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Mantega e Coutinho usaram BNDES para pedir doações, diz Odebrecht
08/05/2016 - MARINA DIAS E VALDO CRUZ - FOLHA DE S.PAULO

Marcelo Odebrecht relatou a procuradores da Operação Lava Jato, em roteiro para negociar sua delação premiada, que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega eram os responsáveis por cobrar doações para a campanha de Dilma Rousseff em 2014.

Segundo o empreiteiro, ex-presidente e herdeiro do grupo que leva seu sobrenome – e que está preso desde junho de 2015 no Paraná –, Coutinho e Mantega dividiam a tarefa de obter o compromisso de doações entre empresários que tinham financiamento do BNDES para projetos no exterior.

As declarações de Odebrecht são uma tentativa de fechar acordo de colaboração com o qual conseguiria benefícios, como a redução de pena. Ele já foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e por integrar organização criminosa.


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Apesar das revelações, a Lava Jato ainda não fechou o acordo de delação premiada.

Os procuradores cobram que o empresário explique como funcionaria o esquema de financiamento de projetos no exterior de empreiteiras brasileiras por meio do BNDES.

A Folha apurou que a Lava Jato acredita que Odebrecht pode trazer novidades nesta área, na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendia interesses de construtoras brasileiras na disputa de projetos na América Latina e na África.

As obras financiadas pelo banco de fomento no exterior e executadas pela Odebrecht tiveram um salto a partir de 2007. De 1998 a 2006, a média anual de financiamento de obras da empresa fora do Brasil era de US$ 166 milhões. De 2007 a 2014, passou para US$ 1 bilhão.

PROPINA

Por meio da delação de executivos da Andrade Gutierrez, os investigadores da Lava Jato já sabem que o PT cobrava 1% de propina de empréstimos concedidos pelo BNDES para financiar obras fora do país. A empresa, porém, isentou o banco de participar de um esquema de corrupção. Coutinho e Mantega negam qualquer conversa sobre doações de campanha.

Segundo a Folha apurou, um ex-executivo de uma construtora envolvida na Lava Jato disse que, em agosto de 2014, ouviu de Coutinho, ao final de reuniões técnicas sobre financiamentos do BNDES, perguntas sobre a relação da empresa com o então tesoureiro da campanha de Dilma, o hoje ministro Edinho Silva (Comunicação Social).

O empresário, que à época discutia sobre os valores a serem doados para a campanha à reeleição da petista, entendeu as perguntas do presidente do BNDES como uma forma de pressão.

O acordo para a doação foi fechado nas semanas seguintes.

Mantega já havia sido citado na Lava Jato como responsável por negociar doações para a campanha dilmista, inclusive com intermediação de pagamentos de caixa 2.

Mulher do marqueteiro João Santana, Monica Moura, também em tentativa de fechar colaboração premiada, disse que o ex-ministro se reuniu com ela por mais de uma vez para indicar executivos de empresas, inclusive da Odebrecht, que deveriam ser procurados para receber contribuições em dinheiro que não foram declaradas à Justiça Eleitoral.

Relatos de empresários dão conta de que Mantega e Coutinho eram responsáveis, em 2014, por receber grandes empreiteiros e pedir que eles se reunissem com Edinho para que "continuassem a ser ajudados" pelo governo.

Perguntado pelos investigadores, Odebrecht confirmou ainda que Dilma deflagrou uma ofensiva para garantir a liberdade de empreiteiros presos na Lava Jato, inclusive a dele.

A trama teria contado com a nomeação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça, como revelou o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) em sua delação premiada.

A delação de Delcídio já foi usada de base pela Procuradoria-Geral da República para pedir ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para investigar a presidente.

Dilma nega as acusações e diz que as declarações de Delcídio são "mentirosas" e "levianas".

OUTRO LADO

Procurados pela reportagem, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega afirmam que "nunca" trataram de doações para campanhas eleitorais.

Em nota, Coutinho afirmou que "este tema [as doações] jamais foi abordado durante qualquer contato com executivos da Odebrecht ou de qualquer outra empresa" e que "os financiamentos para a exportação de bens e serviços de engenharia brasileiros em obras de infraestrutura obedecem a uma governança baseadas em órgãos colegiados".

"Os desembolsos ocorrem, exclusivamente, no Brasil, em reais, e mediante a efetiva comprovação, por empresas de auditoria independente, da realização das exportações financiadas", completa a nota.

Por meio de seu advogado, José Roberto Batochio, o ex-ministro Mantega afirmou que "jamais tratou de assunto de campanha de quem quer que seja" e que "rechaça essa insinuação".

"Como ministro da Fazenda, Guido Mantega se ocupava de outras políticas públicas e, como membro do PT, jamais teve a incumbência de tratar de doações de campanha", afirmou Batochio.

Então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2014, Edinho Silva afirma que as doações foram legais e que as contas da campanha da petista foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

O PT e o tesoureiro João Vaccari Neto negam que o partido tenha feito cobranças de propina em relação a empréstimos concedidos pelo BNDES a empreiteiras referentes a projetos financiados no exterior.

Vaccari e a sigla afirmaram que todas as doações realizadas para a campanha foram legais.


  

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