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Bancada do PT no Senado se diz traída pelo partido e Planalto
27/11/2015 - O GLOBO

A bancada do PT no Senado se sentiu traída pelo presidente do partido, Rui Falcão, e pelo Palácio do Planalto, e deverá procurar a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, e a direção petista para conversar sobre os desdobramentos da prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS).

Na noite de quarta-feira, os senadores se reuniram para analisar a situação.

Consideraram que governo e PT tiraram rapidamente o corpo fora e deixaram o problema no colo da bancada.


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Somado a isso, consideraram que houve total falta de articulação, a ponto de ter sido conhecida pela bancada por meio do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).

— É preciso um freio de arrumação para unificar o discurso. Temos que conversar. Não houve uma articulação, uma coordenação entre PT, governo e Senado. A bancada ficou destruída - disse um petista.

Os senadores se mostraram irritados por não terem sido avisados por Falcão do teor da nota e porque seu conteúdo, praticamente antecipando a expulsão de Delcídio do PT, interferiu na posição dos outros partidos, que recuaram e passaram a defender que a votação fosse aberta.

Em nenhum momento, relataram senadores do partido, Falcão discutiu o conteúdo da nota.

O líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), tomou um susto ao ver Caiado lendo o texto em plenário.

Tentou falar com Falcão por telefone, mas não conseguiu.

Pela manhã, o dirigente havia ligado para o líder petista, mas somente para aferir o clima no Senado sobre a prisão de Delcídio.

— Se Rui tivesse falado com a gente, poderíamos talvez até ter tomado outra decisão, defender o voto aberto. De qualquer forma, acho que não se faz isso com um companheiro, é covardia - afirmou um senador petista ao GLOBO.

Nas palavras de outro petista, o dia foi um desastre:

— O governo e o PT jogaram Delcídio aos leões na primeira hora do dia. O governo, logo de pronto, deixou claro que já procurava um líder.

No encaminhamento de voto sobre a questão se a votação seria aberta ou fechada, Costa anunciou que o PT votaria contra.

Foi o único partido a se posicionar dessa maneira.

Depois que o placar demonstrou que 52 haviam votado pelo voto aberto, num prenúncio de que o Senado não afrouxaria a prisão de um de seus membros, Costa mais uma vez encaminhou sua bancada para votar pela soltura de Delcídio.

O resultado foi que ainda teve duas deserções.

O líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), liberou a bancada que foi majoritariamente contra o afrouxamento.

Depois da sessão, senadores petistas avaliaram que deveriam ter seguido o mesmo caminho dos peemedebistas, já que Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA) avisaram que votariam pela manutenção de Delcídio na prisão.

Antes de se reunir com a cúpula partidária, no entanto, o PT no Senado tem uma preocupação mais instantânea.

Delcídio era o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a segunda mais importante do Senado.

A discussão que se trava agora é se o partido deve indicar já outro nome ou não, atropelando o líder que está preso.

Outro assunto a ser resolvido é a liderança do governo no Senado, escolha que depende de Dilma.

Houve uma conversa preliminar com o senador peemedebista Blairo Maggi (MT), mas ele sinalizou que não quer o posto.

Outra possibilidade é fazer com que o senador José Pimentel (PT-CE) acumule a função com a liderança do governo no Congresso.

GOVERNO AINDA TENTA APROVAR AJUSTE

Um dia depois da prisão do líder do governo no Senado, o governo quis demonstrar que está reagindo ao forte baque.

No Palácio do Planalto, assessores reconhecem a gravidade do caso, mas dizem que a vida segue e que todo o esforço agora está centrado em retomar os trilhos das votações das matérias econômicas.

A articulação política do governo quer votar a mudança da meta na próxima terça-feira e em seguida a repatriação e DRU.

Na visão de auxiliares da presidente Dilma Rousseff, o governo enfrenta um surto de microcefalia, o maior desastre ambiental da história e uma grave crise econômica.

E por isso não pode se dar ao luxo de se deixar imobilizar por mais esse revés.

— O líder do governo foi preso e a vida continua. O governo não pode mostrar paralisia. O trem não saiu do trilho, apenas teve uma parada brusca e inesperada, mas vai voltar a andar. O governo tem que superar o caso Delcídio e conseguir aprovar as medidas. É um caso de vida ou morte para o governo, que se não aprovar os ajustes, fragiliza-se - ponderou um assessor palaciano.

O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, passou o dia conversando com lideranças dos partidos da base para sentir a temperatura.

Apesar da "ressaca", a avaliação é que há condições para reorganizar a base e retomar as negociações para aprovar as pautas do governo.

Se não der para votar na próxima semana, tentarão na outra e assim por diante.

Mesmo sem a presença de Dilma em Brasília na próxima semana (ela viaja para Paris, Japão e Vietnã), a articulação palaciana mantém a determinação de escolher o novo líder do governo no Senado na semana que vem.

Sobre uma possível delação premiada de Delcídio, fontes palacianas dizem que não há motivos para Dilma se preocupar.

Classificam a atuação do senador como pessoal e desvinculada do governo.

Lembram que Dilma sempre apoiou integralmente a operação Lava-Jato, já disse que todos os crimes cometidos têm que ser investigados doa a quem doer e continuará fazendo isso.

— Mil pessoas já tentaram envolver a Dilma na Lava-Jato. Ninguém conseguiu e nem vai conseguir. Não há nada que o Delcídio diga que possa incriminar a presidente. O governo está tranquilo, Dilma está segura - afirma um auxiliar presidencial.


  

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