Secretário de luxo de Palocci, Brani vira peça-chave na Lava-Jato 30/04/2017
- O GLOBO
O sociólogo Branislav Kontic passa seus dias em casa, na zona oeste da capital paulista, com uma tornozeleira eletrônica presa à perna, relendo pensadores clássicos como Max Weber.
— Os investigadores perceberam a vulnerabilidade e têm jogado pesado para que ele fale — afirmou um dirigente petista que o conhece desde que militava na organização trotskista Liberdade e Luta (Libelu) e era estudante de filosofia da USP.
O negócio cresceu nos anos 1980. Ele assumiu a direção da malharia, incorporou a ela uma tinturaria, viajava para a Europa a cada estação para copiar das vitrines de lá o que seria tendência aqui.
No começo dos anos 1990, seu plano empresarial foi traÃdo pela conjuntura econômica: os produtos têxteis chineses inundaram o mercado brasileiro e o Plano Real equiparou o real ao dólar. Brani faliu.
A falência marca o retorno dele à vida acadêmica e à atividade polÃtica.
Da experiência empresarial, produziu sua tese de doutorado, “Inovação e redes sociais: a indústria da moda em São Pauloâ€, sob a orientação do ex-presidente do IPEA Glauco Arbix, outro ex-colega da Libelu e amigo de Palocci.
Em 2000, quando Marta Suplicy ganhou a prefeitura de São Paulo, ele foi alocado no gabinete dela e produziu um projeto urbanÃstico para a zona leste, que ainda hoje rende votos a Marta.
Em 2007, foi trabalhar para Palocci, eleito deputado federal.
Brani estava ao lado de Palocci quando ele retomou a posição de poder, como ministro-chefe da Casa Civil de Dilma, e não o deixou na nova queda do petista, quando se converteu em seu “secretário de luxoâ€, como definem amigos, na consultoria empresarial.
A lealdade do assessor aprofundou a relação de confiança entre ambos.
CERTEZA DE QUE SERÃ CONDENADO
Ao juiz Sergio Moro, Brani afirmou receber entre R$8 mil e R$15 mil mensais enquanto trabalhou para Palocci.
Na consultoria, dizia atuar pontualmente, em projetos de urbanismo ou em temas que lhe fossem afeitos.
Mas circulava entre os donos da caneta e os donos do dinheiro e tentava influenciá-los.
Emplacou o mesmo projeto com a Andrade Gutierrez, a mando de quem teria feito duas viagens ao leste europeu.
Entre seus amigos, no entanto, há a convicção de que a atividade não o levou à riqueza.
Quando as contas dele, de Palocci e dos demais acusados na ação penal foram congeladas, Brani era o mais “pobreâ€: tinha R$ 1,5 mil na conta corrente.
Conhecidos relatam que ele vive pressionado pela preocupação com o sustento da famÃlia caso passe muito tempo preso.
Com a certeza de que será condenado, Brani afirma aos amigos que acreditava fazer parte de uma consultoria para empresários que queriam ter sucesso na relação com a máquina pública.
Considerava-se um lobista, prática não regulamentada no Brasil.
Nega que soubesse da obtenção de propinas em contratos públicos.