Tudo sobe, menos os salários 30/05/2015
- Marcelo Sakate e Bianca Alvarenga - revista VEJA
Os últimos meses têm sido estressantes para a famÃlia Santos.
Ana e Ernesto, pais de Artur, Rafaela e Alexandre, elegeram a educação e a formação dos filhos como o investimento mais valioso que poderiam fazer.
Ernesto, dono de uma consultoria de vendas, começou a sentir o aperto no rendimento quando as empresas que o contratavam diminuÃram a demanda por serviços.
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Ao mesmo tempo, as despesas passaram a ficar mais pesadas.
Com menos folga no orçamento, a famÃlia se viu obrigada a eliminar gastos para manter a faculdade do primogênito, o curso de alemão da filha do meio e a escola do filho mais novo.
As mudanças de hábitos da famÃlia Santos representam um microcosmo do novo padrão de consumo dos lares brasileiros nos últimos meses, com reflexos sobre toda a economia.
Em bares e restaurantes badalados, as filas minguaram.
Dois em cada três brasileiros reduziram os gastos com lazer fora de casa, segundo dados da consultoria Nielsen.
"Sempre dá para procurar um restaurante que não seja o mais caro", diz o economista.
São tempos difÃceis corroborados pelos números fracos generalizados da atividade.
Os dados sobre o desempenho da economia no primeiro trimestre do ano, divulgados ontem, mostraram uma queda de 0,9% no consumo das famÃlias em relação ao mesmo perÃodo de 2014.
Foi o pior resultado desde 2003.
O produto interno bruto (PIB) como um todo recuou 1,6%. Se o calendário de doze meses acabasse em março, a economia brasileira teria encolhido 0,9%.
Não existem mais dúvidas. O paÃs está em recessão. O desemprego aumentou, e os rendimentos reais (descontada a inflação) estão em queda.
As dificuldades para as famÃlias são ainda maiores por causa da inflação.