Carne brasileira não causa riscos à saúde, diz secretário da Agricultura 24/06/2017
- Manoel Ventura - O Globo
O Ministério da Agricultura informou ontem que os problemas na carne bovina brasileira detectados pelos Estados Unidos não causam riscos à saúde.
Os EUA suspenderam ontem todas as compras da carne fresca bovina brasileira, após "preocupações recorrentes sobre a segurança dos produtos destinados ao mercado americano".
As autoridades americanas identificaram problemas em alguns cortes que seriam decorrentes da aplicação da vacina contra a febre aftosa.
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A vacina pode provocar manchas internas nas carnes, que não foram percebidas pela fiscalização no Brasil, segundo o Ministério da Agricultura.
A febre aftosa, porém, não é uma ameaça à saúde do consumidor, segundo afirma o superintendente da Vigilância Sanitária municipal do Rio, Flávio Graça.
De acordo com ele, os abscessos são causados pelo repetido uso de agulha e falta de higiene na hora da vacinação do gado.
O governo brasileiro diz que está investigando onde ocorreu esse problema: na produção ou na aplicação das vacinas.
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, como peças inteiras de carne são enviadas, as manchas na carne só são detectadas quando esse produto é cortado para ser consumido.
No Brasil, quando os abscessos são percebidos, a parte da carne é descartada.
— Essa reação natural é causada pela vacinação e não causa risco à saúde pública. Causa apenas uma aparência não conforme. Quando se é para o mercado interno, tira essa parte e pronto — disse Novacki.
O anúncio da Secretaria de Agricultura dos Estados Unidos foi feito na quinta-feira. O país já vinha inspecionando todos os carregamentos do Brasil, após a operação Carne Fraca, que revelou esquema de corrupção em que servidores públicos federais concediam atestados falsos para carnes adulteradas.
— Até o momento, aquilo que os Estados Unidos reportaram nos leva a crer que não há risco de saúde pública. Há uma reação na carne à vacina de febre aftosa. Eles detectaram uma inflamação resultante da vacinação de febre aftosa e reportaram para o Brasil. Nós estamos instaurando uma investigação para verificar a qualidade das vacinas utilizadas — reforçou o secretário.
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura reconheceu que, desde a operação Carne Fraca, os mercados internacionais estão “desconfiados” com relação à qualidade das carnes brasileiras.
Como medida preventiva, os Estados Unidos e a União Europeia passaram a inspecionar todos os carregamentos saídos do Brasil.
Com isso, disse o secretário, mais “inconformidades” foram detectadas.
Ao todo, quinze frigoríficos estavam habilitados a exportar para os EUA. Na semana passada, o Brasil já havia suspendido as vendas de cinco frigoríficos.
— Nós fomos surpreendidos ontem com a suspensão das importações. Reafirmamos a qualidade do sistema de inspeção federal. Com os reflexos da operação Carne Fraca, paira um clima de insegurança e incerteza sobre a inspeção federal brasileira. É um sistema robusto, testado e aprovado — disse o secretário.
O Chile já tinha reportado o mesmo problema, em novembro do ano passado.
Para resolver a situação, o Brasil passou a embarcar a carne fresca em pedaços, e não mais a peça inteira.
Dessa forma, se os abscessos aparecerem, a carne é descartada.
Esse mesmo procedimento agora é estudado para ser adotado para a venda aos Estados Unidos.
O Ministério da Agricultura disse que espera resolver a situação o mais rápido possível, e programa uma viagem técnica para os EUA provavelmente na primeira semana de julho.
O ministro Blairo Maggi tenta ainda marcar uma reunião com o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue.
Entre as medidas adotadas para resolver a situação, o ministério está inspecionando todos os lotes da carne e fazendo uma auditoria nas 15 plantas com autorização para exportar para os Estados Unidos.
O Brasil também prepara um documento técnico informando às autoridades americanas as características do sistema de inspeção federal brasileiro.