Ticiana Villas Boas, mulher de Joesley, contesta executivo da JBS 11/08/2017
- Edoardo Ghirotto e João Pedroso de Campos - Veja.com
A apresentadora de TV Ticiana Villas Boas, mulher do empresário e delator Joesley Batista, dono do Grupo J&F, que controla a JBS, contestou um trecho do anexo da delação premiada do diretor de relações institucionais da empresa, Ricardo Saud, em que ele relata o pagamento de propina ao governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), e ao filho dele, o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN).
Por meio de um áudio enviado a Patricia Abravanel, mulher do deputado e filha do empresário e apresentador Silvio Santos, no dia 1º de junho, Ticiana presta solidariedade e desmente a versão de Saud de que um jantar na casa de Joesley antes das eleições de 2014, do qual Patricia teria participado, destinou-se à negociação de pagamentos indevidos a Robinson e Fábio Faria.
Na semana passada, a coluna Radar havia antecipado que uma gravação colocava em dúvida a delação do executivo.
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A mulher de Joesley Batista classifica o relato de Ricardo Saud como “loucura total” e afirma que “então, o que eu quero falar é que eu acho um absurdo isso tudo… que tá acontecendo. É… aquele jantar, imagina só, não tem nada a ver… do que falaram, foi um jantar normal, eu não vi nada de, de, de, dinheiro, de… de nada que beirasse ser ilícito”. Ticiana Villas Boas ainda se dispõe a testemunhar em defesa de Patricia caso necessário.
Em seu depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), Ricardo Saud disse que “foi um jantar muito elegante, até. Foi o Fábio Faria com a noiva, dele, a Patricia Abravanel, filha do Silvio Santos, foi o Robinson Faria com a esposa dele, nós todos com as esposas, tal, pra tratar de propina. É até bacana né, todo mundo com as esposas ali junto.”
Segundo o delator, o jantar serviu ao acerto de 10 milhões de reais em propina ao governador e ao deputado federal, supostamente paga por meio de doações oficiais disfarçadas, dinheiro vivo e notas frias de escritórios de advocacia. O valor, de acordo com Saud, foi desembolsado em troca da ajuda de Robinson Faria, caso fosse eleito, em concessões de água e esgoto no Rio Grande do Norte, do interesse do Grupo J&F.
O áudio enviado por Ticiana Villas Boas é um dos elementos considerados por Patricia Abravanel em uma ação por danos morais por meio da qual ela pede que Ricardo Saud seja condenado a pagar uma indenização de ao menos 300.000 reais.
Na ação, protocolada na Vara Cível de Pinheiros, na capital paulista, a defesa de Patricia diz que o jantar foi “um encontro social entre casais, com conversas informais”, classifica o depoimento do executivo como “calunioso” e alega que “no afã de tornar sua delação mais vistosa ou atraente por se tratar a autora de pessoa famosa, o réu envolve a Autora em situação que não lhe diz respeito”.
Ainda de acordo com o pedido, a repercussão do depoimento do executivo causou “abalos psíquico e moral” a Patricia Abravanel e danos à imagem dela, “com repercussão negativa nas redes sociais, inclusive prejudicando seus negócios”.
Ao contrário do que declarou Ricardo Saud, Patricia Abravanel também sustenta na ação por danos morais que o jantar ocorreu no final de semana do dia 7 de novembro de 2014, já depois da eleição. Foi nesta ocasião que, segundo Patricia, ela conheceu Ticiana e Joesley e convidou o casal ao chá de bebê de seu filho, em novembro, quando Silvio Santos teria conhecido Ticiana. A mulher de Joesley acabou contratada pelo SBT em abril de 2015.
Caso Saud seja condenado, o dinheiro será destinado à Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
OUTRO LADO
Por meio de nota, Ticiana Villas Boas confirma que o áudio é verdadeiro e foi enviado por ela “em apoio à amiga e colega de trabalho Patricia Abravanel”. A jornalista sustenta que nem ela nem Patricia presenciaram nenhuma tratativa ilícita, mas que homens e mulheres se dividiram “em vários momentos do encontro”.
“Como revela o áudio, nem ela nem Patricia, durante o período em que estiveram juntas no jantar em sua casa, presenciaram qualquer conversa com conteúdo ilícito. Em vários momentos do encontro, os casais se dividiram em grupos de homens e mulheres, e Ticiana imaginou que Patricia, assim como ela, não sabia que nas conversas entre os maridos eles trataram de propina. Por isso ela se solidarizou e se dispôs a defendê-la caso fosse necessário, com a intenção de evitar que Patricia fosse envolvida no caso”.
Também por meio de nota, o Grupo J&F declara que “nenhum dos colaboradores mentiu” e que as tratativas de propina relatadas por Ricardo Saud ocorreram em “conversa reservada, sem a participação nem conhecimento das esposas”.
“Nenhum dos colaboradores mentiu em qualquer depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério Público Federal. Os colaboradores apresentaram grande número de informações e provas à PGR e em atendimento aos demais ofícios do MP, que estão sendo tratados dentro dos trâmites legais. Sobre a questão trazida pela reportagem, é importante esclarecer que o fato ocorreu na data e evento conforme relatados, em conversa reservada, sem a participação nem conhecimento das esposas. Os colaboradores continuam à disposição para cooperar com a Justiça”.