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Pará será o único estado sem recessão, aponta estudo
15/10/2015
- MARCELLO CORRÊA - O GLOBO
A recessão próxima de 3% prevista para este ano vai se espalhar pelas regiões do paÃs.
Com a disseminação da crise econômica, nenhum estado brasileiro conseguirá crescer em 2015, segundo projeções do banco Santander.
A instituição prevê que, entre as 27 unidades da federação, só o Pará escapará por pouco da recessão: deve fechar o ano com PIB estagnado, melhor número do levantamento.
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No Rio, a contração prevista é de 2,5%. Se a estimativa se confirmar, será a primeira vez desde 1996 — inÃcio da série histórica do IBGE -- que a economia de todos os estados terá desempenho negativo ou nulo.
No estudo, o banco projeta que o PIB do paÃs encolherá 2,8% em 2015.
A previsão é semelhante à dos economistas do mercado financeiro, que esperam contração de 2,97%, de acordo com o mais recente boletim Focus, pesquisa do Banco Central com mais de cem instituições financeiras.
A economia brasileira não enfrenta uma recessão desde 2009, quando, na esteira da crise global, recuou 0,2%.
Nem naquele ano o tombo foi tão disseminado: em 2009, o PIB de 17 das 27 unidades da federação avançou.
AJUSTE FICAL MAIS DIFÃCIL
Esse ano será diferente, dizem analistas. Parte disso é atribuÃdo à magnitude da crise.
Os economistas responsáveis pelo estudo do Santander alertam que o desempenho da atividade econômica entre 2014 e 2016 deve ser o pior desde 1900, inclusive dos triênios da crise de 1929 e da dÃvida, nos anos 1980, a chamada década perdida.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o ritmo lento da economia faz a disseminação ser inevitável.
Nem as regiões que se beneficiaram da fase áurea de commodities na última década, como o Centro-Oeste, devem escapar. De acordo com os dados mais recentes do IBGE, a região registrou o segundo maior crescimento médio entre 1995 e 2010, de 4,3%, perdendo só para o Norte (4,7%).
No mesmo perÃodo, o Brasil cresceu, em média, 3,1%.
O instituto excluiu do levantamento os números mais recentes, pois prepara para o mês que vem a divulgação de dados recalculados, considerando a nova metodologia do PIB, introduzida nos números nacionais no inÃcio do ano.
— A ideia é de que praticamente todos os estados terão queda do PIB este ano. Recessão de 3% acaba afetando toda a economia. Mesmo regiões antes ganhadoras, como o Centro-Oeste, não conseguirão escapar - afirma Vale.
O analista lembra ainda que o pé no freio deve dificultar o reequilÃbrio das contas públicas estaduais, o que pode levar a mais aumento de imposto.
— O grande problema é que, com a queda de receita e as restrições da Lei de Responsabilidade Fiscal, é provável que os estados tenham que continuar subindo impostos como o ICMS. Mais ainda, 2016 será outro ano de recessão nos estados - avalia o economista.
PERNAMBUCO TERà CONTRAÇÃO DE 4%
Além da recessão nacional, pesam sobre as projeções fatores regionais. É o caso de Pernambuco, pior estado no ranking do Santander, com previsão de contração de 4%.
Na série histórica do IBGE, a região só registrou queda no PIB em dois anos: 1998 (-0,4%) e 2003 (-0,6%). Parte do resultado esperado para 2015 é influenciado pela paralisação de obras da refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, que deve levar a construção civil no estado a uma queda de 14,1%.
Na avaliação de Tatiane Menezes, professora de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o estado também sofre com a saÃda de empresas que, no passado, receberam incentivos fiscais para se instalar na região e, com a crise, começam a fechar filiais.
— Essa projeção (de queda de 4%) é bem realista. O tipo de polÃtica de incentivo fiscal que foi feito em Pernambuco perde força. Quando você entra numa situação de recessão forte, as filiais daqui são as primeiras a fecharem as portas, porque os custos ficam muito altos. Pernambuco está longe do principal centro consumidor do Brasil, que é São Paulo - analisa Tatiane.
Os efeitos do ambiente de recessão são amenizados em estados sustentados por dois setores que, na contramão do PIB, registram resultados positivos: indústria extrativa e agropecuária.
Segundo o IBGE, os segmentos cresceram no primeiro semestre 10,4% e 3%, respectivamente.
Melhor para o Pará, onde a extração de minério responde por 30% da economia.
Em ano de crise, o crescimento zero previsto para o estado lidera o ranking do Santander.
Já no Mato Grosso, onde a agropecuária representa 29% do PIB, a previsão de alta de 4,1% do setor ajudará o estado a fechar o ano com queda abaixo da média nacional: 1,4%.
EXPORTAÇÃO AJUDA O PARÃ
Segundo a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), o setor de minérios responderá por 28,58% dos investimentos previstos para o estado.
A entidade, ligada ao governo estadual, prevê alta de 2,48% do PIB em 2015.
— Mesmo com a queda do preço dos minérios no mercado internacional, e apesar da diminuição da receita com vendas por tonelada exportada, o estado do Pará vem apresentando contÃnuos superávits comerciais explicados em grande parte pelo aumento do volume exportado - afirmou o presidente da Fapespa, Eduardo Costa, por e-mail.
No Rio, o recuo previsto, de 2,5%, é influenciado pela queda projetada de 6,6% na construção civil e de 1,2% no setor de serviços, que tem peso de 58% sobre o PIB do estado.
Embora negativos, os números indicam uma queda menos intensa que a média nacional -- a expectativa é que, em todo o paÃs, a construção civil registre queda de 8% e os serviços, de 1,4%.
O economista Mauro Osório, professor da UFRJ e especialista em economia fluminense, destaca que a região é afetada pela crise polÃtica e do setor de óleo e gás.
— O Rio de Janeiro tem um desafio importante de adensar sua estrutura produtiva. Acho positivo a Petrobras estar no Rio. Por mais que a empresa desacelere, vai ter um investimento de mais de R$ 100 bilhões. Acho que isso é uma janela de oportunidade para o Rio, desde que a gente consiga ter uma estratégia de atrair atividade em torno do complexo de petróleo e gás. Além disso, é importante investir em infraestrutura - afirma Osório.
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