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Quanto menos o governo atrapalhar, melhor ele é. diz Maggi
02/02/2018 - VERA ONDEI - ISTOÉ

RETRANCA>Até o mês de abril de 2018, o ex-senador e produtor rural, Blairo Maggi, deverá deixar o Ministério da Agricultura, cargo do qual tomou posse em maio do ano passado.

Abril é o limite legal para que Maggi se candidate a um cargo público nas eleições de 2018.

“Quero voltar ao senadoâ€, diz ele.


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O ministro desconversa sobre a possibilidade de se candidatar a vice-presidente, tema de rodas em eventos do agronegócio.

Ex-governador de Mato Grosso por dois mandatos, Maggi também diz que é da política as atuais acusações de ilícitos e os processos que vêm enfrentando na Justiça.

Do Mapa, ele não quer sair e diz que pretende permanecer no cargo até o limite possível.

“O Mapa foi uma missão para mimâ€, diz ele. “Trabalhei muito para tornar o agronegócio melhor, embora não tenha feito tudo que gostaria.â€

Em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL, o ministro fala dos desafios dessa pasta no governo, como vê o futuro do setor e o que gostaria de ter realizado, mas vai deixar para trás.

Em 2018 haverá troca de governo e o sr. deve entregar o cargo. Sairá com alguma frustração do cargo de ministro?

– Se tenho uma frustração é o seguro rural. Gostaria de ter feito mais. Queria deixar um modelo de seguro de renda e de produção adequados ao produtor. Mas seguro é um tema complicado, porque depende de muito dinheiro. Para a subvenção precisaríamos de pelo menos R$ 1 bilhão. Trabalhei para tornar o agronegócio melhor, embora não tenha feito tudo que gostaria.

O sr. foi governador de Mato Grosso e saiu com a popularidade em alta. O que o segura em um governo que tem uma baixa aprovação popular?

– Não é a política que me segura. Eu sempre quis aproveitar a minha passagem pelo Ministério da Agricultura para resolver pendências antigas. Como os processos burocráticos, que eram muitos. Queria tentar arrumar a casa no seguinte sentido: o Brasil já é um grande exportador de alimentos, fizemos US$ 85 bilhões por ano e a gente quer chegar a US$ 100 bilhões em um curto espaço de tempo. O governo, o Ministério da Agricultura, não tem pernas para acompanhar esse processo em um modelo sistema tradicional de administração, como veio até aqui.

Que pernas seriam essas?

– Pernas econômicas e de gente no ministério. Para exportarmos mais é preciso colocar mais mão de obra no processo, para crescer na produção são necessários mais fiscais. Esse é um modelo que a União não aguenta, não suporta mais. Nós não temos condições de dizer sim, o ministério da Agricultura vai fazer um concurso para 5 mil cargos, por exemplo. Mas conseguimos minimizar a falta de estrutura com processos, modernização e retirada de burocracias, ajustando o local e o lugar onde o Estado precisa estar presente.

Não se paga um preço alto por permanecer em um governo com baixos índices de popularidade?

– Não. Como não participo das discussões políticas, toco o ministério como uma missão. Por isso aceitei o cargo e sairei com a missão do dever cumprido.

No início de sua carreira política, o sr. gravou um vídeo, ainda muito presente nas redes sociais, dizendo que seria bom esquecer Brasília. O sr. mudou de ideia?

– Isso foi em 1994 e eu quis dizer que quanto menos o governo atrapalhar, melhor ele é. Sempre digo que o governo precisa ajudar. E o que é ajudar? É criar as condições necessárias para que o setor se desenvolva.

O sr. está trabalhando para que as pessoas esqueçam Brasília?

– Não é esquecer Brasília. Brasília precisa apenas regular o que for necessário. Temos que ser protagonistas de um processo e não somente ter um chicote na mão. Brasília tem de criar as condições para que o empresariado rural e a produção cresçam.

O sr. vai se candidatar a algum cargo nas próximas eleições, por exemplo vice-presidente?

– Possivelmente, vou tentar voltar ao senado. Meu único projeto político é esse.

Se saísse hoje do governo, que legado estaria deixando para o agronegócio?

– Acho que parte da área da desburocratização, o programa Agro Mais. Cerca de 750 normas já foram mudadas, alteradas ou modificadas. O mercado já sente essa diferença de postura. O Mapa deve ser um agente pró-ativo do mercado, precisa ajudar o setor a se desenvolver, colaborar, ensinar. Claro que quando for necessário é preciso apertar a mão, pegar o chicote. Não tem outro jeito. Também viajei bastante e consegui plantar boas sementes que, no futuro, darão bons frutos, ou colhendo o que outros já fizeram nessa área.

