PF encontra lista de políticos que receberam dinheiro de sócio de Bumlai 11/12/2015
- Robson Bonin, Hugo Marques e Pieter Zalis - Veja
Em um dos endereços vasculhados pela Polícia Federal em São Paulo, há três semanas, os investigadores da Operação Lava Jato encontraram o que pode ser um tesouro.
Na agenda de Natalino Bertim, parceiro de negócios do pecuarista José Carlos Bumlai, os nomes de alguns dos principais políticos da República aparecem associados a valores doados na eleição de 2010.
Os investigadores ainda irão analisar as informações para descobrir se os recursos foram, de fato, repassados aos políticos.
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O passo seguinte será descobrir se as doações foram registradas na Justiça Eleitoral ou se foram realizadas por meio de caixa dois.
Na maioria das anotações, o empresário registra "valores combinados" com os políticos, parcelas pagas e as respectivas datas em que cada valor foi entregue, e ainda especifica se o dinheiro foi pago "em reais".
Um dos primeiros nomes a surgir na agenda do dono do Grupo Bertim é o do vice-presidente Michel Temer (PMDB), que teria recebido 2 milhões de reais na campanha de 2010.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), é citado como beneficiário de 1 milhão de reais.
Ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, o petista Edinho Silva aparece em dois trechos da agenda. Ele teria recebido 650.000 reais.
A lista ainda inclui parlamentares da oposição.
Os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) e Ronaldo Caiado (DEM) são citados como beneficiários de 500.000 reais cada um.
"A pedido do ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes", como registra na agenda Natalino Bertim, a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos (PP) teria recebido 100.000 reais.
A lista de políticos é extensa, chegando a quase 30 nomes de candidatos dos mais diferentes estados, entre deputados estaduais e federais, candidatos a governos estaduais e, claro, candidatos à Câmara e ao Senado.
Nelson Trad Filho, prefeito de Campo Grande, é citado como beneficiário de 500.000 reais.
Candidato ao Senado por São Paulo, em 2010, o cantor Netinho teria recebido 500.000 reais.
Ex-governador do Mato Grosso do Sul, o petita Zeca do PT teria recebido 1 milhão de reais.
Preso em Curitiba, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto recebe 250 000 reais.
Por ser "amigo de Vaccari", o também ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira leva 515 000 reais.
Na agenda de Natalino Bertim também aparecem os nomes dos deputados federais, eleitos em 2010, Domingos Sávio (50.000 reais), Jorge Tadeu Mudalen (500 000 reais), Arnaldo Jardim (500 000 reais) e Jilmar Tatto (100 000 reais).
Atual primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara, o deputado Beto Mansur (PRP-SP) teria recebido 300 000 reais.
Eleito deputado federal em 2010, o petista Cândido Vaccarezza é outro agraciado com 1 milhão de reais.
Os investigadores da Operação Lava Jato apreenderam o material durante a operação "Passe Livre", que levou para a prisão o pecuarista José Carlos Bumlai.
Amigo de Lula, Bumlai aparece ao lado do ex-presidente e da ex-primeira-dama Marisa Letícia em diferentes ocasiões sociais.
Bumlai foi citado por diversos delatores da Lava Jato como integrante da quadrilha que desviou mais de 21 bilhões de reais dos cofres da estatal.
Ouvidos por VEJA, os políticos citados apresentaram versões divergentes sobre as anotações de Natalino Bertim.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, negou ter recebido qualquer recurso do empresário.
"O Grupo Bertin nunca foi doador de minhas campanhas a prefeito de Araraquara ou deputado estadual; tampouco foi doador do PT estadual paulista, quando da minha gestão como presidente".
O vice-presidente, Michel Temer, confirmou ter recebido e declarado à Justiça Eleitoral os 1,5 milhão de reais em três parcelas de 500.000 reais, o que confere com parte das anotações de Natalino Bertim.
Eduardo Cunha também confirmou ter recebido a doação do empresário.
VEJA entrou em contato com os demais políticos citados e aguarda retorno.