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PT e PMDB: eles brigam, mas são sócios no petrolão
19/12/2015 - Daniel Pereira e Pieter Zalis - VEJA

Com a posse de Lula na Presidência da República, o PT arquitetou um plano audacioso para se perpetuar no poder.

A ideia era usar a máquina federal, com seus cargos e orçamentos bilionários, para comprar o apoio de partidos, sem ceder um milímetro de terreno no avanço sobre as liberdades democráticas.

Foi assim que nasceu o mensalão.


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"Os profanadores da República", conforme expressão cunhada pelo decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, desviaram recursos públicos e contrataram empréstimos fraudulentos em bancos privados para subornar parlamentares e fechar alianças no Congresso.

Quando o esquema foi descoberto, Lula viu seu mandato ameaçado.

Para afastar o risco de responder a um processo de impeachment, convidou o bom e velho PMDB, o eterno fiador de qualquer presidente de turno, para se tornar sócio do PT no governo.

Como prova de boa vontade, abriu aos peemedebistas as portas de setores estratégicos da administração -- entre elas, as da Petrobras.

O resultado dessa sociedade, formalizada há mais de uma década, recebeu o nome de petrolão, o maior escândalo de corrupção da história do país.

Desde a deflagração da Operação Lava-Jato, as autoridades colheram depoimentos e documentos que indicam que a verba roubada da Petrobras financiou as campanhas presidenciais de Lula e de Dilma Rousseff, enriqueceu estrelas petistas, como o mensaleiro José Dirceu, e bancou a boa vida de políticos de diferentes partidos.

Amigo de Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai confessou às autoridades que repassou ao PT 12 milhões de reais que pegou emprestados no Banco Schahin.

O valor foi usado para financiar a campanha do amigo e para comprar o silêncio de uma testemunha que ameaçava implicar o ex-presidente no enredo, ainda nebuloso, do assassinato do petista Celso Daniel, então prefeito de Santo André.

Eis mais um caso típico em que uma mão sujou a outra.

Idealizadores do assalto bilionário aos cofres da estatal, os petistas sempre tiveram o papel de protagonista nessa trama criminosa.

Na semana passada, no entanto, os investigadores obrigaram o PMDB a assumir o centro do tablado, como beneficiário de um presidencialismo de coalizão sustentado, literalmente, com dinheiro surrupiado dos cofres públicos.

Na nova etapa da Operação Lava-­Jato, a Polícia Federal cumpriu 53 mandados de busca e apreensão e atingiu em cheio os mais importantes caciques do PMDB, que disputam entre si o comando do partido e as benesses distribuídas pelo Palácio do Planalto a fim de impedi-los de fazer oposição.

O alvo principal da ação foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de receber propina do petrolão, obstruir a investigação do caso e usar o cargo para constranger adversários.

Houve busca e apreensão na residência oficial da presidência e na casa de Cunha no Rio de Janeiro.

A Procuradoria-Geral da República também pediu ao Supremo que o afaste do mandato, o que só deve ser decidido em fevereiro.

A nova fase da Lava-Jato recebeu o nome de Catilinárias, em referência à série de discursos que o cônsul romano Marco Túlio Cícero fez, há mais de 2.000 anos, para acusar o senador Lúcio Catilina de tramar para derrubar a República e assumir o poder:

"Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós esta sua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio?".

Como se sabe, Cunha é a personificação do golpista para a presidente, especialmente depois de ter acolhido o pedido de impeachment contra ela.

Dilma dedica o mesmo epíteto ao vice-­presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), que já tem um plano traçado -- e em execução -- para assumir o poder caso o impedimento dela seja aprovado pelo Congresso.

Temer foi uma espécie de alvo oculto da Catilinárias, que fez busca e apreensão nos endereços de dois ministros do governo Dilma: Celso Pansera (PMDB-­RJ), chamado pelo doleiro Alberto Youssef "de pau-mandado de Eduardo Cunha", e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), braço-direito do vice-presidente.

Depois da ação dos policiais, Cunha repetiu a ladainha de que é vítima de vingança porque deu andamento ao pedido de cassação do mandato de Dilma.

Já Temer negou que trabalhe para derrubar a mandatária. Outros peemedebistas alcançados pela PF pensam de forma diferente.

Entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

A Justiça negou busca e apreensão na casa do senador, mas autorizou os policiais a vasculhar a sede do PMDB de Alagoas, comandado por Renan, e a casa de Sérgio Machado, que dirigiu a Transpetro nos governos do PT graças à indicação do parlamentar alagoano.

Machado é acusado de recolher propinas para Renan, que, segundo um delator do petrolão, Nestor Cerveró, também embolsou pixulecos derivados de contratos firmados na Petrobras.

Em público, o presidente do Senado rechaça as denúncias.

Em privado, reclama do fato de Cunha e Temer terem ido com muita sede ao pote, principalmente ao patrocinar a instalação de uma comissão especial de maioria oposicionista para decidir sobre o pedido de destituição de Dilma.

Enquanto os dois conspiram, Renan mantém a fé num acordo com a presidente e com Lula para que todos, petistas e peemedebistas, salvem seus mandatos, a sociedade partidária da corrupção e o projeto de poder.

Na semana passada, Renan e Temer chegaram a bater boca em razão da divisão interna do partido. O vice chamou o senador de coronel.

Este retrucou dizendo que o colega, quando comandou a articulação política do governo, estava preocupado com cargos, emendas e a cartilha do fisiologismo.

Há debates em que os dois lados têm razão.

Os ânimos não estão exaltados à toa.

Está cada vez mais claro que, apesar das tentativas, as investigações em curso não serão detidas por acordos de bastidor, conchavos entre poderosos e juízes ou artimanhas processuais que fomentaram a tradição brasileira de impunidade.


  

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