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Delator da Lava Jato diz que pagou cerca de R$ 7 milhões para Dirceu
23/01/2016
- Fernando Castro - G1-PR
O delator da Operação Lava Jato Júlio Camargo afirmou ontem em interrogatório na Justiça Federal do Paraná que fez pagamentos de cerca de R$ 7 milhões oriundos propina para o ex-ministro José Dirceu.
Segundo o lobista, já condenado em dois processos, os recursos foram pagos para emissários de Dirceu, e através de horas de voo em aeronaves de Camargo.
Além das condenações, Júlio Camargo ainda é réu no processo que apura a participação de José Dirceu no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
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O interrogatório é a última etapa antes das alegações finais, que precedem a sentença. José Dirceu será interrogado na próxima sexta-feira (29).
O advogado Roberto Podval, que representa o ex-ministro, afirmou que os valores recebidos por Dirceu não eram propina. “Todos os pagamentos feitos e recebidos por ele foram por conta de serviços prestados. Não é verdadeâ€, disse ao G1.
Questionado pelo juiz Sérgio Moro, Júlio Camargo disse que os pagamentos para José Dirceu foram feitos a pedido do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque.
O delator disse que tinha uma conta corrente junto com Duque e o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco para pagamentos de propina.
“Num momento Renato Duque me chamou e disse, Júlio, da nossa conta corrente eu quero que você destine R$ 4 milhões a José Dirceuâ€, relatou.
A defesa de Renato Duque não atendeu às ligações da reportagem.
A partir de então, o delator diz que foi procurado por outro operador, Milton Pascowitch, que se apresentou como representante de José Dirceu e estabeleceu um cronograma de pagamentos.
Deste total, R$ 2 milhões foram pagos entre 2008 e 2009, e R$ 1 milhão em 2010, sempre em dinheiro retirado por emissários de Dirceu, nunca pessoalmente por ele.
“O saldo de R$ 1 milhão foi feito numa conta de afretamento de aviões que o ministro utilizava e que eram de minha propriedadeâ€, detalhou.
Esses pagamentos já haviam sido mencionados por Camargo em outro depoimento à Justiça.
Além desses pagamentos, porém, Júlio Camargo disse nesta sexta que fez repasses de uma comissão que recebeu por intermediar um negócio de uma empresa de tubos com a Petrobras, na qual contou com apoio de Renato Duque.
“Fui chamado novamente pelo Duque e ele disse que metade dessa comissão eu tinha que destinar ao José Dirceuâ€, disse.
Por esse contrato, Júlio Camargo disse que repassou cerca de R$ 3 milhões para emissários do ex-ministro. Ele não soube precisar as quantidades, mas disse que neste caso o repasse também dividido entre entregas de dinheiro ou horas de voo.
Apesar de ter conhecido José Dirceu pessoalmente, inclusive o recebendo em casa para jantares, Camargo disse que nunca falou sobre propina com ele.
“Na minha frente ele nunca conversou sobre propina. O ministro José Dirceu nunca chegou pra mim e disse: Júlio, saiu esse contrato, estou precisando. Nuncaâ€, garantiu.
Perguntado por Moro, porém, o delator disse que acreditava que Dirceu sabia que o dinheiro que recebia era intermediado por ele. “O ambiente mostrava que a regra do jogo era conhecida não só pelos empresários, mas pelos polÃticos tambémâ€, justificou.
Compra de avião
Júlio Camargo ainda negou que tenha sido sócio de José Dirceu em uma das aeronaves utilizadas pelo ex-ministro. Camargo disse que foi procurado por Pascowitch, que negociou a compra de parte de um dos aviões em nome da empreiteira Engevix.
O delator disse que, inclusive, chegou a receber o dinheiro de Pascowitch em 2011, mas que o negócio não se concretizou.
“Eu vendi a aeronave para a Engevix, nunca para José Dirceu. O Milton alegou que a Engevix não queria mais, porque a compra não havia passado numa reunião do conselhoâ€, disse o delator.
Júlio Camargo disse que acredita que Pascowitch tenha utilizado recursos que seriam de José Dirceu para fazer o negócio, mas que com a desistência da Engevix precisou dos recursos para fazer o acerto com o ex-ministro.
O delator disse que, após ser pressionado por Pascowitch, acabou estabelecendo um cronograma de pagamentos, e que restituiu os valores integralmente.
Com o acordo de delação firmado por Júlio Camargo, o avião foi entregue ao Ministério Público, disse.
Outro lado
O advogado de José Dirceu, Roberto Podval, disse que todo o dinheiro que o ex-ministro recebeu foi em função de serviço prestado, com nota fiscal emitida.
Afirmou ainda que Dirceu não recebeu propina de Júlio Camargo e que tem a impressão de que as pessoas se favorecem nas delações usando o nome de José Dirceu.
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