Qual viagem foi a de maior peso na agenda?

– Não há uma mais importante. Cada mercado tem o seu processo. Lógico que se levado em conta o volume, sempre será a China. O país se torna cada vez mais importante. Temos muito interesse em continuar próximos dos chineses, porque nós não competimos em questões territoriais, ideológicas e protagonismo no cenário internacional. Enquanto isso, os americanos competem. Há uma rivalidade permanente entre eles.

O País está preparado para apostar em acordos bilaterais?

– O Mapa não participa dessas discussões. Mas eu creio que o Brasil tem de ser um País aberto. Nós desejamos vender muito lá fora, mas não queremos comprar nada de ninguém. Isso é ruim para o comércio. Mas se formos abertos, naquelas áreas em que o País é bom, vamos nos sair bem no mercado. E naquelas onde haja deficiências, vamos pagar algum preço por isso. No cenário internacional é preciso buscar o equilíbrio. Para a União Europeia, o Brasil exporta € 12 bilhões por ano mas importa somente R 1,2 bilhão. O acordo que queremos é para ampliar a presença das nossas carnes e de etanol por lá. Eles querem nos vender mais produtos, como vinhos. Precisamos negociar e chegar em um acordo.

O sr. estava preparado para os enfrentamentos do episódio Operação Carne Fraca, no início do ano?

– Nesse episódio valeu muito as viagens e visitas a frigoríficos, realizadas quando cheguei ao Ministério. Conversei muito com os técnicos, com os fiscais na base da operação do Serviço de Inspeção Federal, com as operações dos frigoríficos. Com isso eu formei o conceito de que o nosso trabalho nessa área, e também o das empresas, era muito bom e tinha consistência. Quando veio a Carne Fraca eu podia defender o setor porque conhecia a sua base. A operação mexeu com coisas que não são verdadeiras, como papelão na carne.

Qual foi a real participação do presidente Michel Temer nessa história?

– Eu comuniquei ao presidente que era um assunto muito grave. Que se a gente não estancasse a ferida o Brasil perderia mercado e a sua recuperação seria complicada. Pedi ao presidente que houvesse uma coordenação nesse processo, ou ele faria ou me deixasse fazer. O presidente me autorizou e dali para a frente criamos um grupo de WhatsApp com o Ministério das Relações Exteriores, embaixadores, adidos e começamos a desmontar o que estava sendo divulgado na imprensa de forma errada. A estratégia era não deixar ninguém sem uma resposta. Criamos equipes de vídeo e áudio conferências, e uma lista de procedimentos de como a fiscalização ocorre nos frigoríficos do País. A transparência foi fundamental.

Se esse episódio está encerrado, que lições ele deixou?

– Depois da Carne Fraca foi criada uma força tarefa e repassamos todas as unidades frigoríficas e não somente as 21 com problemas detectados. As lições que ficaram é que o negócio agricultura e pecuária é um assunto muito caro para o Brasil. Não podemos, em hipótese alguma, contaminar esse setor. Os servidores do Mapa têm um papel importante na cadeia de alimentos. Tudo o que chega à mesa do brasileiro passa por algum regulamento do Mapa. Não podemos abrir mão de ter a garantia de que esses produtos estão sendo olhados e fiscalizados. Lógico que há produtos com mais riscos e outros menos riscos. A atitude fiscalista do ministério vai nesta direção. Quanto mais as empresas tiverem longe do risco, menor a pressão e a presença do Estado lá dentro. À medida que apresenta mais risco, mais o Estado tem que estar presente.

Mas há muitas críticas a possíveis abusos de poder de fiscais não apenas em frigoríficos, mas também nas fiscalizações sobre trabalho rural análogo ao escravo.

– É duro falar dessas coisas, porque estamos lidando com pessoas. E pessoas são vulneráveis. O fiscal também é. Mas um fiscal tem de cumprir regras. Se um fiscal encontrou em uma fazenda beliches em vez de camas, não há nada que justifique um produtor entrar na lista do trabalho escravo. Quando fui governador em Mato Grosso, montamos uma força tarefa com o Ministério Público do Trabalho. Era um negócio assustador a quantidade casos de trabalho análogo ao escravo que havia no Estado. Passados 12 anos, os índices de Mato Grosso caíram muito fortemente, porque o Brasil possui um programa para isso. Toda fiscalização precisa de regras e elas têm de ser cumpridas.


  

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