INVESTIGAÇÃO APONTA QUE VOO DA CHAPECOENSE TINHA SOBRECARGA E PLANO DE VOO IRREGULAR 27/12/2016
- O GLOBO
Autoridades da Aeronáutica Civil da Colômbia apresentaram as conclusões da investigação preliminar sobre o acidente com o avião da Chapecoense, que causou a morte de 71 pessoas no dia 29 de novembro, em Medellín, na Colômbia.
A causa apontada oficialmente é de falta de combustível na aeronave.
Segundo a investigação, a quantidade de combustível e a autonomia do avião não eram as adequada para aquela rota.
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As autoridades aéreas colombianas atribuíram culpa à Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares à Navegação Aérea da Bolívia (AASANA) por ter aprovado o plano de voo da LaMia, considerado irregular por conta da autonomia da aeronave.
Outra conclusão é de que o avião estava com sobrecarga, ou seja, excesso de peso. A investigação foi feita a partir de uma série de dados, inclusive gravações feitas pelo sistema de gravação de voz do avião.
- A aeronave tinha um peso superior ao permitido nos manuais - afirmou o coronel Freddy Augusto Bonilla, secretário de segurança da Aeronáutica Civil da Colômbia, segundo quem o avião transportava 1.000 kg a mais do que informado no plano de voo, o que teria feito o consumo de combustível aumentar mais.
Os investigadores também concluíram que o piloto Miguel Quiroga, que morreu no acidente, tinha total consciência de que o combustível não era suficiente para o voo de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, até Medellín.
- Eles estavam conscientes da limitação do combustível. Eles sabiam que não era suficiente - destacou Bonilla.
TRIPULAÇÃO COGITOU POUSO
De acordo com a investigação, um diálogo armazenado no voice recorder (aparelho de gravação na cabine do piloto) mostrou Quiroga debatendo com a tripulação justamente sobre uma parada para reabastecimento.
- Eles estavam ingressando no espaço aéreo colombiano e havia a possibilidade de parar em Bogotá. Estabelecem que seria necessário realizar um pagamento, e que tinham dinheiro suficiente para pagar pelos serviços de reabastecimento - descreveu o coronel Bonilla.
Embora tenham ponderado sobre detalhes de um possível pouso de reabastecimento, incluindo seu custo, os tripulantes optaram por seguir viagem sem escalas até Medellín. Segundo o investigador colombiano, Quiroga ainda demorou demais a relatar situação de emergência.
- Essa situação de falha total foi reportada apenas dois minutos antes da queda -afirmou.
Ao exibir a gravação da conversa do piloto da LaMia com a torre de controle de voo do aeroporto de Rionegro, Bonilla explicou que um alerta de baixa quantidade de combustível precisa ser feito com 20 minutos de antecedência.
- A gravação se interrompe um minuto antes da queda, e temos que saber o motivo - disse Bonilla, ressaltando que o avião deveria ter combustível suficiente para voar por pelo menos mais uma hora e 45 minutos, se estivesse dentro dos procedimentos corretos.
PILOTO NÃO AVISOU PANE NOS MOTORES
Bonilla explicou a diferença entre prioridade e emergência, livrando de qualquer culpa a controladora de voo Yaneth Molina, com quem o piloto Quiroga teve seu último diálogo. De acordo com o investigador colombiano, Quiroga não informou a controladora, ao pedir ajuda para pousar, que dois de seus quatro motores já haviam parado de funcionar, conforme informações obtidas após análises das caixas pretas.
- O termo “prioridade” é um termo que não significa emergência. Como vamos escutar a controladora, se dará vetores, a rota mais direta e rápida para realizar a aproximação. Neste ponto de aproximação, o piloto ativa os speed breaks, freios aerodinâmicos, isso faz com que a aeronave reduza a velocidade e inicie o descenso sem notificar - explicou o secretário, informando ainda que o piloto começou a descer sem notificar a torre de controle.
De acordo com Bonilla, Quiroga não comunicou emergência nem quando o terceiro motor parou de funcionar, momento em que ele ainda dialogava em tom de normalidade com a controladora de voo. A torre dos comissários pergunta ao piloto se ele precisaria de serviço adicional em terra para uma possível emergência, e Quiroga respondeu que não.
O piloto só deixa de aparentar tranquilidade quando o quarto e último motor para de funcionar, momento em que ele comunica "falha elétrica total" à torre de controle de voo.
Os dados das caixas pretas, levadas para a Inglaterra, país onde a aeronave foi fabricada, não foram revelados ainda. Eles estão sob análise, e as conclusões das autoridades aéreas colombianas, provavelmente, não os levam em consideração.