PCC recruta venezuelanos em prisão de Roraima e amplia frente internacional 05/01/2018
- Marco Antônio Carvalho - O Estado de S. Paulo
A crise humanitária venezuelana está se somando a uma crise carcerária e de segurança pública brasileira no interior da Penitenciária AgrÃcola de Monte Cristo (Pamc), a maior de Roraima, com mais de 1,2 mil presos.
Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que dominam o presÃdio e há um ano foram responsáveis pela morte de 33 detentos, estão cooptando venezuelanos que chegam cada vez em maior quantidade à s cadeias locais.
Desde o fim de 2016, com o recrudescimento da crise polÃtica e econômica na Venezuela, cujos impactos vão da precariedade do sistema de saúde à pouca oferta de produtos nos supermercados, os vizinhos decidiram migrar.
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A cidade de Pacaraima, na fronteira, e a capital Boa Vista são as que notam os efeitos do fluxo, que deixa um rastro de superlotação em abrigos públicos e um número incomum de pedintes nas ruas.
Dados da Secretaria de Justiça de Roraima mostram que de cinco venezuelanos presos o número passou para mais de 60 em um ano.
Quem se aproveitou disso foram os integrantes da facção paulista PCC, que recrutam os estrangeiros para os quadros e fortalecem a conexão internacional em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro.
“Observamos que muitos venezuelanos foram cooptados pelo PCC. Por meio do setor de inteligência, percebemos que esse contato com o paÃs vizinho vem se fortalecendo e tem relação com a imigração descontroladaâ€, afirmou à reportagem o secretário adjunto de Justiça e Cidadania (Sejuc), capitão da PM Diego Bezerra de Souza.
Sobre os motivos que levam os venezuelanos a se aproximarem do PCC, o capitão disse existir um “conjunto de fatoresâ€.
“Eles são intimidados e precisam se agregar a algum grupo para se fortalecer, e isso tem acontecido principalmente com o PCC. Dificilmente vemos venezuelanos entre os membros do Comando Vermelho (CV, facção do Rio de Janeiro)â€, explicou.
Após o massacre em janeiro, a secretaria decidiu retirar todos os inimigos do PCC que ainda estavam presos na Pamc.
Eles foram levados para a Cadeia Pública de Boa Vista, que se transformou em reduto do CV, grupo criminoso que após os assassinatos viu despencar o número de filiados.
No dia 4 de dezembro, o caos migratório levou a governadora Suely Campos (PP) a decretar situação de emergência no Estado.
Na justificativa, sustentou que o agravamento da situação se deu diante do “inesperado e rápido aumento do número de imigrantes que chegaram a Roraima, majorando significativamente o contingente de estrangeiros, sem que possuam meios e condições para sua manutençãoâ€.
Nas ruas de Boa Vista, a prefeitura ainda tenta impedir que venezuelanos vendam produtos e limpem para-brisas nos semáforos, cena pouco comum antes da onda migratória.
Afirmou que o serviço de inteligência da pasta recebe informes das polÃcias locais.
Sobre as deficiências do sistema prisional de Roraima, o secretário adjunto, capitão Diego Bezerra, disse esperar melhorias ao longo de 2018, com a reforma da Pamc, construção de uma unidade em Rorainópolis, a cerca de 290 quilômetros da capital, e de uma nova cadeia.
Questionado sobre o risco de novas mortes, o secretário disse não acreditar em novos episódios como o massacre de janeiro, mas afirmou que as mortes infelizmente acontecem.
“Como acontecem em qualquer lugar do mundoâ€, afirmou.