele pregou 25 anos pela ética, a moralidade e continua a mesma coisa.¨

Jefferson insinuou que as empresas que fazem doações para as campanhas eleitorais levam vantagens nos chamados critérios subjetivos das concorrências. ¨Toda concorrência tem os critérios técnicos objetivos e, depois, os subjetivos. Se há condição técnica entre os que disputam, a condição subjetiva, na hora de decidir, tem que pesar em favor daquele que é alinhado com os partidos que estão no governo. Olha o caso da Novadata, nos Correios, é uma empresa ligada ao PT. Ela venceu quase todas as concorrências na área de informática¨, exemplificou.

O deputado explicou que o esquema de corrupção do atual governo - que ele considerou maior do que o do governo Collor - foi montado para evitar a divisão de poder com os partidos da base aliada. ¨Isso é uma política pensada. É mais fácil pagar aluguel a um deputado do que discutir um projeto político com ele, do que partilhar poder com um partido que o apóia¨, frisou o deputado. Ele lembrou que o ex-presidente do PTB José Carlos Martinez reclamava da falta de acesso ao presidente Lula. ¨Havia um cordão de isolamento em torno dele (Lula) e nós não conseguíamos conversar sobre política.¨

Roberto Jefferson explicou que a oferta de cargos foi uma forma de cooptar parlamentares para os partidos da base aliada, como ocorreu no próprio PTB. ¨Quando você atraía um grupo de parlamentares ao partido, a contrapartida era cargo no governo¨, descreveu. Ele disse que o único a entrar de uma forma diferente foi o deputado Vicente Cascione (PTB-SP). ¨Os outros chegaram ao partido pela proximidade do PTB com o governo.¨

¨O PTB não rompeu. O enfrentamento é entre o José Dirceu e eu¨, afirmou o líder petebista. Ele disse considerar o ex-chefe da Casa Civil desleal e sem palavra. ¨Ele quis colocar no colo do PTB o cadáver da corrupção¨, afirmou. E finalizou: ¨Ele não vai me transformar em canalha. Ele tentou fazer com que o PTB ficasse com toda a culpa da corrupção que há no governo, estruturada por ele, se enterrasse a CPI e se desse um ponto final a esta crise que está havendo hoje.¨

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