Em encontro com religiosos, Lula faz duras crÃticas a Dilma e a sua gestão: ela está no volume morto 21/06/2015
- TATIANA FARAH E JULIANNA GRANJEIA - O GLOBO
Como se estivesse em um confessionário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu o coração a um seleto grupo de padres e dirigentes de entidades religiosas no auditório de seu instituto, anteontem, em São Paulo.
Em tom de desabafo, criticou duramente a presidente Dilma Rousseff e creditou ao governo dela, sobretudo no segundo mandato, a crise vivida pelos petistas.
Para Lula, a taxa de aprovação da companheira está no “volume mortoâ€, numa referência à situação hÃdrica paulista, e, com o silêncio do Planalto, o “governo parece um governo de mudosâ€.
Para ilustrar a profundidade do poço em que se meteu o PT, Lula citou uma pesquisa interna do partido, que revela que a crise se instalou no coração da legenda, o ABC Paulista.
Lula cobrou da presidente, e tem feito isso em outras reuniões reservadas, uma agenda positiva e mais exposição pública.
Para o petista, Dilma deixou o governo mais distante dos mais pobres.
— Na falta de dinheiro, tem de entrar a polÃtica. Nesses últimos cinco anos, fizemos muito menos atividade polÃtica com o povo do que fizemos no outro perÃodo — disse ele, citando as conferências nacionais com grupos sociais:
Durante a reunião, Gilberto Carvalho, que saiu do núcleo central do governo Dilma depois de muitas crÃticas à atuação da equipe da presidente, concordava com Lula, completava frases e assentia com a cabeça enquanto o ex-presidente subia o tom:
O problema seria, de acordo com ele mesmo, que o próprio PT desconhece o conteúdo do plano.
“OS MINISTROS TÊM DE FALARâ€
O petista, que não falou com os padres sobre uma possÃvel candidatura à Presidência em 2018, mas não esconde que pode concorrer ao terceiro mandato, disparou fortemente contra os ministros, sobretudo os do PT.
— Os ministros têm de falar. Parece um governo de mudos. Os ministros que viajam são os que não são do PT. Kassab já visitou 23 estados, não sei quem já visitou 40 estados —exagerou.
O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, preside o PSD e quer recriar o Partido Liberal.
Foi citado mais uma vez, para criticar o desânimo dos lÃderes petistas:
— Aà não dá. Kassab já tá criando outro partido e a gente não tá defendendo nem o da gente!
O ex-presidente ressaltou ainda que “inaugura-se (obra do) Minha Casa Minha Vida todos os diasâ€, mas que os polÃticos locais não destacam o papel do governo nas obras.
Para criticar o empenho de Dilma na aprovação do ajuste fiscal, Lula afirmou:
— Primeiro: inflação. Segundo: aumento da conta de água, que dobrou. Terceiro: aumento da conta de luz, que para algumas pessoas triplicou. Quarto: aumento da gasolina, do diesel, aumento do dólar, aumento das denúncias de corrupção da Lava-Jato, aquela confusão desgraçada que nós fizemos com o Fies (Financiamento Estudantil), que era uma coisa tranquila e que foram mexer e virou uma desgraceira que não tem precedente. E o anúncio do que ia mexer na pensão, na aposentadoria dos trabalhadores.
Nesse momento, Lula resgatou as promessas não cumpridas por Dilma durante a última campanha eleitoral.
Os petistas têm se desdobrado para defender, desta vez, o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, acusado de integrar o esquema descoberto pela Operação Lava-Jato, numa mudança em relação à postura adotada sobre o ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Durante as investigações do mensalão, a direção do PT expulsou Delúbio, que só voltou a ser defendido pelos principais nomes da legenda quando começou o julgamento no Supremo.
— Nós começamos a quebrar a cara ao tratar do mensalão juridicamente. Então, cada um contratou um advogado. Advogado muito sabido, esperto, famoso, desfilando por aÃ, falando que a gente ia ganhar na Justiça. E a imprensa condenando. Todo dia tinha uma sentença. Quando chegou o dia do julgamento, o pessoal já estava condenado — disse Lula.