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Política industrial brasileira é condenada na OMC
11/11/2016 - Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

A Organização Mundial do Comércio (OMC) condena a política industrial brasileira e exige que políticas de incentivos fiscais e redução de IPI (imposto sobre produtos industrializados) adotados ainda pelo governo de Dilma Rousseff sejam abandonadas, pelo menos da forma que são aplicadas.

O governo brasileiro poderá recorrer da decisão. Mas a decisão é um dos maiores golpes já sofridos pelo Brasil no organismo internacional.

Num informe ainda confidencial de 400 páginas, os juízes da entidade atenderam ao pedido do Japão e da União Europeia, que alegavam que a política de incentivos fiscais aos setores de telecomunicações, automóveis e tecnologia é ilegal e afeta empresas estrangeiras de forma "injusta".


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O principal foco é o Inovar Auto, mecanismo que garantiu uma redução de impostos para o setor automotivo com fábricas instaladas no País.

Documentos vistos pelo Estado revelam que o Brasil foi derrotado em todos os programas questionados por japoneses e europeus, algo raro nas disputas na entidade.

"A derrota (do Brasil) foi 100%", admitiu um advogado ligado ao caso.

O golpe deve obrigar o governo a apressar parte da reforma tributária e usar a decisão como "escudo" para desmontar parte da estrutura que permitia empresas não pagar milhões de reais em impostos.

Diplomatas estrangeiros em Genebra confessaram à reportagem que raramente um país foi alvo de uma derrota tão severa e em todas as questões como desta vez.

O estabelecimento do processo ainda contou com a participação de EUA, Argentina, Austrália, China, Indonésia, Rússia e Coreia, todos na condição de observadores. Por meses, os juízes da OMC foram obrigados a avaliar as leis nacionais.

O Estado apurou que a entidade indicou que dar incentivos fiscais, por si só, não seria uma violação das regras. Mas a forma utilizada pelo Brasil representou uma ilegalidade por por conta das exigências que o governo fez para beneficiar as empresas com taxas menores.

Uma das exigências é de que montadoras produzissem localmente. Para os juízes, o critério representa uma espécie de subsídio disfarçado e que, portanto, seria ilegal.

"O Brasil introduziu uma série de medidas para permite que as empresas domésticas reduzam suas obrigações para pagar impostos", indicou a delegação japonesa.

"Ao lado de um sistema de impostos pesado e complexo, essas medidas tiveram sérios impactos no comércio e afetaram uma ampla série de produtos", denunciaram os japoneses.

Em setembro de 2011, o governo estabeleceu uma isenção de IPI para carros de montadoras que se comprometam a investir no País e comprem peças locais.

Em 2012, o plano foi renovado por mais cinco anos, o que deixou os países ricos irritados.

Incentivos fiscais também foram dados a computadores, smartphones e semicondutores.

Para Tóquio e Bruxelas, "as medidas de forma injustificada protegem as indústrias domésticas, desorienta investimentos e manipulam a balança comercial em detrimento de interesses legítimos" das empresas estrangeiras.

Um dos ataques é dirigido contra o Inovar-Auto, considerado como ilegal pelo Japão e a UE ao reduzir o IPI para certos modelos produzidos com um determinado número de peças nacionais.

Se condenado, o Brasil terá de modificar o programa e os incentivos dados a montadoras.

O ataque também visava os incentivos fiscais a exportadores que se beneficiam do Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (Recap).

O programa reduz o custo de produção a quem vai exportar. Para os japoneses, isso seria uma forma de subsídio.

O argumento é também de que o setor de informática e tecnologia é outro alvo de protecionismo no Brasil. Tóquio e Bruxelas questionam a Lei de Informática, o Programa de Inclusão Digital, o Programa de Incentivos ao Setor de Semicondutores, e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para TV Digital.

Para o governo asiático, todos esses programas criam reservas de mercado e dificultam as importações.

No passado, Tóquio já havia atacado as exigências do edital de licitação da faixa de frequência de 2,5 GHz - destinada ao serviço de quarta geração da telefonia móvel (4G).

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estipulou uma exigência de conteúdo nacional mínimo de 60% para quem quisesse participar de licitações, incluindo equipamentos e sistemas.

Durante a defesa, o Brasil garantiu que os "programas questionados pelo Japão fazem parte do esforço para promover um desenvolvimento econômico em linha com os objetivos e princípios da OMC ".

Segundo o Itamaraty, as medidas não têm qualquer "efeitos negativo nas importações".

"Ao contrário, eles estabelecem um caminho para uma melhor e mais sólida parceria com empresas estrangeiras".

O Brasil também deixou claro seu desagrado com a atitude do Japão, depois que o País adotou o modelo asiático para a TV digital, preterindo o lobby dos EUA e Europa.

Na avaliação do Itamaraty, uma condenação "limita a habilidade dos membros em promover desenvolvimento social e tecnológico e reduziria seu espaço de política".

Para o Brasil, isso iria "contribuir ou congelar o status quo e seus desequilíbrios em desenvolvimento econômicos".

Na defesa, o Brasil apontou que os incentivos não estão ligados à origem brasileira dos produtos. Mas às metas de inovação e desenvolvimento sustentável.

"As medidas foram adotadas para promover o desenvolvimento do Brasil, mas não ignorando as obrigações multilaterais ou as oportunidades comerciais de outros membros".


  

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