Polícia do DF investiga repasses da CNT a irmão de Dilma 01/05/2015
- Rodrigo Rangel - Revista VEJA
O único irmão da presidente Dilma Rousseff é avesso a qualquer tipo de badalação -- e conhecido pelo desapego.
Igor Rousseff, de 68 anos, já foi hippie, porteiro de hotel e controlador de voo.
Mora numa casa simples em Passa Tempo, interior de Minas Gerais, e cultiva hábitos igualmente frugais.
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Advogado, nunca gostou de exercer a profissão.
Aposentado, ele hoje investe seu tempo em um projeto de criação de tilápias.
Na campanha presidencial do ano passado, o irmão virou personagem da disputa ao ser apontado pelo então candidato Aécio Neves como funcionário fantasma da prefeitura de Belo Horizonte entre 2003 e 2009, durante a gestão do petista Fernando Pimentel, seu amigo.
Segundo a denúncia, recebia sem trabalhar, o que ele sempre negou.
Agora Igor Rousseff está às voltas com outra suspeita.
Seu nome apareceu em uma lista de beneficiários de pagamentos irregulares oriundos da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Em setembro do ano passado, a Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal descobriram um desvio de mais de 20 milhões de reais do Sest (Serviço Social do Transporte) e do Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte).
Administradas pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), as duas entidades recebem verba do governo federal para custear cursos profissionalizantes e prestar assistência a trabalhadores do setor.
A Operação São Cristóvão, assim batizada em referência ao santo padroeiro dos motoristas, descobriu que uma boa parte do dinheiro que entrava nas contas do Sest-Senat ia parar, na verdade, nos bolsos de quem as administrava -- e também nos bolsos de terceiros que nada tinham a ver com os serviços que deveriam ser prestados aos trabalhadores.
Os investigadores já detectaram repasses de dinheiro a pessoas ligadas ao presidente da CNT, o ex-senador Clésio Andrade (PMDB-MG).
A partir das informações bancárias, as autoridades elaboram uma lista com centenas de transferências consideradas suspeitas.
Algumas delas chamaram a atenção dos investigadores não exatamente pelo valor, mas pelo sobrenome famoso: Rousseff.
VEJA teve acesso às planilhas.
O irmão da presidente recebeu dez pagamentos entre junho de 2012 e março de 2013.
Foram nove parcelas mensais de 10.000 reais e uma de 30.000, num total de 120.000 reais.
Os repasses estão registrados na contabilidade da CNT como "pagamento a fornecedor".
Não está claro o que Igor Rousseff forneceu à confederação.
Procurado, ele não respondeu às perguntas de VEJA sobre os pagamentos.
VEJA também enviou perguntas à CNT.
O diretor de relações institucionais da entidade, Aloísio Carvalho, informou que não havia identificado, em pesquisas internas, qualquer ligação da CNT com Igor Rousseff.
Na quarta-feira, depois de a entidade ser confrontada com os dados sobre os pagamentos mensais feitos ao irmão da presidente, veio a seguinte resposta:
"A CNT não vai se pronunciar a respeito deste assunto".
O Ministério Público e a Polícia Civil pretendem ouvir todos os envolvidos.
Por enquanto, os pagamentos a Rousseff fazem parte apenas de uma lista de operações suspeitas.
Irmãos-problema
Pedro Collor - irmão de Fernando Collor
Pedro Collor encarnou o estereótipo do irmão-problema: suas denúncias contra o próprio irmão abriram caminho para o primeiro processo de impeachment da história política brasileira.
Depois de sacudir o Brasil com sua entrevista a VEJA, ele ainda escreveu um livro, "Passando a Limpo", em que trazia à tona episódios da juventude do irmão Fernando Collor que este preferiria omitir -- como o envolvimento com drogas.
O destino de Pedro se revelaria trágico. Meses após as denúncias, ele seria afastado da direção das empresas da família pela própria mãe, dona Leda.
Dois anos depois do impeachment, morreria de câncer no cérebro num hospital dos Estados Unidos.
Genival Inácio da Silva, o Vavá - irmão de Lula
Em outubro de 2005, VEJA revelou que o irmão mais velho do ex-presidente Lula, Genival Inácio da Silva, conhecido como Vavá, atuava como lobista em órgãos do governo federal.
Dois anos depois, Vavá teve a casa vasculhada por agentes da Polícia Federal durante a Operação Xeque-Mate -- e foi indiciado por "tráfico de influência no Executivo" e "exploração de prestígio no Judiciário".
Benjamim Vargas - irmão de Getúlio
Benjamim Vargas, conhecido como "Bejo", envolveu-se no nebuloso episódio do atentado contra Carlos Lacerda na Rua dos Toneleiros, em 1954 -- o crime resultou na morte major-aviador Rubens Vaz.
A autoria intelectual do assassinato foi assumida pelo chefe da guarda pessoal de Getúlio, Gregório Fortunato, mas pesaram sobre Benjamim as suspeitas de que teria sido ele o mentor do crime.
Alvo de um inquérito sobre o caso, ele foi inocentado.
O caso acabou por agravar a crise em torno de Vargas, que se matou poucos meses depois.
Roger Clinton - irmão de Bill Clinton
Chamado de "dor de cabeça" pelo serviço secreto americano, o meio-irmão de Bill Clinton deu várias mostras de que fazia jus ao apelido: foi preso por quinze meses por porte de cocaína em 1985.
Depois, foi por dirigir embriagado. Em 2012, um novo escândalo: foi acusado de pagar para que duas mulheres lutassem entre si enquanto assistia à briga em sua casa.
Billy Carter - Irmão de Jimmy Carter
Em 1978, Billy, simpático e bom de copo, fez uso de um discurso antissemita para defender os países islâmicos.
Em 1980 foi acusado de receber um “empréstimo” de 220.000 dólares, a título de vendas de petróleo que teria realizado na condição de “agente do governo da Líbia no exterior”.
Na ocasião, Carter declarou em entrevista à televisão: “Eu espero que as pessoas compreendam que eu não tenho nenhum controle sobre meu irmão”.