R$ 4 milhões pelo lobby: os contratos milionários de Lula com a Odebrecht 17/10/2015
- THIAGO BRONZATTO, COM ANA CLARA COSTA E ALANA RIZZO - REVISTA ÉPOCA
No final da manhã de quinta-feira, 15 de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava bem-humorado.
Ao seu estilo sedutor, Lula fez piadas com o procurador da República Ivan Cláudio Marx, ao dizer que o Corinthians, seu time, será campeão brasileiro.
Procurou defender-se na investigação, revelada por ÉPOCA em maio, que apura se ele praticou tráfico de influência internacional em favor da empreiteira Odebrecht.
Num termo de declaração de quatro páginas obtido por ÉPOCA, ele sustenta que todos os eventos para os quais foi contratado estão contabilizados em sua empresa L.I.L.S. -- um acrônimo de seu nome.
Foi por meio dela que Lula ficou milionário desde que deixou o Palácio do Planalto, em 2011.
ÉPOCA obteve cópia dos contratos privados, notas fiscais e descrições das relações entre o ex-presidente e sua principal contratante.
Nomeado projeto “Rumo ao Caribeâ€, as viagens de Lula bancadas pela Odebrecht inauguraram um padrão de relacionamento do ex-presidente, poucos meses após deixar o Planalto, com a empreiteira-chave da Lava Jato.
O tal anexo, no entanto, possui duas linhas que mencionam apenas que o ex-presidente ficaria hospedado no Hotel Marriott de Caracas.
Quando superposto aos documentos do Instituto Lula sobre o mesmo evento, vê-se que Lula se encontrou com o empresário EmÃlio Odebrecht, pai de Marcelo Odebrecht, hoje preso em Curitiba, e com o então presidente venezuelano, Hugo Chávez, morto em 2013.
Era um momento de tensão entre o governo venezuelano e a empreiteira, que cobrava uma dÃvida de US$ 1,2 bilhão.
Telegramas sigilosos do Itamaraty sugerem que Lula e Chávez trataram sobre a dÃvida.
A Odebrecht construÃa, desde 2009, a linha II do Metrô de Los Teques e a linha 5 do Metrô de Caracas.
A pressão de Lula surtiu efeito. Quatro dias após a visita do ex-presidente a Caracas, Chávez se encontrou com a presidente Dilma em BrasÃlia. Naquele momento, a dÃvida com a Odebrecht já estava acertada.
Nos dias 30 de junho e 1o de julho de 2011, Lula foi contratado pela Odebrecht para dar uma palestra na Assembleia Nacional em Luanda, capital da Angola, sobre “O desenvolvimento do Brasil - modelo possÃvel para a Ãfricaâ€.
No dia 6 de maio de 2014, Lula e EmÃlio Odebrecht voltaram a se encontrar em Angola.
O ex-presidente viajou, numa aeronave cedida pelo governo angolano, de Luanda para a provÃncia de Malanje, onde visitou a usina de açúcar e etanol Biocom, sociedade entre a Odebrecht Angola e a Sonangol.
Em dezembro do ano passado, sete meses após a visita de Lula, o ministro de finanças de Angola, Armando Manuel, assinou o acordo de financiamento com o BNDES.
Após quatro meses preso, o executivo foi libertado ontem por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, após quatro meses preso em Curitiba, no Paraná.
O contrato original, que selou a parceria da Odebrecht com Lula, leva a assinatura de Alexandrino e de Paulo Okamotto, braço direito do ex-presidente.
Lula e Alexandrino se conhecem desde os tempos de Lula no Planalto. A proximidade entre eles era tão grande que se cumprimentavam com um beijo no rosto.
Essa intimidade se intensificou após 2011, quando Lula passou a defender, ao lado de Alexandrino, os interesses da Odebrecht no exterior.
Um relatório de perÃcia do MPF sobre os movimentos migratórios de Lula e o ex-funcionário da Odebrecht aponta que os dois companheiros compartilharam ao menos cinco voos juntos nos últimos quatro anos, de acordo com dados extraÃdos do sistema de tráfego internacional da PolÃcia Federal.
Um dos destinos da dupla foi uma caravana para Cuba e República Dominicana entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro de 2013. Lula recebeu R$ 373 mil pelas palestras.
Naquela ocasião, Lula visitou o Porto de Mariel, parceria entre a Odebrecht e o governo cubano.
Ao todo, a obra recebeu US$ 832 milhões do BNDES com um prazo para pagamento de 25 anos -- e com uma parte das garantias atreladas à produção de fumo na ilha.
Quatro meses após a passagem de Lula por Cuba, o banco estatal brasileiro liberou a quinta parcela do financiamento do projeto, de US$ 229,9 milhões (R$ 482,7 milhões), que estava represada devido ao atraso nos pagamentos e à falta de garantias para a operação.
Em 31 de janeiro, Lula desembarcou na República Dominicana, onde se encontrou com o presidente Danilo Medina.
E lá foi o lÃder petista visitar, novamente, outro canteiro de obras da Odebrecht.
Seis meses depois, a Odebrecht conseguiu mais US$ 114 milhões (R$ 228 milhões) do BNDES para desenvolver o corredor Viário Norte-Sul no paÃs.
O ex-presidente foi convidado pela empresa para fazer palestras para empresários, investidores e lÃderes polÃticos sobre as potencialidades do Brasil e de suas empresas, exatamente o que têm feito presidentes e ex-presidentes de outros paÃses, como Estados Unidos, França e Espanhaâ€.
A Odebrecht nega que Lula tenha feito lobby em seu favor junto a governos estrangeiros.