Lula sabia e dava palavra final do chefe sobre caixa 2, diz João Santana à PGR 11/05/2017
- Beatriz Bulla, Fábio Fabrini, Rafael Moraes Moura e Breno Pires - O Estado de S.Paulo
De acordo com ele, falou diversas vezes com Lula e Dilma quando necessitava fazer cobranças. “Nestas oportunidades, tanto Lula como Dilma se comprometeram a resolver o impasse e, de fato, os pagamentos voltavam a ocorrer.
No depoimento aos investigadores, Santana fala da relação da Odebrecht no pagamento das dÃvidas de campanha e diz que Dilma e Lula sabiam que a conta seria paga com recursos de caixa dois da empreiteira baiana.
Ele narra ainda que o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, dizia que decisões definitivas sobre pagamentos dependiam da “palavra final do chefeâ€, em referência a Lula.
Em dois momentos da campanha à reeleição de Lula, Santana diz ter ameaçado interromper os trabalhos em razão de inadimplência. Depois disso, o petista pressionou Palocci que “colocou a empresa Odebrecht no circuitoâ€, segundo o anexo da delação.
Na delação, Santana foi questionado por procuradores quais questões que, segundo Palocci, dependeriam do “respaldo do chefeâ€. O marqueteiro disse que eram questões referentes aos valores totais de seus honorários nas campanhas.
João Santana diz, em seu relato, que soube por sua esposa que Palocci tinha “poder quase absoluto†sobre o fundo de caixa dois do PT manuseado pela Odebrecht.
A empreiteira baiana revelou na delação premiada de seus executivos que havia uma conta corrente destinada aos governos do PT e abastecida pelo Setor de Operações Estruturadas, conhecido como departamento da propina da empresa.
O marqueteiro confirma a existência da conta corrente. Segundo o marqueteiro, Palocci o questionou “você tem conta no exterior?â€.
Após uma resposta afirmativa, o então ministro da Fazenda disse que depósitos seriam feitos fora do PaÃs pela Odebrecht “para segurança de todos†e que a empresa tinha “o respaldo do chefeâ€.
Em seus anexos de delação, Mônica Moura contou que acertou com Palocci, em 2006, os valores de caixa 1 e caixa 2 para a campanha de reeleição de Lula.
“O presidente Lula sabia do valor total da campanha – tanto o que seria pago oficialmente e o que seria pago por fora -, porque Palocci relatou a Mônica Moura diversas vezes, durante a negociação, na fase de discussão sobre valores, que ‘tinha que falar com o Lula, porque o valor era alto, e ele não tinha como autorizar sozinho’â€, diz trecho de anexo da delação da empresária, entregue por sua defesa à Lava Jato.
“Depois, na última reunião de fechamento, (Palocci) voltou dizendo que ‘o valor da campanha (total) tinha sido autorizado pelo Presidente’â€, acrescenta o documento.
Mônica Moura disse que os serviços de comunicação prestados para Lula custaram R$ 24 milhões, sendo que R$ 10 milhões teriam sido pagos de forma não oficial.
Os anexos da delação do casal se tornaram públicos nesta quinta-feira, 11, após o ministro Luiz Edson Fachin derrubar o sigilo da delação.
João Santana ficava responsável pelo contato com os principais lÃderes polÃticos, enquanto Mônica Moura, empresária, tratava de negociações financeiras.
No anexo entregue à PGR, consta que “João Santana teve um convÃvio Ãntimo inegável com Lula e Dilma, e tem plenas condições de expor com detalhes esses encontros que trataram de pagamentos não oficiaisâ€.
O marqueteiro conta como voltou a trabalhar com Lula, antes da campanha do petista à reeleição, em 2006. Santana participou de um “diagnóstico eleitoral†para eleição do ex-presidente quando ainda era sócio do publicitário Duda Mendonça, em 2001.
Em 2005, quando veio à tona o escândalo do mensalão, Santana diz ter sido chamado a BrasÃlia de forma urgente.
No dia 24 de agosto daquele ano, foi levado por um carro oficial à casa de Palocci e de lá foram ao Planalto para encontro com Lula.
O presidente indicou que os pagamentos seriam feitos por Palocci e que o então ministro da Fazenda disse que a imagem de Lula seria preservada e Santana ficaria responsável pela campanha de reeleição.
A defesa de Lula alegou que "veÃculos de imprensa já denunciaram que a força-tarefa da Lava Jato tem exigido referências a Lula como condição para aceitar delações".
Zanin acrescentou que "a perseguição polÃtica por meios jurÃdicos (‘lawfare’) em relação a Lula fica cada dia mais clara e está sendo vista pelo mundo’.