Cachê de Lula não é para qualquer um, diz Paulo Okamotto 14/06/2015
- ANDRÉIA SADI - FOLHA DE S.PAULO
Presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto afirma que as palestras do ex-presidente, com custo médio de cerca de R$ 300 mil, não são para qualquer um.
"É um cachê alto. Não é para qualquer empresa pagar", diz o braço direito do ex-presidente no instituto, comparando-o ao jogador Neymar.
Okamotto será chamado para explicar a doação de R$ 3 milhões à entidade pela empreiteira Camargo Corrêa, investigada no esquema de corrupção na Petrobras.
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Ele rechaça irregularidades nas contas do instituto e diz que os petistas não têm mais "o direito de errar".
Leia principais trechos de entrevista.
Qual é o cachê do ex-presidente e como é a rotina das palestras?
- É uma negociação comercial. Depende do interesse que a gente tem na palestra, tem palestra gratuita e outras cobradas.
E como é feita a diferenciação?
- Tem palestra que nos interessa falar, você não cobra. Tem palestra que a motivação teria que ser empresarial: por que vou me deslocar para falar sobre determinados assuntos? Depende muito.
Você negocia com os donos das empreiteiras?
- Não é "donos das empreiteiras"! O Lula fez muitas palestras, para várias empresas. A dele tem um cachê alto. Realmente, não é para qualquer empresa pagar.
Por quê?
- Porque é alto. O Lula, a ideia que a gente tem é que ele não é uma pessoa que vai ficar fazendo palestra. É um político, por isso que a palestra dele é elevada.
Lula não tem como missão fazer palestra motivacional, de tudo quanto é tipo. As palestras dele eram para falar do Brasil, como ele vê a América Latina, a África.
É uma palestra de uma pessoa de sucesso que tem visão do mundo e as pessoas querem saber como é que ele fez. Lula é muito agradável e quem vê a palestra dele gosta.
São R$ 300 mil por palestra?
- Se você pegar os valores, são mais ou menos esses.
É meio caro, não?
- Deve ter gente que cobra muito mais caro que isso. Suponho que esses comentaristas políticos que fazem palestra sobre Brasil devem cobrar muito mais que isso. Ele também faz de graça.
Para quem?
- Movimento sindical, social, outros partidos políticos, organizações multilaterais.
Você acha que Lula é contratado porque é amigo dos donos das empresas?
- Por que é legal uma empresa levar certos comentaristas, palestrantes? Porque agrega valor à imagem da empresa. É que no Brasil a gente pensa pequeno. Você levar o Pelé, o Neymar para fazer uma palestra, agrega valor.
Mas Lula não é o Neymar...
- Em termos de personalidade, acho que sim, não? Você não acha que tem muita gente que reconhece valor nele?
Lula tem informação privilegiada do governo. Ele fala sobre isso nas palestras?
- Ele falava muito do governo dele. É muito uma venda do que aconteceu no governo. Se você, como brasileiro, vir o que aconteceu no Brasil nos últimos 10, 14 anos, você vai ver que foi uma coisa extraordinária. Todo mundo cresceu.
Perguntam sobre 2018?
- Fazemos palestras para empresários, as pessoas são mais comedidas, ouvem e refletem. Não é um comício. Muitas são feitas fora do país, têm um público diferenciado.
Se quebrarem o sigilo do Instituto Lula, vão achar problema?
- Minha querida, veja bem: estou com quase 60 anos.Tenho trajetória politica de mais de 30 anos. Já vi muitas coisas acontecerem.
Ninguém é criança, irresponsável, para fazer coisa errada. Ninguém tem mais o direito de fazer coisa errada. Eu pelo menos já não me sinto no direito de errar. Para uma pessoa que chegou onde eu cheguei, não só eu, mas outros que chegaram onde nós chegamos, não temos mais o direito de fazer bobagem.
Se você for analisar as contas do instituto, se analisar nossas palestras, não tem o mínimo de possibilidade de ter erro. Porque não temos esse direito mais. Temos experiência para isso. Não somos irresponsáveis.
A experiência é o mensalão?
- É difícil falar essas coisas. A versão que a imprensa divulga do mensalão e a visão do senso comum não é a mesma que a minha. Acho que a gente cometeu erros no mensalão, mas é diferente o tipo de erro. Mas é difícil falar, aí você [publica na entrevista] ''reconhece que errou''. Eu acho que erramos, é outro tipo de erro, não o erro pelo qual fomos condenados.
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Paulo Okamotto, 56 anos, técnico industrial pelo Senai e administrador de empresas pela Universidade Católica de Brasília. Ex-sindicalista e ex-presidente do Sebrae.