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PT teme encolher se Lula for barrado na eleição
21/01/2018 - ESTADÃO CONTEÚDO

Prestes a completar 38 anos e com o destino atrelado à sobrevivência política de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT ainda não conseguiu traçar uma estratégia eleitoral que vá além da batalha jurídica para salvar o ex-presidente e permitir sua entrada na disputa ao Palácio do Planalto.

Nos bastidores, dirigentes e parlamentares trabalham com a perspectiva de condenação de Lula e não escondem o receio de encolhimento do PT no Legislativo e até em governos estaduais, caso ele seja impedido de concorrer.

O resultado do julgamento do ex-presidente pelo Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF-4) na quarta-feira, em Porto Alegre, põe em xeque o futuro do PT pós-Lava Jato.


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Seja qual for o desfecho, porém, a Executiva Nacional petista lançará a sua candidatura no dia 25.

Para ganhar tempo, o registro será feito em 15 de agosto, último dia do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Até lá, o PT apresentará uma plataforma de governo que põe o Estado como “motor de desenvolvimentoâ€, prega gestão fiscal “anticíclica†para estimular o crescimento em época de crise, isenta quem ganha até cinco salários mínimos de pagar Imposto de Renda e defende a federalização do ensino médio.

As propostas procuram aproximar o PT da classe média e da juventude, além de resgatar eleitores que se decepcionaram com o governo Dilma Rousseff.

A ideia do partido é criar um clima de comoção no País durante a campanha e investir no discurso do “nós contra elesâ€, na tentativa de mostrar que Lula é “vítima†de perseguição montada para impedi-lo de chegar à Presidência.

O petista responde a seis processos e foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo juiz Sérgio Moro, no caso do triplex do Guarujá.

Até agora, ele lidera todas as pesquisas de intenção de voto.

O placar do julgamento de Lula, porém, é motivo de preocupação no PT. A expectativa ali é de que o ex-presidente consiga ao menos um voto favorável, dos três desembargadores que vão examinar o processo, abrindo divergência no TRF-4.

Dessa forma, ele teria direito a mais um recurso judicial.

“Se Lula for condenado, não teremos mais normalidade institucional no Brasilâ€, afirmou ao Estado a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR).

“A partir do dia 24 será luta cerrada. Estão cutucando a onça com vara curtaâ€, emendou.

Ré na Lava Jato, Gleisi chegou a dizer, em entrevista ao site Poder360, que, para prender Lula, seria preciso “matar genteâ€, mas depois alegou ter usado uma “força de expressãoâ€.

Na prática, toda a energia do partido está concentrada em fazer com que o nome de Lula esteja na urna em outubro.

Dependente de seu líder, o PT teme minguar na Câmara e no Senado, se o ex-presidente ficar fora do páreo.

Em 2016, ano do impeachment de Dilma, a legenda perdeu 60% das 530 prefeituras sob seu comando, incluindo a de São Paulo, considerada a “joia da coroaâ€.

Agora, a meta do PT é ter candidatos próprios aos governos de pelo menos 14 dos 26 Estados, sendo quatro à reeleição.

PLANO B

Não há consenso, porém, sobre quem pode encarnar o plano B de última hora, caso Lula vire ficha suja.

Postulante ao Senado, o ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner é hoje o mais cotado para assumir a tarefa, em caso de emergência.

O outro nome citado é o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, atual coordenador do programa de governo de Lula.

“O País e a democracia estão à deriva e uma eleição sem Lula só vai aumentar este caosâ€, disse o ex-ministro Tarso Genro.

Ex-governador do Rio Grande do Sul e integrante da corrente Mensagem ao Partido, Tarso defende a “refundação†do PT, proposta já apresentada por ele após o mensalão, em 2005.

Questionado se a sigla poderá ser dizimada nas urnas, se Lula tiver a candidatura impugnada, Tarso duvidou.

“O PT não acabará em termos eleitorais nem vai desaparecer porque sua memória, em termos sociais, vai ser cada vez mais positiva à medida que as desigualdades aumentaremâ€, afirmou.

“Lula é bem mais amplo do que o PT, mas o partido, como projeto político, deve se colocar além das contingências do seu líder, por maior que ele seja. Se assim não for, perde o sentido histórico.â€

Menos de dois anos após deixar o Planalto na esteira do impeachment de Dilma, o PT enfrenta agora o maior desafio de seus 38 anos, que serão completados em fevereiro, quando Lula lançará nova Carta ao Povo Brasileiro.

Na campanha de 2002, o documento idealizado por Antônio Palocci, visto hoje como “traidorâ€, foi produzido sob medida para acalmar o mercado, mas agora o ex-presidente quer detalhar o que já fez.

Na carta de 2018, Lula não vai adotar tom de revanche como o do palanque.

Dirá, no entanto, que é o único capaz de pacificar o País.

"TESE"

Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é preciso desmontar a “tese†de que Lula será imbatível.

“É importante que ele dispute porque tenho convicção de que perderá as eleiçõesâ€, argumentou Maia, também pré-candidato ao Planalto.

“Falam do ativo do PT, mas e o passivo de 14 milhões de desempregados?â€

Na avaliação do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), o cenário eleitoral somente ficará mais claro após o julgamento do TRF-4.

“Estamos todos presos à hipoteca do Lula, que não sabemos quando será resgatadaâ€, comparou ele.

Com antigos dirigentes abatidos, como José Dirceu, sob ameaça de delação de Palocci – ex-homem forte dos governos Lula e Dilma – e sem a companhia de tradicionais aliados, entre os quais o PCdoB, o maior partido de oposição entrará na campanha com muitas interrogações no horizonte.

“O PT vai para o tudo ou nada com Lulaâ€, resumiu Jilmar Tatto, vice-presidente do PT paulista.


  

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