Garotos dormem no chão e vão a pé para jogos de Copa Amazônica Sub-17 15/12/2015
- Bruno Willemon e Ivonísio Júnior - GloboEsporte.com
Longe do glamour de grandes jogadores do mundo da bola, há quem percorra caminhos difíceis em busca do sonho de ser um atleta profissional.
É o caso do time sub-17 do São Raimundo-RR, que precisou driblar adversários não vistos dentro das quatro linhas: falsas promessas e condições desumanas.
A equipe viajou cerca de 14 horas e 865 km (780 de Boa Vista-RR a Manaus-AM e 85 até Manacapuru) para uma competição no interior do Amazonas.
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Os jogadores dormiram dias amontoados no chão e tiveram o jogo semifinal adiado e foram obrigados a retornarem pra Roraima porque não tinham mais condições de se manter no local.
A Copa Amazônia de Futebol Sub-17 deveria ser disputada entre os dias 8 e 12 de dezembro, mas terminou no último domingo, com um dia de atraso.
Após os roraimenses vencerem os adversários dentro de campo e se classificarem para a semifinal, foram informados que a semi seria adiada da última sexta para o sábado.
Longe de casa, dormindo no chão e sem condições financeiras e psicológicas para ficar mais um dia no Amazonas, comissão técnica e jogadores resolveram voltar pra casa antes da hora.
O silêncio só foi rompido ontem, segunda, quando o treinador do time, Beto Vieira, decidiu mostrar o que os jogadores vinham sofrendo.
- Desde o início sofremos com a falta de responsabilidade da parte organizadora. Tivemos que correr atrás e preparar nossa comida porque não estava sendo fornecida e íamos ao estádio a pé. Outra coisa é que estávamos dormindo no chão. O alojamento até que era agradável em Manacapuru, mas não tinha camas, nem colchões e os jogadores tiveram que ficar em pequenos colchonetes. Mesmo estando na semifinal optamos por desistir da disputa. Queriam que a gente fosse para outro município (Rio Preto da Eva) sem logística nenhuma - disse Vieira.
O treinador roraimense ainda afirma que de Manaus-AM para Manacapuru-AM, o deslocamento foi feito em um micro-ônibus, juntamente com alguns jogadores do Tapajós-PA, time que integrava o grupo A da competição, junto com o São Raimundo-RR. Eram 37 pessoas em um veículo com capacidade para 20 passageiros.
- Foi muito complicada a ida para Manacapuru. Alguns jogadores foram em pé, outros sentados no chão, pois uma parte da equipe do Tapajós também estavam conosco neste deslocamento. Então imagina 22 pessoas da nossa delegação (São Raimundo-RR), mais 15 deles, 37 pessoas, todas em um micro-ônibus que só comportava umas 20 pessoas - disse Vieira.
Nedson Silva, membro da organização do evento, afirma que o acordo prévio é de que não seria cobrada taxa de inscrição, nem de arbitragem, de campo.
Porém, segundo Silva, Johnny Mendes Júnior, outro organizador, acertou extraoficialmente antes do início da competição com os clubes as questões que envolviam alimentação, estadia e deslocamento para a disputa das partidas nos locais dos jogos.
- Estes pontos (estadia e alimentação) deveriam ser acertados diretamente com o Júnior. Além disso, eu só soube do problema com alimentação e hospedagem no segundo dia do clube roraimense em Manacapuru-AM. Com isso, eu mesmo saí de Manaus-AM e fui tentar dar uma assistência a eles (São Raimundo-RR) - afirma Nedson.
O GloboEsporte.com tentou falar com Johnny Mendes Júnior, mas nenhum contato estabelecido nos quatro números disponibilizados foi atendido.
O jogador Luan de Souza lamenta não ter ido mais adiante na competição, mas fala que o sofrimento e vontade de voltar para casa eram maiores.
Mesmo que quisessem ficar, o São Raimundo-RR não tinha mais condições financeiras de permanecer, já que o orçamento era para ficar até o dia 12.
- As condições que nos deram foram as piores. Nos disponibilizaram apenas alguns colchonetes para dormirmos e não comportava a todos, com isso estávamos dormindo praticamente no chão. A organização deixou os alimentos lá pra gente e falaram pra nos virarmos para fazer a comida.
Luan afirma ainda que não possuía gás para a preparação dos alimentos e relata sobre as condições em que estavam no local.
- O alojamento estava sem gás, tivemos que comprar. Foi tudo muito complicado, era jogo em cima de jogo e não tinha nem como dormir, nem como se alimentar direito. Só queríamos voltar para casa, pois não tínhamos como ficar naquela situação - disse o jogador que pretende superar as dificuldades extracampo para manter o sonho.