Ambos são petistas. Ambos integram a seleta lista de companheiros da estrita confiança do ex e da ex-presidente. Ambos são investigados pela Operação Lava-Jato.
A cota do ex-ministro era transferida diretamente pela Consist para um escritório de advocacia de Curitiba, que providenciava a redistribuição da propina.
A ideia era não deixar rastro. Mas não funcionou…
A senadora Gleisi Hoffmann foi fisgada pela Lava-Jato logo nos primeiros meses da investigação.
Os policiais descobriram que ela recebera 1 milhão de reais em propinas desviadas da Petrobras. Dinheiro repassado por doleiros.
Era o fio da meada de um escândalo muito maior para o casal mais poderoso da Esplanada.
O escritório de advocacia de Curitiba para o qual o dinheiro era desviado gozava da confiança absoluta de Paulo Bernardo e Gleisi — um de seus sócios, Guilherme Gonçalves, era encarregado de defender a senadora em processos na Justiça.
Era o álibi perfeito.
A Consist fazia de conta que pagava pelos serviços de advocacia e os advogados pagavam as despesas do casal sem deixar rastros.
Mas havia gente que não sabia e tentou descobrir.
Acusado de envolvimento no escândalo, um dos sócios da banca, o advogado Sacha Reck, resolveu agir.
Pediu a uma empresa independente que fizesse uma auditoria nas contas e nos arquivos do escritório.
O resultado surpreendeu.
Foi então que ele descobriu aquilo que a PolÃcia Federal não demoraria a desbaratar: o contrato de serviços jurÃdicos com a Consist não passava de fachada.
Mensagens e planilhas guardadas em pastas secretas registravam o destino final do dinheiro: “Eleitoral — Gleisiâ€.
VEJA teve acesso aos documentos da auditoria entregues às autoridades.
Ao todo, o escritório recebeu 7,2 milhões de reais da Consist. Não se sabe ainda, com precisão, quanto desse valor foi parar no caixa dois eleitoral de Gleisi, mas há fartos indÃcios de que não foi pouco.
De acordo com os investigadores, a propina teria sido usada para pagar de tudo: ônibus para transporte de cabos eleitorais, jantares para prefeitos, motorista particular da senadora, aluguel de um flat usado como escritório informal da campanha.
Um estagiário do escritório fazia o papel de entregador de dinheiro vivo, sempre que necessário.
Em depoimento, ele disse ter ouvido do antigo chefe uma frase que resume bem o esquema: “O dinheiro pertencia a Paulo Bernardo, que intentava bancar a campanha de Gleisi Hoffmann para os cargos que disputasseâ€.
Na próxima terça-feira, o STF decide se aceita ou não a acusação de corrupção contra a senadora no caso do petrolão.
O casamento entre corrupção e caixa dois, ao contrário do que dizem os que desejam uma anistia generalizada, nunca foi tão perfeito.