TCU vê pedalada e dÃvida escondida de R$ 3,1 bi no Fies 24/11/2016
- Veja.com + Estadão
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta “descalabro†na gestão do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e dificuldades para que o programa banque os estudos de gerações futuras em instituições privadas de ensino superior.
O tribunal determinou, por unanimidade, que oito autoridades dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff sejam ouvidas em audiências para explicar as irregularidades no Fies.
“Não posso deixar de destacar minha indignação com o descalabro da gestão do Fies“, afirmou, na sessão, a ministra Ana Arraes, relatora do processo no TCU.
O trabalho de fiscalização mostra que, entre 2009 e 2015, o número de beneficiários do programa cresceu aceleradamente, alcançando 2,2 milhões, enquanto o governo afrouxava as exigências para a participação.
A maior adesão, de 1,2 milhão de novos contratos, se deu entre 2013 e 2014, perÃodo que antecedeu a campanha de Dilma Rousseff pela reeleição, no qual Mercadante e Paim se alternaram no comando da Educação.
A taxa de juros era tão baixa que, mesmo para quem podia pagar mensalidade, era mais vantajoso recorrer ao Fies e aplicar o próprio dinheiro no mercado financeiro.
De 2010 a 2015, se descontada a inflação, os juros praticados foram negativos, chegando a – 6,57% em 2015.
Estimulado por essas condições, quem estava matriculado em instituições privadas sem depender do governo passou a pedir financiamento.
A inadimplência, em 31 de dezembro de 2015, chegava a 49% dos contratos em fase de amortização – desse universo, metade tinha atrasos superiores a 360 dias.
“As ausências de planejamento e do real dimensionamento dos impactos fiscais advindos da expansão do Fies levaram a aumento exponencial das despesas, incompatÃvel com a crise fiscal que assolou o paÃsâ€, sustenta Ana Arraes.
Como consequência das dificuldades para sustentar os benefÃcios, segundo a auditoria, o governo Dilma editou uma portaria no ano eleitoral de 2014 que previa, em vez de doze pagamentos por ano à s principais instituições privadas do Fies (um por mês), apenas oito (um a cada mês e meio).
Assim, a cada 45 dias, elas receberiam por 30.
Esse mecanismo permitiu, segundo o TCU, que o governo ocultasse passivos com as faculdades, a chamada “pedaladaâ€.
Entre 2010 e 2015, o governo previu no orçamento do Fies muito menos recursos que o necessário para custeá-lo, o que, conforme os auditores, mascarou as contas do programa.
Em 2014, por exemplo, a previsão inicial correspondeu a 12% das despesas.