Após nova ação da PF, governo federal centralizará fiscalização de frigoríficos 07/03/2018
- O Estado de S.Paulo
Na esteira a esteira da operação Trapaça, que teve como alvo a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, o governo federal vai passar a centralizar a fiscalização de frigoríficos.
Em 2017, a Operação Carne Fraca revelou esquemas de corrupção envolvendo empresas e superintendências estaduais da Agricultura.
Ontem, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, assinou regulamento que redistribui o comando das operações nos Estados para dez unidades do Sistema de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipoa).
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Hoje, ele pretende oficializar as normas desse novo desenho.
A mudança começou a ser gestada no ano passado, após a primeira fase da Carne Fraca, que detectou esquemas de corrupção entre frigoríficos e as superintendências estaduais, grande parte delas de indicação política.
Para reduzir a influência desses superintendentes, a decisão sobre fiscalizações passará a ter mais influência federal.
Essa decisão será detalhada nesta quarta-feira, 7, em balanço que o ministro pretende divulgar sobre as medidas para melhorar a produção dos frigoríficos e a fiscalização após a Carne Fraca.
Na noite de ontem, técnicos passaram um pente-fino nos dados, pois Maggi quer ter certeza que sua equipe apertou os controles.
A intenção é traçar uma linha divisória entre a inspeção sanitária antes e depois da Carne Fraca.
Após o escândalo do ano passado, disse o ministro, os frigoríficos envolvidos ficaram sob estrita vigilância.
“Subimos muito a régua. Com isso, a ocorrência de salmonelas nocivas em carnes de aves exportadas devem ser apenas ‘episódios'”, explicou Maggi.
ELOGIOS
A BRF, que foi o alvo da operação Trapaça, deflagrada anteontem, vinha melhorando processos, segundo o ministro.
As notificações de ocorrência de salmonelas por países importadores registravam queda.
“É quase um castigo para quem deveria receber um prêmio por ter feito a lição de casa”, disse.
Maggi lembrou que, até agora, Europa e Hong Kong pediram informações adicionais, o que ele considera natural.
Maggi disse acreditar que não haverá fechamento de mercados à carne brasileira, ao contrário do que ocorreu na Carne Fraca.
No momento, três unidades da BRF estão com as exportações suspensas para 12 mercados.
O presidente global da BRF, José Aurélio Drummond, se reuniu ontem por duas horas, com Blairo Maggi, em Brasília.
“Tivemos uma conversa técnica bastante importante para esclarecer os eventos”, afirmou o executivo, que disse não estar preocupado com eventuais impactos financeiros à companhia.
O mercado financeiro, no entanto, voltou a castigar a BRF.
Após perder 19,75% na segunda-feira, a ação da BRF caiu 2,46% ontem, para R$ 24,14.
O valor de mercado da companhia encolheu em R$ 500 milhões, para R$ 19,6 bilhões.
Além disso, bancos anunciaram ontem o rebaixamento da avaliação da trajetória futura dos papéis da empresa.
Enquanto Drummond nega que a investigação da PF vá trazer prejuízos à empresa, o banco BTG Pactual frisou que o impacto na geração de caixa da companhia deve ser de R$ 400 milhões.
“No ano passado, a BRF registrou perda de R$ 363 milhões associada a custos relacionados à Carne Fraca, e isso ocorreu depois de terem uma planta suspensa”, analisou o banco.
Eles lembraram que, desta vez, a operação suspendeu três plantas.
AVICULTORES
Embora o mercado descarte risco para todo o setor, o coordenador da GV Agro e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que os avicultores, elo mais frágil da cadeia, correm riscos.
Ao contrário da indústria frigorífica, que pode estocar o produto, o fornecedor de matéria-prima não tem como fazer o mesmo.
O presidente da Associação dos Granjeiros Integrados do Estado de Goiás (Agigo), Marcelo Cunha, diz que os produtores filiados à entidade que fornecem à BRF não receberam notificação de alterações nas compras em decorrência da suspensão de exportações em duas unidades goianas.