Governo piora previsão para economia com queda do PIB de 2,8% 28/10/2015
- Veja.com + Estadão
O governo piorou a leitura que faz do quadro econômico do país para 2015.
Ontem, a equipe econômica apresentou a projeção de retração de 2,8% do produto interno bruto (PIB).
A projeção anterior era de queda de 2,4%
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A estimativa aparece no documento "Cenário Fiscal de Outubro de 2015", divulgado pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Os dados que aparecem no documento balizam, por exemplo, as projeções de arrecadação, necessárias para a definição do orçamento.
O reconhecimento de piora do quadro econômico já havia ficado claro no início da tarde, quando o deputado Hugo Leal (Pros-RJ), relator do projeto de lei que altera a meta de 2015, informou que o governo admitiria que terá déficit primário de 51,8 bilhões de reais em 2015, valor que não inclui as chamadas "pedaladas fiscais", que serão reconhecidas e deverão deixar o déficit ainda maior.
O governo tem revisado sua projeção para o desempenho da economia brasileira em 2015 desde o primeiro semestre -- e sempre para pior.
Em abril, a estimativa era de retração de 0,9%. A previsão passou a -1,2% em maio, passou a -1,5% em julho, em agosto, a -1,8%, desceu a 2,4% em setembro até, por fim, chegar aos 2,8% apresentados nesta terça-feira.
O enfraquecimento da atividade econômica, a alta do desemprego e da inflação e o aumento da incerteza têm levado a quedas sucessivas do índice de confiança do consumidor, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Em setembro, o indicador atingiu o menor nível de sua série histórica, iniciada em março de 2010.
O total de desempregados soma 1,9 milhão de pessoas. Segundo o IBGE, em agosto, o índice atingiu seu maior nível desde março de 2010 nas seis principais regiões metropolitanas do país, quando também chegou a 7,6%.
Inflação
A inflação medida pelo IPCA, indicador de referência da economia brasileira, acumula alta de 7,6% até setembro, segundo o IBGE.
Esse é o maior nível da inflação para esse período desde 2003.
O centro da meta de inflação, que serve de norte para as decisões sobre taxa de juros do Banco Central, é de 4,5%, patamar que o IPCA alcançou já em abril
Dólar
As incertezas sobre a economia brasileira e também sobre o cenário político têm na cotação do dólar um de seus termômetros mais precisos.
Em setembro, quando às crises econômica e política somou-se a perda do selo de bom pagador dado ao país pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, o dólar atingiu sua maior cotação desde que o real foi criado, em 1994
Recuperação judicial
A recuperação judicial é um instrumento que serve para que as empresas ganhem mais tempo para renegociar débitos -- e, com isso, tentar evitar a falência.
Foram 913 pedidos registrados entre janeiro e setembro, o maior volume para esse período desde 2006, segundo o Serasa Experian.
Indústria
A indústria de transformação é um dos setores que mais têm sofrido com a piora do quadro econômico.
Em 2015, o aumento da produção industrial só ocorreu em dois dos oito primeiros meses do ano, segundo o IBGE.
A queda ocorrida em agosto, em comparação com agosto de 2014, foi a mais forte para esse mês desde o início da série histórica, em 2003.
Juros
A elevação da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, ocorreu como parte da tentativa do Banco Central de conter a inflação, já que a Selic mais alta eleva o custo do crédito, o que tende a reduzir o consumo (e, portanto, a alta dos preços).
Foram sete elevações consecutivas, que levaram a Selic aos atuais 14,25% ao ano, seu maior nível desde outubro de 2006.
Bolsa
A queda da bolsa não diz respeito apenas a quem tem dinheiro aplicado em ações.
Ela é um dos termômetros da confiança de investidores e empreendedores na economia brasileira.
Em setembro, o Ibovespa, principal indicador da Bovespa, desceu a seu menor nível desde abril de 2009.
Balança comercial
Embora tenha sido positivo em quase todos os meses de 2015 até o momento, o saldo da balança comercial (diferença entre importações e exportações) também é uma evidência do momento ruim vivido pela economia brasileira.
Primeiro, porque o resultado deve-se, em grande parte, ao aumento dos valores das exportações causado pela valorização do dólar.
Além disso, a alta da moeda americana reduziu fortemente as importações, muitas vezes usadas para que as empresas possam, por exemplo, modernizar seu parque de máquinas.
É por isso que o saldo de setembro, de 2,94 bilhões de dólares, não pode ser lido sozinho. Ele é mais um reflexo do cenário negativo.
Produção de veículos
A produção de veículos em setembro foi a menor para esse mês em 12 anos.
Segundo a Anfavea, entidade que reúne os fabricantes, o ano de 2015 deve encerrar com 2,4 milhões de unidades produzidas, volume 23,2% menor do que o do ano passado.
As restrições ao crédito, o aumento do desemprego e da inadimplência explicam a retração do setor.
Com o cenário negativo, o Brasil perdeu para o México a liderança na fabricação de veículos na América Latina.
O país agora é o oitavo colocado no ranking mundial de produção de veículos.
Poupança
Os saques da poupança, que já somam mais de 50 bilhões de reais em 2015, tiveram em setembro seu maior volume de retiradas para o mês desde 1995.
Os saques refletem a alta dos juros, que leva os aplicadores a buscar investimentos de melhor retorno, mas especialmente o aumento do desemprego.
As demissões exigem que os recém-desempregados o aumento dos saques para fazer pagar suas contas.
Cheques sem fundos
Mais um quadro que reflete a piora das finanças do brasileiro comum é o de cheques sem fundos.
Segundo o indicador Serasa Experian, os cheques devolvidos somaram 2,11% em agosto, o pior resultado para esse mês desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 1991.