Em Cuiabá, tucano acusa adversário de integrar esquema de propina 25/10/2016
- Laryssa Borges - Veja.com
Wilson Santos não apresentou provas diretas contra Emanuel Pinheiro, mas entregou uma gravação em que a cunhada do adversário cita pagamentos irregulares.
Na reta final da campanha pela disputa à prefeitura de Cuiabá, o candidato do PSDB Wilson Santos, atrás nas pesquisas de intenção de votos, apresentou ontem, segunda, denúncia em que acusa o adversário Emanuel Pinheiro (PMDB) de envolvimento em um esquema de cobrança de propina por meio da concessão de incentivos fiscais.
O tucano não apresentou provas contra Pinheiro, mas se valeu de uma gravação de áudio em que a cunhada do peemedebista, Bárbara Helena Pinheiro, indica que recebeu pelo menos 2 milhões de reais em pagamentos supostamente ilegais da empresa Caramuru Alimentos, gigante do ramo de processamento de grãos.
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Em uma campanha marcada por episódios de baixaria de ambos os candidatos que concorrem no segundo turno, essa nova acusação é apenas mais um capítulo do baixo nível da campanha em Cuiabá.
Na tarde de ontem, Wilson Santos entregou à Delegacia Fazendária queixa-crime em que acusa a cunhada de Emanuel Pinheiro, Bárbara, o irmão do candidato, Marco Polo Pinheiro, e a irmã de Bárbara, Fabíola Cássia de Noronha Sampaio, de terem usado empresas deles para conseguir que fossem repassados 4 milhões de reais ao político do PMDB.
A prova? Um áudio de cerca de 11 minutos em que Bárbara fala de irregularidades na emissão de uma nota fiscal e diz que a descoberta do pagamento, feito à empresa de advocacia de Fabíola, “vai acabar com a minha vida”. A conversa em que Bárbara fala do repasse financeiro ocorreu em 24 de setembro na casa do próprio Wilson Santos.
Os recursos que abasteceram as contas de Bárbara Pinheiro – e que Wilson Santos insinua que podem ter desaguado nos bolsos de Emanuel – teriam sido pagos depois de a Caramuru Alimentos ter conseguido, em tempo recorde de menos de dez dias, ser incluída no programa de incentivos fiscais do governo do Mato Grosso.
Em 2014, data do episódio, o então secretário de Estado de Indústria e Comércio, responsável por assinar a concessão do benefício, era Alan Fábio Zanatta, ligado a Emanuel.
O candidato do PMDB nega o ter indicado ao posto no governo. Em 2015, a Caramuru deixou o Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Prodeic), o mesmo que o Ministério Público acusa ter sido utilizado por políticos do Mato Grosso para recolher propina a rodo de empresas.
Embora não tenha apresentado documentos que pudessem incriminar o candidato Emanuel Pinheiro no esquema que, pelo menos aparentemente, beneficiou Bárbara Pinheiro, Wilson Santos se apega a um conjunto de indícios para tentar arrastar o adversário do PMDB para o episódio.
Além da suposta vinculação com Zanatta, o político tucano tem como argumento o fato de, ao longo das investigações da Operação Sodoma, Emanuel Pinheiro ter sido citado em delação premiada como o parlamentar a ser procurado para que nomes de empresários não aparecessem no relatório de uma CPI que investigava irregularidades em incentivos fiscais.
O deputado, que chegou a recorrer à justiça para poder integrar a CPI, nega as acusações.
“Toda a movimentação (pedido do incentivos, aprovação, emissão das notas fiscais e pagamentos) ocorreu em pleno período eleitoral no ano de 2014, o que poderia indiciar que os recursos serviriam para utilização na campanha eleitoral, pois no mencionado pleito Emanuel Pinheiro foi candidato e se elegeu deputado estadual”, disse Wilson Santos no documento em que pede que o caso seja investigado.
O tucano utiliza ainda uma das falas de Bárbara gravadas na reunião de 24 de setembro para afirmar que Emanuel Pinheiro tinha conhecimento do esquema e abrigou a mulher do irmão na Assembleia Legislativa como suposta contrapartida pela coleta dos recursos.
“Tem um preço muito alto para a Fabíola e para o Emanuel, e a fatura quem vai pagar sou eu. Eu não fui para a Assembleia para ganhar 13.000 [reais] à toa. Eu até café carrego. Eu fui pra lá pra ganhar 13.000 porque Emanuel sabe de toda a história”, disse.
No programa eleitoral desta segunda-feira, veiculado na TV, Emanuel Pinheiro disse que vai processar o adversário e negou qualquer envolvimento com o episódio.
“Wilson é assim mesmo. Não tem limites. Ataca a honra, calunia e difama. Atribui a mim fantasiosamente o recebimento de propina de uma empresa de alimentos. Nunca tive qualquer relação com essa empresa. Repito: Nunca”.