Aliados de Temer minam pretensão de Meirelles por 2018 20/08/2017
- Vera Rosa, Adriana Fernandes e Igor Gadelha - O Estado de S.Paulo
A tensão que marcou o fechamento do novo rombo nas contas públicas, anunciado na terça-feira, não deixou dúvidas de que a disputa presidencial de 2018 ocupou lugar privilegiado nas reuniões do governo.
Convencidos de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, trabalha para ser candidato ao Palácio do Planalto, no ano que vem, interlocutores do presidente Michel Temer intensificaram a “fritura†do comandante da economia.
A nova temporada do “fogo amigo†passa não apenas por gabinetes do Planalto como pelo PMDB e PSDB, os dois principais partidos da coalizão.
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Filiado ao PSD – que integra o bloco conhecido como Centrão –, Meirelles voltou à berlinda polÃtica nos mais recentes capÃtulos da crise.
Nos bastidores, interlocutores de Temer acompanham com lupa os movimentos do ministro e o nome dele aparece em pesquisas de intenção de voto encomendadas por aliados, mas sempre com menos de 2%.
Um exemplo das divergências ocorreu no dia 10, uma quinta-feira. Passava de 13h30 quando a temperatura esquentou no Planalto.
Depois de ouvir a apresentação de Meirelles e do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, sobre o “pacote†do aperto para conter o rombo, o lÃder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), não se conteve.
“Presidente, essa solução de aumento de impostos não vai se concretizar. Não passa no Congressoâ€, disse ele, dirigindo-se a Temer. “Ainda mais neste momento polÃtico, em que não se sabe se vem mais flecha pela frente.â€
Flecha foi o termo usado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para se referir às denúncias da Lava Jato encaminhadas por ele.
A acusação por corrupção passiva contra Temer foi rejeitada pela Câmara no dia 2 deste mês, mas outras podem aparecer.
Naquela reunião, o presidente concordou com Aguinaldo, mas cobrou uma alternativa.
Ao ver um ministro com olhar fixo no WhatsApp, interrompeu a discussão e foi direto: “Vamos guardar o celular?â€.
Meirelles ensaiou ali o primeiro recuo: “Eu senti essa dificuldade (para aprovação de impostos) na última palestra que fiz. Mas precisamos buscar receitas e avançar nas concessõesâ€.
“Não podemos entregar a Cemig dessa forma por causa de um desatino do governo do PTâ€, provocou o tucano, alvo da Lava Jato, dando uma estocada em Meirelles.
Mais tarde, o lÃder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), “furou†Meirelles, anunciando aos jornalistas as metas de 2017 e 2018.
Os crÃticos do ministro observaram uma disputa de bastidores na equipe.
“Falei com a imprensa à s 19:15 e ele, à s 19:30. Qual o problema? É tudo governo. E esse governo não faz pedaladas, como o anterior. Não adianta maquiar os números. Está tudo tranquilo.â€
Ex-ministro do Planejamento, atingido pela Lava Jato, Jucá sempre pregou uma meta de R$ 170 bilhões para 2017, considerada mais realista.
O ministro perdeu a batalha pelo imposto, mas não a guerra.
“A meta fiscal foi ajustada porque o governo partiu de premissas que terminaram não se confirmando. Foi otimista, mas não conservador o bastanteâ€, afirmou Jucá.
“Acabou que a vida não deu ao Meirelles o que ele esperavaâ€, disse o lÃder da maioria na Câmara, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES).
Com os principais indicadores apontando para a retomada do crescimento e melhoria do emprego, Meirelles teria virado alvo do fogo amigo de aliados.
A possibilidade de um protagonismo maior do ministro em um cenário econômico mais favorável começou a incomodar.
Ainda mais diante da queda da inflação para patamares abaixo de 3% abrir caminho, a partir de agora, para o crescimento.
Após vários embates, Temer pediu aos auxiliares que não estiquem mais a corda com Meirelles.
Questionado pelo Estadão se repetiria a afirmação feita há um ano, segundo a qual o titular da Fazenda estava sendo vÃtima de “manipulação eleitoralâ€, o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, disse que não.
“Esta fase foi superada com sucesso por eleâ€, desconversou.
Meirelles aproveitou que estava na capital paraense para participar do batizado da filha do ministro da Integração, Helder Barbalho (PMDB), que se movimenta para disputar o governo do Pará.
A presença foi registrada pelo senador Jader Barbalho, pai de Helder.
Nenhum dos dois compromissos estava na agenda oficial.
Os dois estreitaram relações somente após o agravamento da crise, na esteira das delações da JBS.
Interlocutores do deputado dizem que ele quer ter o ministro como “âncora†da polÃtica econômica para o caso de algum dia vir a assumir o comando do PaÃs.
Comandado pelo ministro de Ciências e Comunicações, Gilberto Kassab, o PSD está dividido sobre o rumo a seguir em 2018, mas não parece empolgado com o lançamento de Meirelles.
“Ele está com muita vontade de ser candidato, mas precisa ter base polÃticaâ€, resumiu o lÃder do PSD na Câmara, Marcos Montes (MG).
“Só se viabiliza se a economia deslancharâ€, emendou o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
À espera de se livrar das denúncias que o atingiram após as delações da JBS, Temer quer inaugurar uma nova fase de seu mandato e planeja mostrar um “governo de resultados†após outubro.