No último dia 17 de julho, uma sexta-feira, recebi um email de meu instituto com o seguinte teor:
“A Gerência de Administração e Planejamento está solicitando que quem tenha microscópio para arrumar entre em contato urgente com 'x', visto que a empresa virá à Sinop na próxima semana.â€
Em outro email relacionado ao mesmo tema, enviado no dia 20 de julho, segunda-feira:
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“Pedimos desculpas quanto ao curto prazo, entretanto justificamos que somente tivemos uma definição sobre os serviços no final da tarde da última sexta-feira. Reforçamos a importância na entrega dos equipamentos, tendo em vista que não temos previsão de novas manutençõesâ€.
Esses e-mails tiveram uma importância imediata e imensa para mim, professora de primeiro semestre com turmas grandes e falta crônica de microscópios.
Desde que passei a ser servidora da UFMT, há 6 anos, nunca foi realizada a manutenção de um microscópio sequer.
Fui informada de que deveria entregar os equipamentos no setor, e assim o fiz, na data de 22 de julho.
Eu tinha um total de quarenta aparelhos necessitando de manutenção, e o otimismo era tal que mesmo com o auxÃlio de poucos, tendo que transportar os aparelhos em condições questionáveis -- meu carro -- e fazer isso debaixo do sol de Mato Grosso a toque de caixa por conta do prazo exÃguo, fiz de boa vontade.
Faria de todos os laboratórios se tivesse tempo e energia, pois devo ser a professora que mais reclama da falta de manutenção destes equipamentos, e acho que quem reclama deve ser o primeiro a se prontificar em cooperar com a resolução do problema.
No entanto, não pude deixar de refletir sobre a falta de cuidados com os equipamentos, que tinham de ser deixados no chão, e por serem equipamentos utilizados para manipular material biológico desconhecido dos servidores da Tecnologia da Informática, permaneciam no local gerando um imenso desconforto e uma certa insegurança para os mesmos.
Tive que tirar umas fotos, documentar o que eu estava vendo, tal a tristeza que me deu.
Não que nossos microscópios sejam carÃssimos, mas e se fossem?
Não sou eu quem ensina no inÃcio do curso que não importa o valor de um equipamento, a responsabilidade do profissional deve ser a mesma?
E eu estava transportando os aparelhos no carro e largando-os no chão... mas tudo bem, ou era assim ou seriam mais 6 anos talvez sem manutenção de microscópios.
Junto dos computadores havia projetores apinhados, caixas de computador, vários equipamentos de laboratório quebrados e sem conserto (já tendo ido e voltado de Cuiabá), e os microscópios no chão.
Pensei em perguntar pro meu colega se não seria bom colocar uma planta ali, mas achei que ele consideraria ser deboche.
E aà vem a parte final, que me provocou a tal ponto de eu pedir este espaço para escrever o que aconteceu, ou publicar de alguma forma o ocorrido.
Dos quarenta que eu trouxe, do laboratório pro carro, do carro pra o setor de informática, debaixo do sol, um dia inteiro de trabalho, quantos serão?
Uns dez talvez, avaliando o mar de microscópios no chão da STI.
Penso em quantos professores nem trouxeram seus equipamentos pois, diferentemente de mim, já sabiam que seria assim, esse desrespeito, falta de caso, desconsideração e por aà vai.
Lembro de quando enviamos equipamentos para Cuiabá que voltaram quebrados muito tempo depois.
E quando a gente começa a lembrar, lembra muita coisa...
As fotos eu vou guardar, desse 22 de julho de 2015, pois sei que a esperança que senti de manhã foi tão legÃtima quanto a tristeza do fim do dia.
Dia de marcha em BrasÃlia e eu tive a minha marcha em Sinop.
Quem sabe um dia teremos um setor de manutenção de equipamentos de laboratório, quem sabe poderemos trabalhar com mais eficiência e eficácia e nos sentir respeitados como profissionais; 22 de julho já está acabando e eu lembro de 2012, tantas esperanças e tão pouco mudou.
Nesse momento, eu como servidora pública e professora de uma universidade federal me sinto um daqueles microscópios que larguei no chão da sala.
...
*Gerdine Sanson, professora no Campus de Sinop. Artigo publicado no Informativo nº 134/2015 da Associação dos Docentes da UFMT - ADUFMAT