Presidente Dilma disse que poderia me ajudar no STF, diz Eduardo Cunha 15/05/2016
- NATUZA NERY - FOLHA DE S.PAULO
Na primeira entrevista desde que foi afastado da presidência da Câmara pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Eduardo Cunha acusa Dilma Rousseff de ter lhe oferecido "ajuda" de cinco ministros do Supremo em seu último encontro reservado com a petista, em setembro de 2015.
"Ela me convocou para falar de medidas e sei lá o quê e disse que tinha cinco ministros do Supremo para poder me ajudar", afirmou à Folha.
Mesmo afastado do mandato, Cunha usava o broche privativo dos deputados na lapela esquerda do paletó.
Para a entrevista, vestiu uma gravata igual à do dia em que rompeu publicamente com o governo Dilma – 17 de julho de 2015, data que repete sem precisar consultar a memória.
"Fui alvo de uma cassação branca", queixa-se.
À Folha o presidente contou como conseguiu evitar que o governo conquistasse um álibi para se livrar das pedaladas de 2015.
Ele aceitou o pedido de impeachment horas antes da previsão da votação pelo Congresso da nova meta fiscal, que poderia, segundo ele, dar à presidente um "discurso" para justificar as manobras.
Isso não reforça a tese de que o sr. forçou a mão do impeachment?
- Eu já estava com a decisão tomada, posso comprovar. Era só uma questão de tempo. Quando eu vi que ia ter a mudança da meta, eu falei: "tem que ser antes", se não você enfraqueceria.
Horas poderiam ter mudado o destino da presidente.
- Não sei se poderia ter salvado, mas que efetivamente daria para eles uma desculpa, daria. O fato de ter votado não significa que ela não teria praticado crime. Mas era fundamental, na minha ótica, que essa decisão fosse feita antes da votação, para evitar um discurso polÃtico. Essa foi a razão pela qual eu soltei [o pedido] naquele dia. Não tem outra razão.
- Porque já estava decidido. Não aceitei ser comprado com o voto do PT.
E se o governo não tivesse rompido com você?
- Eu que rompi com o governo em 17 de julho. Quem rompeu com o governo fui eu. Eles tentaram várias vezes fazer acordo, várias vezes. Eles não tentaram só esse tipo de acordo.
Que outros?
- A presidente, no dia em que eu estive com ela, em 1º de setembro, fui para uma audiência que ela convocou para falar de medidas e sei lá o quê. Ela disse que tinha cinco ministros do Supremo para poder me ajudar.
strong>Ela disse isso? Em que contexto?
- Disse isso. Ela não disse os nomes nem ajudar no que. Eu simplesmente ignorei. Teve uma outra oportunidade em que o governador [do Rio de Janeiro Luiz Fernando] Pezão, numa segunda-feira que eu estava aqui em BrasÃlia, agosto ou setembro, simplesmente me telefonou porque precisava falar comigo urgente. Ele disse: 'eu estava querendo ir almoçar com o Michel no Jaburu'. Eu disse: 'Pezão, quer me encontrar lá?'. E ele foi. Chegando lá, pedi licença ao Michel eu fui para uma sala sozinho com ele, que veio com a mesma história de que ela tinha cinco ministros do Supremo para me ajudar.
- Com muita sinceridade, eu estou muito tranquilo. Não posso temer nada, porque quem não faz nada não tem o que temer. Acho que as instituições têm que acabar funcionando para proteger os direitos.
Se você fizer uma análise fria, os votos que o candidato do PT teve contra mim foram os votos para evitar o impeachment. Ela não agregou nada. Uma articulação polÃtica "organizações tabajara". Eu me lembro muito bem de uma frase: as duas coisas orgânicas que existiam no Congresso eles estavam querendo jogar fora – o PMDB e a CNB [corrente majoritária] do PT. Ela errou na escolha do ministro da Fazenda, ou escolheu direito e o enfraqueceu na própria ação. Ela teve oportunidades para poder dar uma resposta e ter mudado. Porque, quando a economia vai bem, tudo vai bem. Quando a economia vai mal, todo o resto acaba indo mal.
Se o sr. não existisse, não haveria o impeachment.
- AÃ, minha querida, Deus que me colocou lá.
>strong>Deus queria o impeachment de Dilma?
- Não sei, nada acontece se não for pela vontade de Deus.
Foi abandonado por Michel Temer desde seu afastamento?
- Eu estive com ele já, tenho falado com ele quase constantemente, não tenho nenhum problema. Não há o que cobrar. Cobrar o quê? Você tem uma situação inusitada, porque a decisão não foi dele, não foi ele que agiu pra isso. Eu estou sofrendo muito mais uma ação orquestrada dos adversários desse processo de impeachment do que necessariamente dos fatos que acontecem.
O grupo de Temer acha que sua saÃda descontamina a imagem dele.
- Ele está sendo cobrado da participação dos partidos que desprezaram as ofertas fisiológicas e optaram pela solução de resolver o problema do paÃs.