Dilma ataca Cunha, mente e nada fala sobre razões do impeachment 02/12/2015
- Laryssa Borges - Veja.com
A presidente Dilma Rousseff se pronunciou por volta das 20:30 desta quarta-feira sobre a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de acolher o pedido de impeachment contra ela.
Metade do discurso foi dedicado a cotoveladas em Cunha. A outra, a mentiras -- a presidente negou que o Planalto tenha tentado barganhar o arquivamento do documento em troca dos votos petistas a favor de Cunha no Conselho de Ética.
A presidente reforçou, assim, o discurso petista, já propalado nas redes sociais do partido, segundo o qual o impeachment seria um golpe contra a democracia.
"Não podemos deixar conveniências e interesses inconfessáveis abalar a democracia", resumiu.
"[Os argumentos] são inconsistentes. Não existe nenhum ato ilÃcito praticado por mim", alegou.
Dilma afirmou ainda que nunca autorizou qualquer tipo de barganha entre representantes do governo e o presidente da Câmara.
"Eu jamais aceitaria qualquer tipo de barganha que colocasse em risco o funcionamento das instituições ou o Estado democrático de direito", disse.
No entanto, durante toda a tarde o governo procurou Cunha para oferecer-lhe uma última tentativa de acordo: não apenas os três votos no Conselho de Ética como uma defesa pública do peemedebista.
No dia 21 de outubro, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu o pedido de impeachment que começará a tramitar no Congresso.
Os autores alegam que Dilma cometeu crime de responsabilidade, por exemplo, por manter as chamadas pedaladas fiscais em 2015, com atrasos de repasses de recursos do Tesouro a bancos públicos, como o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa Econômica, e omissão de passivos da União junto a essas instituições.
Isso já foi motivo para a rejeição das contas do governo e, na avaliação do peemedebista, configura crime de responsabilidade.
"A argumentação para 2015 envolve a edição de decretos sem número no montante de 2,5 bilhões de reais que foram editados em descumprimento à lei orçamentária", disse o presidente da Câmara.
Confira a Ãntegra do pronunciamento da presidente:
"Boa noite a todos. Dirijo agora uma palavra de esclarecimento a todos os brasileiros e a todas as brasileiras.
No dia de hoje, vocês viram foi aprovado pelo Congresso Nacional o projeto de lei que atualiza a meta fiscal, permitindo continuidade de serviços públicos fundamentais para todos os brasileiros.
Ainda hoje recebi com indignação a decisão do senhor presidente da Câmara dos Deputados de processar pedido de impeachment contra mandato democraticamente conferido a mim pelo povo brasileiro.
São inconsistentes e improcedentes as razões que fundamentam esse pedido. Não existe nenhum ato ilÃcito praticado por mim. Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público.
Não possuo conta no exterior, nem ocultei do conhecimento público a existência de bens pessoais, nunca coagi nem tentei coagir instituições ou pessoas na busca de satisfazer meus interesses.
Meu passado e meu presente atestam a minha idoneidade e meu inquestionável compromisso com as leis e a coisa pública.
Nos últimos tempos e em especial nos últimos dias, a imprensa noticiou que havia interesse na barganha dos votos de membros da base governista no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em troca haveria o arquivamento dos pedidos de impeachment.