Em discurso gravado para impeachment, Temer fala em governo de salvação nacional 12/04/2016
- Laryssa Borges - Veja.com
Principal beneficiário do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) encaminhou ontem a aliados um discurso em que trata o prosseguimento do impedimento da presidente como certo e em que ele próprio discorre como funcionaria um eventual governo seu.
O processo de impeachment, porém, ainda está na fase da comissão processante provisória e será levado ao plenário da Câmara apenas no próximo domingo.
Mesmo sem a apreciação do processo, Temer diz no áudio se que manifesta depois de "uma votação significativa declarar a autorização para a instauração de processo de impedimento" e afirma que "muitos me procuraram para que eu desse uma palavra preliminar à nação brasileira, o que faço com muita modéstia, cautela e moderação".
PUBLICIDADE
A assessoria do vice-presidente afirmou que o áudio foi enviado por "engano".
Em seu discurso, Michel Temer fala em manter programas sociais e os aprimorar, se possível, e disse que sua tarefa como presidente seria coordenar um "governo de salvação nacional".
"Temos ainda um longo processo pela frente, passando pelo Senado Federal. Minhas palavras são provisórias", afirma.
Na sequência, continua: "Não quero avançar o sinal. Até imaginaria que eu poderia falar depois da decisão do Senado Federal, mas evidentemente que quando houver uma decisão definitiva do Senado, preciso estar preparado para enfrentar os graves problemas que afligem o nosso país".
"A grande missão a partir desse momento é a pacificação do país. É preciso um governo de salvação nacional e, portanto, de união nacional. É preciso que se reúnam todos os partidos políticos e que todos os partidos políticos estejam dispostos a dar sua colaboração para tirar o país da crise. Sem essa unidade nacional, penso que será difícil tirar o país da crise em que nos encontramos".
Temer admite erro em divulgação, mas reitera discurso*
O vice-presidente Michel Temer reconheceu que enviou de maneira equivocada áudio no qual antecipou discurso sobre vitória no impeachment, mas disse que, independentemente do que ocorra na votação do próximo domingo (17), continuará sustentando o mesmo discurso da gravação.
Em rápida entrevista à imprensa, o peemedebista explicou que, a pedido de companheiros do partido, gravou discurso que poderia fazer caso o pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff fosse aprovado no plenário da Câmara dos Deputados.
Na hora de repassar para um amigo, no entanto, acabou enviando a um grupo de parlamentares peemedebistas.
"Eu reitero que aquilo que disse seria exatamente o que eu fiz no passado e continuarei a fazer independentemente do que aconteça no domingo", disse. "Ainda que o governo federal continue tal como está, continuarei sustentando as mesmas teses. Não mudei um centímetro daquilo que falei no passado", acrescentando.
O peemedebista disse não acreditar que o discurso altere o resultado da votação do domingo (17) e fez uma provocação ao ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, que chamou o vice-presidente de "golpista".
"Não vou responder, certas afirmações não merecem a honra da minha resposta", disse.
Em conversa com a Folha, o ministro disse que o discurso de Temer "revela a trama golpista que o vice e sua turma vêm demonstrando há semanas".
"Estou estupefato. Ele está confundindo a apuração de eventual crime de responsabilidade da presidente Dilma com eleição indireta. Está disputando votos e transformou o processo numa eleição indireta para conseguir votos em favor do impeachment. Esse áudio demonstra as características golpistas do vice", declarou Berzoini.
Segundo relatos, ao ser informada do áudio, a presidente Dilma Rousseff repetiu a assessores e a auxiliares que "caiu a máscara do conspirador", em referência ao vice-presidente.
ESTRATÉGIA
Para o Palácio do Planalto, a divulgação foi proposital e faz parte de estratégia de Temer para consolidar os votos a favor do impeachment e conquistar o apoio de parlamentares ainda indecisos no momento em que ele se apresenta como uma alternativa de poder.
O governo pondera, contudo, que, ao se antecipar à votação no plenário, Temer acabou dando um "tiro no pé" e cometeu o mesmo erro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nas eleições municipais de 1985, em São Paulo.