PF flagra deputado do PFL com sete malas de dinheiro vivo 11/07/2005
- Folha Online e Agência Estado
O deputado João Batista (PFL-SP) foi instado a prestar depoimento à Polícia Federal no aeroporto de Brasília sobre as sete malas cheias de dinheiro que tentava embarcar no hangar da TAM.
Os recursos ainda não foram contabilizados e a origem do dinheiro é desconhecida até o momento, mas havia nas malas pelo menos R$ 6 milhões.
A PF vai solicitar ao Banco do Brasil ou do Banco Central uma máquina de contar dinheiro para ajudar a fazer a contabilidade. Uma das malas estava tão pesada que foi transportada por dois policiais.
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A PF ainda não sabe o que fazer com o deputado. Por ter foro parlamentar, João Batista, 61, que é economista e técnico em contabilidade, só poderia ser preso por crime inafiançável.
Segundo a Polícia Federal, ainda não está configurado crime, mas o deputado precisa comprovar a origem do dinheiro. Se confirmada a irregularidade, ele será levado à Superintendência da PF em Brasília.
De acordo com informações preliminares da PF, o deputado teria dito que os recursos eram da Igreja Universal. Junto com João Batista, que é bispo, mais seis pessoas -- nenhuma delas é parlamentar -- foram detidas e prestam depoimento.
Policiais mostram malas apreendidas com deputado
A PF informou que o deputado embarcaria para Goiânia em um jato particular da Igreja Universal.
A polícia soube das malas através de uma denúncia anônima.
Acompanhavam o bispo, além do piloto e co-piloto, dois pastores da Universal e duas mulheres.
Batista filiou-se ao PFL em 2001 e no ano seguinte foi eleito deputado. O bispo, que cumpre seu primeiro mandato no Legislativo, foi diretor presidente do canal UHF Rede Mulher -- uma das emissoras da Igreja Universal de 1999 a 2002. Entre 1992 e 1996, o deputado esteve à frente da presidência da Rede Record.
Dinheiro é resultado de doação de fiéis, diz Universal
A Igreja Universal do Reino de Deus divulgou nota nesta segunda-feira em que afirma que o dinheiro apreendido pela Polícia Federal hoje no aeroporto de Brasília ¨é resultado de doações de fiéis¨.
A Polícia Federal deteve nesta manhã o deputado João Batista (PFL-SP) e mais seis pessoas que transportavam sete malas, com um total de pelo menos R$ 6 milhões. O dinheiro estava em notas de R$ 100, R$ 20, R$ 10 e até R$ 5. Na primeira mala, a PF contabilizou R$ 600 mil em notas de R$ 10.
Segundo a legislação, não é crime transportar altas somas de dinheiro nacional, mas, caso o dinheiro seja descoberto, o transportador é obrigado a revelar a fonte do dinheiro. A lei também prevê que as igrejas (não só a Universal, mas todas) estão isentas de pagar Imposto de Renda sobre doações.
Na nota, a Igreja Universal afirmou que centraliza o pagamento de despesas (impostos, aluguéis, empregados e contas de consumo) de todos os seus templos em sua sede nacional, no bairro paulista de Santo Amaro. A matriz também centraliza os controles contábeis e financeiros da igreja.
Segundo o comunicado da Igreja Universal, (o transporte de dinheiro em malas) ¨é uma decisão administrativa em função da burocracia do sistema bancário¨, e que ¨o dinheiro transportado no avião, apreendido pela Polícia Federal hoje, tinha como finalidade o depósito em São Paulo para pagamento das despesas referidas anteriormente¨.
Ainda segundo o comunicado, ¨o dinheiro é resultado de doações dos fiéis em uma comemoração especial ocorrida ontem nos templos da Igreja Universal. Sábado, dia 9 de julho, comemorou-se o 28º aniversário de existência da IURD¨.
Para a Polícia Federal, a situação do deputado ¨não é confortável¨, já que até agora ele não explicou sobre a origem do dinheiro. O único documento entregue até o momento foi uma carta assinada pelo próprio deputado que informa que o dinheiro é da igreja. No entendimento preliminar da polícia, a carta não tem validade legal.
