O encontro secreto de Lula e Renato Duque 23/05/2017
- Robson Bonin - Veja.com
A imagem implode uma das principais teses de defesa apresentadas pelo ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro sobre uma das tantas acusações que o atormentam na Operação Lava Jato.
Em depoimento no dia 5 deste mês, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque afirmou que Lula tinha total conhecimento do petrolão, recebia propinas do esquema e era o comandante da estrutura criminosa.
Sentado diante de Sergio Moro, Lula negou as acusações e disse que nem sequer conhecia o ex-diretor da Petrobras quando esteve com ele no único encontro pessoal que tiveram num hangar do Aeroporto de Congonhas, em julho de 2014.
Em sua versão para a conversa, Duque disse a Moro que ouviu de Lula um pedido para eliminar contas de propina no exterior. Lula, por sua vez, disse que apenas apurava denúncias de corrupção envolvendo diretores da estatal.
No encontro, o “grande chefeâ€, como Duque descreve Lula, chega a rasgar elogios ao ex-diretor por seus competentes e relevantes serviços prestados.
Como a Lava Jato já demonstrou, Duque foi um eficiente arrecadador do PT na diretoria de Serviços da Petrobras.
Ele atravessou oito anos de governo Lula e metade do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff recolhendo 1% de propina sobre cada contrato milionário da sua área.
Preso em 2014, já foi condenado a 57 anos de prisão por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Duque encontrou Lula ainda no perÃodo em que o ex-presidente se recuperava de um câncer na garganta.
Na imagem, o ex-presidente usa bigode. Mais tarde, voltaria a ostentar a barba.
Em depoimento a Moro, Duque revelou ter mantido três encontros com Lula para discutir assuntos relacionados ao petrolão. A foto registra o primeiro deles.
“Nessas três vezes, ficou muito claro para mim que ele tinha pleno conhecimento de tudo e detinha o comandoâ€, disse Duque.
Um dos encontros secretos com o ex-presidente se deu já durante as investigações da Lava Jato, no qual recebeu do petista ordens para fechar as contas que mantinha no exterior para receber propina de contratos da Petrobras.
“O Vaccari conhecia o Duque e eu não conhecia. Que tipo de relação eles tinham, eu não sei. Tinha conhecimento de que o Vaccari conhecia o Duque, só issoâ€, disse Lula.
O ex-diretor contou a Sergio Moro que Lula monitorava pessoalmente o fluxo de pagamentos de contratos que renderiam propinas posteriormente.
O petista era tão envolvido que chegava a ter informações antes mesmo do próprio ex-diretor.
Ao dar sua versão sobre a conversa no aeroporto, Duque disse que o ex-presidente relatou que a então presidente Dilma Rousseff havia lhe repassado a informação de que diretores da Petrobras estavam recebendo propina de fornecedores da estatal, como a multinacional SBM, em contas no exterior.
Lula queria saber se Duque estava entre os beneficiários da propina.
Como o ex-diretor negou, Lula insistiu querendo saber se a propina de contratos de sondas da Sete Brasil estava sendo paga no exterior.
Lula, nas palavras do ex-diretor, replicou: “Olha, presta atenção no que vou te dizer: se tiver alguma coisa, não pode ter. Não pode ter nada no teu nome, entendeu?â€, contou.
“Tive uma vez no Aeroporto de Congonhas, se não me falha a memória, porque tinha vários boatos no jornal de corrupção e de contas no exterior. Eu pedi para o Vaccari, que eu não tinha amizade com o Duque, trazer o Duque para conversarâ€, disse Lula.
Em meados de 2014, Duque nem mesmo mantinha vÃnculo com a Petrobras. Mas, para Lula, isso pouco importou.
Questionado por Moro se tinha procurado outros diretores da estatal, igualmente enrolados na Lava Jato, Lula disse que só procurou Duque.
Moro quis saber o motivo. Lula justificou que Duque havia sido indicado pela bancada do PT.
No dia em que Duque prestou depoimento a Moro, Lula rebateu as acusações por meio de uma nota em que classificou as declarações do ex-diretor de Serviços da Petrobras como uma “tentativa de fabricar acusações mentirosas†contra ele.
Segundo Lula, trata-se de “mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mÃdia, em busca de uma prova contra Lula, que não existe na realidade e muito menos nos autosâ€.