No início da noite, a PF prendeu 11 pessoas dentro do pátio da superintendência tidas como suspeitas de uma suposta tentativa de roubo do dinheiro apreendido hoje no aeroporto de Brasília com o deputado João Batista (PFL-SP).
Como os suspeitos estavam armados, a polícia temia que o grupo poderia tentar roubar o dinheiro. Segundo a polícia, na primeira abordagem, eles disseram que estavam fazendo segurança. Alguns deles se identificaram como policiais militares.
Nova cúpula do PT decide ¨monitorar¨ companheiros ministros
A cúpula do PT vai monitorar os ministros do partido. Na primeira reunião da Executiva sob nova direção, os petistas aprovaram propostas de trabalho com termos pomposos, que constam do organograma de grandes corporações.
Um deles é o ¨programa de relacionamento¨ com os ministros do PT, que, a partir de agora, deverão prestar contas ao partido. O outro é o ¨gabinete de crise¨, instalado no sábado com o objetivo de coordenar a ação das bancadas do PT na Câmara e no Senado, que hoje batem cabeça, além da atuação dos parlamentares do partido nas CPIs dos Correios e do Mensalão.
¨Não se trata de enquadrar os ministros do PT¨, disse o novo presidente do partido, Tarso Genro, ele próprio ministro da Educação até o dia 27, quando deverá deixar o governo. Tarso observou, no entanto, que o relacionamento do partido com os ministros será diferente daquele que foi estabelecido na gestão de José Genoino, o presidente do PT que renunciou ao cargo depois da prisão do ex-assessor parlamentar de seu irmão, pego em flagrante com uma mala recheada com R$ 209 mil, além de US$ 100 mil na cueca.
¨Entendemos que os ministros devem ao PT informações e explicações sobre o trabalho que estão fazendo para que o partido possa colaborar¨, disse Tarso. Na contramão do argumento de que partido e governo precisam ter autonomia, o PT quer, na prática, ter maior controle sobre os titulares de pastas comandadas pela legenda, especialmente sobre Antônio Palocci, da Fazenda. Dono de idéias que causam arrepios aos petistas, Palocci prega agora o ¨choque de gestão¨, que prevê a redução dos gastos públicos e pode afetar os investimentos na área social.
O senador Eduardo Suplicy (SP) foi o autor da proposta do diálogo com Palocci. ¨Achei que, dado o interesse despertado pelo déficit nominal zero, taxa de juros e distribuição de renda, poderíamos chamá-lo. Foi quando Tarso disse que gostaria de ter um relacionamento diferente com vários ministros do governo, e não apenas com Palocci¨, contou Suplicy.
Jornal inglês fala em Palocci para presidente em 2006
A crise política no Brasil continua sendo notícia na imprensa européia. Dois jornais britânicos e um espanhol destacam nas edições desta segunda-feira as dificuldades do presidente Lula em tentar a reeleição, agravadas com a queda do presidente do PT, José Genoino.
O britânico The Guardian citando fontes em Brasília, afirma que Lula poderá não tentar a reeleição no próximo ano, abrindo caminho para o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. ¨Tal desdobramento dramático enviaria ondas de choque pela América Latina, que viu vários líderes de esquerda chegarem ao poder na esteira de Lula¨, diz.
¨Apesar de previsões pessimistas antes de assumir, Lula conquistou uma economia estável e em crescimento, seguindo as mesmas políticas básicas de seu antecessor¨, diz. Segundo o diário, até o momento o presidente não foi atingido pelo escândalo, mas o dano já feito.
O inglês Financial Times diz que uma cada vez mais profunda crise política ameaça prejudicar o governo após o presidente do PT renunciar ao cargo no fim de semana em meio a crescentes acusações de corrupção.
O espanhol El País afirma que Lula está ¨agüentando a tempestade¨, mas lembra que ¨falta um ano para as novas eleições presidenciais, e há duas semanas Lula parecia que iria ganhar sem problemas¨.
A reportagem diz que, com as acusações de corrupção dentro do PT e ¨altos cargos caindo um atrás do outro¨, o futuro de Lula é incerto. ¨O presidente está no centro da tempestade e tenta não se molhar. Mas está cada vez mais difícil¨, afirma o texto.